Na calma de uma lua do Xingu
Debaixo do mistério do Equador
A história que um Cacique me contou
Sozinho numa rua de Paris
O brilho aventureiro de um olhar
Espíritos ciganos, todos nós
O sol em Nova Deli de manhã
É o mesmo que ilumina Amsterdan
E brilha nas trincheiras do Irã
No frio solitário de um Iglu
O abraço companheiro de um amigo Esquimó
E na verdade nunca estamos sós
O povo do planeta somos nós
Meninas lindas do Afeganistão
Crianças numa praia do Japão
O Tai-Chi nas praças de Pequim
Chorando o coração da África
Na vibração dos filhos de Xangô
Cantando a esperança e não a dor
No fundo todos Deuses são iguais
As línguas e as religiões
Se encontram no bater dos corações
O povo do planeta somos nós
Vivendo juntos mais uma vez
E na verdade nunca estamos sós
No fundo todos homens são iguais
Recentemente, trocando novidades históricas musicais sobre Claudio Nucci com meu amigo Túlio Villaça, resolvi contar-lhe uma história sobre o cantor e compositor que acompanhei e presenciei a partir de uma apresentação sua. A história fonográfica do Nucci, apesar de belíssima, é mesmo difícil.
Lá pelo início dos anos 90, se não me engano, no ano de 91, meu amigo Luiz Claudio, músico guitarrista, me convidou para ver um show dele na sala Sidney Miller. Era o lançamento de um novo trabalho, mas que por falta de patrocínio estava sendo vendido em fita K7 com o nome "Enquanto isso..." (naturalmente, porque enquanto o disco não saísse, o K7 resolvia). Não me lembro se nessa época o CD já era comum. Pois bem, comprei o K7. Resolveu mesmo. A obra é lindíssima, com Sapato Velho, uma música linda sobre o bairro de Santa Tereza (Manhã de Santa de Tereza) e outras pérolas. Sem contar a turma de primeira que o acompanhava, entre os quais Áurea Regina, Jaques Morelenbaüm, Mu Carvalho e por aí vai.
Mais tarde, no programa Jazz+Jazz da rádio Globo Fm, no qual se apresentava a Banda Zil, grupo do qual fazia parte, Nucci falou que o disco ainda estava por sair e se chamaria "Luz e Breu", mas acredito que não saiu mesmo. Aliás, um parêntese: (será preciso uma nova postagem somente pra falar da Banda Zil. Um cometa brilhante e magnífico que passou rapidamente por nós e não mais voltou). Mas, isso é uma outra boa história.
Depois de algum tempo, emprestei o K7 a uma amiga que ficou encantada e demorava em me devolver. Fiquei aflito, com medo de perdê-lo. Como já havia acontecido com outros discos e livros (histórias comuns a muitas pessoas). Insisti que era uma raridade e que eu o queria de volta. Pois bem: ela me fez o favor de me devolver e ainda por cima me presenteou com um CD, que um amigo dela produzira a partir do K7. Importante frisar que nesse tempo esse tipo de transcrição ainda não era comum. Pouca gente fazia esse trabalho e ainda era caro. Logo, desde então, tenho a obra também em CD.
Essa e outras tantas histórias semelhantes são histórias de paixão e reverência pela música de qualidade e que nos sensibiliza de modo indelével!
Capa simples, improvisada para o CD com mensagem carinhosa de minha amiga Sonia Regina, da qual me lembro sempre, principalmente, enquanto ouço Claudio Nucci.
Quero falar um pouco desse disco importante da carreira desses dois artistas fantásticos que são Claudio Nucci e Zé Renato. Encontrei-o num canto meio escondido e empoeirado. Fazia muito tempo que não o escutava. Houve um tempo em que ouvi tanto esse disco que acredito por isso tenha dado um tempo dele. Mas, voltando agora a ouví-lo, depois de um longo período, é como reviver um tempo muito bom, quando se tem vinte e poucos anos.
O disco de interessante sucesso, devido a música título que fez parte da trilha sonora da novela, de enorme sucesso, "Roque Santeiro", é na verdade recheado de melodias e letras de extrema sensibilidade e poesia. Isso não toca no rádio, muito menos em novelas engraçadas das oito!
Quando o Claudio Nucci saiu do grupo Boca Livre, logo após o primeiro disco de 1979 (e olha que esse primeiro disco é uma obra-prima), fiquei pensando o porquê. Ele era uma figura marcante. Talvez a mais marcante entre as outras figuras fantásticas. Pensei: que desprendimento! O segundo, o terceiro e os demais discos do grupo foram maravilhosos também e o Nucci não estava mais lá. No entanto, os primeiros discos solos dele, embora continuassem a não vender muito, também foram igualmente maravilhosos. Sua amizade com o parceiro Zé Renato (talvez a voz masculina mais bela e afinada da nossa música atual) já contava de antes ainda do Boca e eu acho que bateu uma saudade de cantar juntos, uma vontade de um reencontro. Dessa saudade e dessa vontade, surgiu esse trabalho em 1984. Maravilha para os que gostam da boa música que não se descarta. Pode, no máximo ficar no armário por um tempo, mas depois volta com toda vitalidade que lhe é própria.
1 Pelo sim, pelo não Claudio Nucci / Juca Filho / Zé Renato
2 Paino Claudio Nucci
3 Toda luz Zé Renato / Juca Filho
4 Papo de passarim Zé Renato / Xico Chaves
5 Atravessando a cidade Juca Filho
6 A hora e a vez Claudio Nucci / Ronaldo Bastos / Zé Renato
7 Quinhentas mais (Five Hundred Miles) H West / tradução Marcio Borges
H. West 8 Macondo Zé Renato / Xico Chaves
9 Mel da ilha Maurício Maestro / Claudio Nucci / Ronaldo Bastos / Zé Renato
10 Manágua Xico Chaves / Claudio Nucci
11 De nós Bizet / domínio público / adaptação Claudio Nucci
Resolvi criar alguns vídeos desse disco e disponibilizá-los no Youtube, pois só encontrava o "Pelo sim pelo não" da tão famosa novela global.
Em visita à exposição "Mulheres negras em diásporas" do fotógrafo Januário Garcia, na qual o artista nos mostra várias imagens de mulheres negras de vários países da América Latina, como Argentina, Peru, Venezuela entre outros, resolvi fotografar a mim mesmo junto a esta foto que considero emblemática em toda a obra de Januário. Ele mesmo já me confidenciou o seu apreço por essa imagem. Do resultado do meu registro me veio esses contrastes que resolvi listar nessa minha homenagem ao amigo Janu.
O filme de Elia Kazan de 1952*, que traz Marlon Brando no auge de sua juventude e o já experiente e fabuloso Anthony Quinn é um clássico do cinema mundial. Kazan se uniu ao roteirista John Steinbeck para juntos contar a história da revolução mexicana a partir de um dos seus mais importantes líderes: Emiliano Zapata. A produção hollywoodiana da Twentieth Century Fox apresenta um conjunto de elementos que possibilita uma análise bem abrangente. O filme é bom! Indiscutivelmente, é muito bom, tendo recebido quatro indicações ao Oscar: melhor Ator (Marlon Brando); melhor Direção de Arte, melhor Trilha Sonora e melhor Ator Coadjuvante (Anthony Quinn), este último, o único premiado.
O filme
O longa conta a história de Emiliano Zapata, líder revolucionário, que revoltado com as arbitrariedades cometidas pelos grandes proprietários de terras, resolve reagir, liderando os camponeses pela recuperação das suas terras, que haviam sido tomadas por esses grandes fazendeiros com o apoio do presidente Porfírio Diaz, há mais de trinta anos no poder.
Zapata é convocado por Madero, candidato derrotado à presidência e que estava exilado nos EUA, para liderar os camponeses ao sul. Assim, acreditava que com ele ao norte e Zapata ao sul conseguiriam recuperar a democracia. O problema é que Zapata estava preocupado apenas com a devolução das terras para os agricultores. Os dois conseguem derrubar Porfírio Diaz, que foge para os EUA, mas não sem evitar a morte de muitos camponeses. Madero, por sua vez, é vítima de um golpe, articulado pelo general Victoriano Huerta, que mantém a situação como no governo de Diaz.
Enfim, após a união com Pancho Villa, os rebeldes conseguem derrotar Huerta e então, Zapata, contra sua vontade, assume a presidência. Porém, quando vê que a situação começa a se repetir como antes, desiste do cargo e volta às montanhas para o combate. Ao fim, acaba morto numa emboscada, traído por Aguirre. Seu corpo é exposto em praça pública, mas imediatamente os camponeses que o encontram decidem que vão acreditar que seu herói ainda vive nas montanhas e que sempre que for preciso ele retornará.
A crítica
Se pudéssemos somente deter-nos na trama e no entretenimento (e isso é possível), deixando de lado análises mais sofisticadas de ordem estética ou histórica, o filme, ainda assim, se revelaria de alta qualidade. No entanto, um clássico não se faz apenas do entretenimento. “Viva Zapata!” é o resultado da conjunção de fatores importantes que o torna o que é: a direção e a produção, os atores, a história contada (a revolução mexicana), a época da produção e seu contexto político, etc.
O diretor Elia Kazan, reconhecido por sua genialidade artística, mas também por sua participação na política de delação** dos comunistas na “’era macartista”, já era um premiado diretor, tendo dirijo Brando em “Uma rua chamada pecado”. Esta produção, adaptada da peça de Tennessee Williams, “Um bonde chamado desejo”, de 1947, ganhou o prêmio especial do júri do Festival de Veneza em 1951. O diretor voltaria a juntar-se ao ator em “Sindicato de ladrões” de 1954, tendo recebido por este trabalho o Oscar de melhor direção. Sua experiência teatral certamente contribuiu para a forte dramaticidade do filme, assim como em sua estética visual. As cenas finais que mostram sua morte demonstram bem esses aspectos: o silêncio mórbido do momento; as mulheres beatas, rezando seus terços tendo por detrás a sombra de uma cruz na parede; os closes do cavalo agitado, como que pressentindo o que estava por ocorrer; as mulheres encaminhando-se para o corpo morto de Zapata, na praça; a decisão de torná-lo imortal, naquele momento, pelos camponeses. Tudo isso é bem marcante e profundo.
O filme apresenta um Marlon Brando após o grande sucesso de “Uma rua chamada pecado”, no qual se tornara um símbolo sexual. O galã empresta toda sua elegância e beleza a um personagem rural e rude. A intenção de Kazan, segundo alguns críticos, era a de opor, a partir de um contexto da “Guerra Fria” dos anos 1950, o ideal democrático norte-americano e o comunismo soviético. Neste caso, “Zapata era o representante da bondade e da luta honesta, e Fernando Aguirre, traidor e manipulador”.
No caso de Andréa de Fazio***, seu trabalho, “Viva Zapata!, de Elia Kazan: um olhar norte-americano sobre a América Latina durante o período macartista (1950-1954)” propõe “uma análise sobre as formas que os Estados Unidos vêem o México, e de forma mais abrangente, a América Latina, através das visões, imagens e representações construídas pelo filme Viva Zapata!”.
De certo modo, as questões políticas dos anos pós Segunda Guerra influenciaram bastante as produções desta época, assim como suas análises críticas as quais foram objetos.
Em 1999, a Academia de Hollywood concedeu a Kazan o Oscar honorário pelo conjunto da obra. Esta decisão gerou protestos de vários artistas que se opuseram a homenagem.
Teses e protestos à parte, a genialidade de Kazan, ainda que represente uma figura contraditória, se mostra a toda prova.
**] Elia Kazan, o delator. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2003/09/29/000.htm
***De FAZIO, Andréa Helena Puydinger. Viva Zapata!, de Elia Kazan: um olhar norte-americano sobre a América Latina durante o período macartista (1950-1954). Disponível em: http://www.anphlac.org/ periodicos/anais/encontro8/andrea_fazio.pdf
Dá-me a mim
Tua certeza
Tua paisagem
Teu deslumbramento
Tua candeia
Teu rumo achado
em meu caso perdido?
Dá-me teus olhos
Tua visão desperta
Teu hino de vida
Tua história contada
Teu relato incontido?
Pra mim o teu vínculo
o achado o perdido
esse verde em azul diluído
e a mata onde se pisa
e a água que bebo com o corpo
e o copo
que me ofereces,amigo...
Para mim,amigo?
(Pergunto altaneira
vestida de orgulho e paixão...)
Paraty,me perdoa,não sei até hoje,como vivi e amei sem ti!!!
Por Cida Barreiros em 14/02/2011
Poema-comentário sobre o poema Para Paraty deste mesmo blog.
Rebento, substantivo abstrato
O ato, a criação, o seu momento
Como uma estrela nova e o seu barato
Que só Deus sabe lá no firmamento
Rebento, tudo que nasce é rebento
Tudo que brota, que vinga, que medra
Rebento raro como flor na pedra
Rebento farto como trigo ao vento
Outras vezes rebento simplesmente
No presente do indicativo
Como a corrente de um cão furioso
Como as mãos de um lavrador ativo
Às vezes mesmo perigosamente
Como acidente em forno radioativo
Às vezes, só porque fico nervoso
Às vezes, somente porque eu estou vivo
Rebento, a reação imediata
A cada sensação de abatimento
Rebento, o coração dizendo: "Bata"
A cada bofetão do sofrimento
Rebento, esse trovão dentro da mata
E a imensidão do som
E a imensidão do som
E a imensidão do som desse momento
As chaves fecham e abrem o livre desejar,
As cortinas sabem de desejos
que eu nunca pensei em contar.
Livros da estante acusam de não terem sido lidos,
As gavetas denunciam passados mantidos,
O guarda-roupa me alerta que há sentimentos a serem vestidos.
No banho, a água me bebe
E percebe
A agonia de problemas não resolvidos,
O fogão aquece sonhos perdidos,
A geladeira mantém pensamentos esquecidos.
Nos lençóis, repousam milagres abandonados,
O alarme desperta medos silenciados.
Os cd's entoam a voz da consciência,
O sofá senta as decisões com veemência.
Sob a mesa, estão contas vencidas de um futuro incerto
As janelas refletem a sombra do amor, que de perto,
Clama a paixão prometida.
A porta vigia a busca da solução, da melhor saída.
O ventilador refresca idéias inutilizadas,
A tv apresenta vontades acabadas.
O rádio narra notícias distantes do vizinho ao lado
A cama inflama e procura o corpo do amado.
Um carro de boi dourado
Surgiu na estrada gemendo
Gemendo doce gemido
Vozes vêm seguindo som
Bois elegantes puxando
Rodas de luzes piscando
Um carro de boi neon
Um carro de boi neon
Um carro de boi neon
Um carro de boi dourado
Florescente, iluminado,
Trazendo Touro Sentado,
Sentado ao lado de Tron
Buda sorrindo calado,
Admirando o machado
Empunhado por Xangô
Os anjos celestiais
Os campeões mundiais
Nobres de Roma e de Atenas
Escravas louras, morenas
Todos desfilando atrás
Soldados, sábios, mucamas
Alfarrábios, fliperamas
Tudo desfilando atrás
Atrás do carro de boi
Atrás do carro de boi
Como na escola de samba
O bamba e o super-herói
Como na escola de samba
O bamba e o super-herói
Um carro de boi dourado
Passou na estrada gemendo
Trazendo os deuses e o som
Um carro de boi neon
Um carro de boi neon
Ê, ô,
Neon, ê ô (BIS)
Primeiro cruzamos caminhos
Corremos o verde do tempo
Pisamos o chão como índios
Nascemos do mesmo luar
E, então inventamos o futuro
Juramos a cumplicidade
E só essa lei nos regia
Até que a viola chegou.
O som possuiu nossos corpos
O canto partiu em viagens
Até onde a gente nem pode pensar
Falamos de amor, e outras rimas
Crescemos somando outras cores
Vibramos tanta lealdade
Que o inferno até se assustou.
De fato, teimosos que somos
Partimos direto pra briga
Não houve desfeita ou intriga
Que nos confundisse a razão
E cruzamos novos companheiros
De letra, de som e de crença
Retrato, pincel e de dança
De tudo que a arte criou.
O manto cobriu nossos corpos
E o canto partiu em viagens
Até onde a gente queria alcançar
Falando de amor e outras rimas
Contamos com a força de muitos
Colocando voz nesses olhos
Que chegam pra nos encantar.
E as vozes se tornaram tantas
Que não há mais palco e platéia
A gente que canta conosco
É o presente que deus nos legou
É parceiro
A gente que canta conosco
É a resposta que a vida mandou.
(do poeta Jatobá) Cipó caboclo tá subindo na virola
Chegou a hora do pinheiro balançar
Sentir o cheiro do mato da imburana
Descansar morrer de sono na sombra da barriguda
De nada vale tanto esforço do meu canto
Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar
Tal mata Atlântica e a próxima Amazônica
Arvoredos seculares impossível replantar
Que triste sina teve cedro nosso primo
Desde de menino que eu nem gosto de falar
Depois de tanto sofrimento seu destino
Virou tamborete mesa cadeira balcão de bar
Quem por acaso ouviu falar da sucupira
Parece até mentira que o jacarandá
Antes de virar poltrona porta armário
Mora no dicionário vida eterna milenar
Quem hoje é vivo corre perigo
E os inimigos do verde da sombra, o ar
Que se respira e a clorofila
Das matas virgens destruídas vão lembrar
Que quando chegar a hora
É certo que não demora
Não chame Nossa Senhora
Só quem pode nos salvar é
Gravada por Xangai no antológico LP "Cantoria", de 1984, no qual dividia o palco com Geraldo Azevedo, Vital Farias e Elomar. Um verdadeiro hino de defesa das matas brasileiras.
Além da festa de comemoração, aniversário é também uma oportunidade de olhar para trás e rever aquilo que foi feito de bom. Sendo assim, farei um apanhado do que achei mais relevante neste tempo. Criei o blog e postei meu primeiro texto: Eu e o meu nome. Este inaugura o blog explicando, através da história do meu nome, o próprio nome do blog. Esse texto acabou por nortear uma linha ou um estilo para os outros tantos que vieram. Queria escrever sobre tudo que gosto. Gosto muito da música. Aliás, amo a música. Porém, não queria também me deter somente num assunto, se não teria que criar vários blogs. Gosto também da poesia, da literatura, das artes de um modo geral. Gosto da política, da história, da filosofia etc. De certo modo, o primeiro texto me trouxe o gosto pelas histórias contadas de memória. Aquelas ligadas geralmente à infância e ao meu gosto pela música, pelo canto.
Uma em especial conta a primeira audição que tive de Milton Nascimento numa sala de aula na 7ª série do ginasial. Foi uma experiência e tanto: A capa do Milton. Outra que gosto muito e conta uma história bem marcante de uma idade bem tenra, é O pequeno cantor. Outra ainda é Boas lembranças, misto de poesia e memórias, inspirado em poesia de minha amiga Eliana. Gostei muito de tê-la criado. Escrevo pouco poesias, mas gosto e acho que levo jeito. Memória musical e Lembranças de um festival, trazem a música de um tempo escolar e juvenil. Um verdadeiro recorte de um tempo dos anos 70.
Outros de minha preferência e bem lidos são os textos sobre obras e vultos que me são caros, como os textos sobre o futebol do Chico Buarque e a Transa de Caetano, os DVDs de Vanessa da Mata e de Roberta Sá, assim como o maravilhoso livro de Marcio Borges, o poeta do Clube da Esquina. A resenha sobre o belo livro de poesias Retrós de Eliana Pichinine, também marcou bastante.
É isso aí, muita música, histórias, poesias e reflexões sobre a vida nessas mais de dez mil visitas e mais de 80 postagens. Nem dá pra falar de todas as postagens. O melhor de tudo são os comentários inteligentes e bem-vindos dos amigos que proporcionam um debate bem acalorado, inspirado e envolvente e que por muitas vezes resultam em outros temas e textos.
Quero agradecer imensamente a participação de todos que visitam esse espaço amigo, principalmente os que deixam aqui seus comentários que ajudam a construir a história desse blog. A todos, meu muito obrigado e um abraço fraterno do Chico Furriel de Assis.
Esse texto foi escrito em 15 de setembro de 2004. Portanto, de algum modo ele é datado, pois fala de algumas situações que são passageiras, como por exemplo do governo Bush e da Guerra do Iraque que já acabaram. No entanto, o tema ainda é muito presente e nos leva a reflexões bastantes profundas sobre liberdades, democracias, fundamentalismos religiosos, tolerância com as alteridades, geopolítica etc. O episódio do ataque e destruíção das torres gêmeas do World Trade Center inaugura um tempo novo na contemporaneidade. Esses novos desafios temáticos e o poder de acesso que o público tem, graças às tecnologias como a da internet, possibilitarão um debate cada vez mais abrangente e rico. No que vai dar isso? Quem viver, verá.
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O Obstinado Michael Moore e seu libelo anti-Bush
Assistir ao filme Fahrenheit 9/11, vencedor da Palma de Ouro, em Cannes, como melhor filme de 2004 é fundamental, mas, sobretudo, escrever, ler e discuti-lo é importante e necessário, visto a gravidade do assunto do qual se trata. O filme de Michael Moore é um documentário que tem nas suas imagens o seu ponto forte. O filme é objetivo e seu autor deixa claro o seu intuito principal: o desmascaro do Presidente americano George W. Bush e de sua base. O cineasta acompanha a trajetória de Bush, desde sua controversa eleição em 2000, passando pela tragédia das “torres gêmeas”, pela invasão e guerra no Afeganistão e, finalmente, a guerra no Iraque, que ainda não se sabe o desfecho que terá.
Michael Moore é, antes de tudo, um obstinado, um ativista que tem como missão principal no momento tirar o Presidente Bush do poder. Moore é um crítico ferrenho das políticas conservadoras de Bush e seu partido republicano. Popular em seu país por seus livros polêmicos e bem vendidos; por seu documentário anterior, Tiros em Columbine, vencedor do Oscar de 2003, e, agora no mundo todo, por seu grande sucesso de extraordinária bilheteria, sabe que, apesar disso, é muito criticado pelos quais antagoniza e também pela chamada “esquerda intelectual americana” que não gosta de seu “humor bobo”. No entanto, não se aborrece com isso e diz que o que importa mesmo é ser ouvido e visto por um maior número possível de pessoas.
De fato, o cineasta utiliza-se de vários recursos cinematográficos na realização de seu trabalho. Seu filme tem uma grande dose de ironia (às vezes com um certo humor), quando mostra o presidente se divertindo, durante os seus 42% de férias de seus primeiros oito meses de gestão; é duro com seus desafetos quando, por exemplo, propõe à alguns dos senadores que alistem seus filhos nas forças armadas para servirem à pátria, no Iraque; é forte nas imagens nas quais mostra a dor das famílias enlutadas e, principalmente, nas cenas da guerra.
Fahrenheit 9/11 denuncia uma vontade implicitamente “totalitária” do governo Bush. Implicitamente porque este não se admite assim; totalitária porque toma decisões arbitrárias a despeito das convenções internacionais e também porque força uma ideologia do medo: Ataquemos primeiro, pois seremos atacados, com certeza. A ideologia da guerra contra o terror que faz com que os próprios americanos vivam sob o domínio do medo paranóico, além do medo real do terror, num estado de alerta constante.
Um dado curioso do filme é a questão das fontes de informações. Como Michael Moore consegue acesso a tantos documentos confidenciais e a tantas provas? Como consegue estar tão próximo de tudo e de todos em tantos lugares diferentes? Seja como for, seu esforço é realmente enorme e admirável. As ligações empresariais entre americanos e árabes, como as das famílias Bush e Bin Laden, são desconsertantes. Os negócios feitos e os pretendidos nas regiões de conflito, principalmente depois do incidente do World Trade Center, são colocados em cheque como justificativas reais, não declaradas, para as guerras.
Moore presta um serviço muito importante como uma voz que se levanta para denunciar os desmandos do “império americano” e nos alerta para esta realidade nova e séria, que diz respeito a todos nós que vivemos neste planeta. Ele vai direto ao assunto. Não teme retaliações e enfrenta seus desafetos atingindo-os em seus pontos fracos. Não se utiliza de meias palavras, nem de subjetividade.
O horror produzido pela guerra, onde civis inocentes e indefesos, assim como soldados que não pediram para matar ou morrer, é algo de difícil descrição. Entre muitas coisas que o filme mostra, o mais importante é promover em quem assiste, o entendimento do quanto a guerra é estúpida. O filme nos leva a refletir sobre o grande mal da guerra e da necessidade de acabar de vez com ela. O Problema é que Bush a adora.
O Blog do Chico comemora o marco das dez mil visitas. Não sei exatamente o que seja um número expressivo de visitas a um blog, mas acredito que o número de 10.000 seja um número importante. Neste quase um ano de criação (27/09), foram publicados textos sempre ligados à cultura e à reflexão de temas importantes como história, política, poesia, música, filosofia, memórias etc. Neste tempo, além do número de visitantes comemorado, foram mais de 80 postagens e mais de 300 comentários. O blog foi visto por mais de dez países espalhados pelas Américas, Europa e Ásia. É o Blog do Chico ganhando mundo!
Gostaria de deixar aqui o meu agradecimento àqueles que seguem o blog e que comentam os textos, participando da reflexão que tão calorosamente enriquece o debate. Todos são sempre bem-vindos!
"Sobre a Canção" é o blog de Túlio Villaça que trata da resenha nossa (musical) de cada dia. Com muita propriedade e muita competência, Túlio nos brinda com seus textos cheios de informações e muito bem escritos. Sem mostrar qualquer tipo de limite por predileção, o autor fala de quase todos os tipos e ritmos musicais, não somente da música brasileira como também da música estrangeira. Obviamente, essa escolha, "coincidentemente", passa pelo bom gosto de alguém que sabe do que fala.
Front Page do blog
Há um bom tempo não encontrava prazer em acompanhar algo, que não é bem um seriado, mas que promete sempre um capítulo novo de deleite histórico-técnico-musical. Espero a cada texto do Túlio essa fala fluente e especializada. Pra quem gosta de musica e tudo aquilo que a torna completa (bastidores, histórias, músicos, análises críticas, letra, melodia, artistas etc.), não pode deixar de conferir este espaço muito bacana. Fica a dica: Túlio Villaça no "Sobre a Canção"!
O que leva o poder público a deixar que acidentes tão graves como o do último dia 27 do Bondinho de Santa Tereza aconteçam? O acidente que matou cinco pessoas e feriu outras 57 era um acidente anunciado. Infelizmente, como sempre acontece, nada foi feito quando há bem pouco tempo, um rapaz (turista francês) caiu do bonde bem no trecho dos arcos da Lapa. Se a grade de proteção que cerca os trilhos naquele ponto estivesse bem presa à estrutura dos arcos, provavelmente o passageiro não tivesse morrido. Se os bondes que fazem esse serviço fossem na sua totalidade reformados e vistoriados constantemente pelos seus responsáveis, o lamentável acidente do dia 27 e outros tantos não teriam ocorrido.
Dizer que é cultural o fato da população andar apinhada, se pendurando no bonde é tentar, como sempre, transferir a responsabilidade para o povo que é a maior vítima. Cultural, no mau sentido, é o descaso com que as autoridades teimam em insistir nas suas práticas de governo. O que é do povo e para o povo pouco importa, ainda que seja um meio de transporte que traduz a alma carioca. O nosso cartão-postal histórico e cultural não pode ficar nas mãos de incompetentes que governam a nossa cidade. É compreensível que erremos, votando em políticos inábeis que nos enganam, prometendo mundos e fundos. É nosso direito errar. Porém, é nosso dever também, uma vez ciente desse erro, mudar esse estado de coisas. Nas próximas eleições vamos dar a nossa resposta.
Há alguns meses, escrevi neste mesmo espaço um pequeno artigo intitulado "O bonde da história", contando um pouco da história do bonde em nossa cidade. Nele, cito a influência desse meio de transporte na literatura e na música. Na poesia de “E o 56 não veio...” de Wilson Batista e Haroldo Lobo, o romantismo do personagem apaixonado, à espera da amada que não chega, supõe que o bonde, no qual ela costumava vir, não veio porque, ou ela se zangou ou o bonde descarrilou. Infelizmente, este artigo não é poético, mas dramático porque traz uma realidade que a poesia não supõe. Naquele dia 27 de Agosto, algumas pessoas esperaram seus pares que não chegaram porque o Bondinho de Santa Tereza, nosso querido e histórico bonde descarrilou!
É possível fazer várias abordagens sobre uma obra, ainda mais se ela for uma ótima obra como é o disco ao vivo de Roberta Sá. Pode-se falar da beleza do trabalho apontando a linda voz do artista, o apuro da gravação, a elaboração dos arranjos, a técnica dos músicos, a escolha do repertório etc. De certo modo, falarei um pouco disso, porém focando aquilo que mais me chamou a atenção que é a sonoridade que dá uma atmosfera especial ao trabalho. Aliás, essa tal de atmosfera sempre me prende mesmo, pois pra mim revela a intenção do autor.
Em “Pra ser ter alegria” (disco gravado em abril de 2009, a partir do show (DVD) de mesmo nome), tem-se a forte impressão que a cantora presta uma homenagem à música dos anos 70, sobretudo ao samba. De cara, o disco abre com a música “Pedido”, de Junio Barreto e Jam da Silva, cujo arranjo lembra as raízes ibéricas as quais somos também herdeiros. No DVD essa abertura é bem marcante pela cena de palco que traz a cantora com um vestido carmim, movimentando apenas os braços. O efeito funcionou bem. A segunda música, “Alô Fevereiro”, de autoria de Sidney Miller, é um samba gostoso gravado anteriormente por Dóris Monteiro em 1972. Portanto dois clássicos: autor e cantora. Roberta começa bem a sua homenagem e sua deferência a um tempo. Lembro-me de ter escutado bastante esse samba nos anos 70 na voz da vascaína roxa, Dóris.
A sensação de estar ouvindo coisas que remetem àquele tempo e ao som do início daquela década continua na série de sambas de ritmos marcados como os típicos sambas de roda, gênero que os sambistas do final dos 60 e início dos 70 resgataram. Pode-se imaginar uma roda de samba, num terreiro e a marcação feita pela palma da mão, como eram caracterizados os sambas do início do século XX. Segue-se então a ótima “Interessa?”, de Carvalhinho e “Mais alguém”, da dupla Moreno Veloso e Quito Ribeiro. A primeira, de ritmo bem forte é muito boa e nos convida a dançar, enquanto a segunda, mais cadenciada, também chama atenção pela beleza. Esta última, por sinal, tocou bem nas rádios. Mais pra frente, encontramos a deliciosa “Ah, se eu vou”, de Lula Queiroga, “Girando na renda”, de seu “maior parceiro” Pedro Luís, Sergio Paes e Flávio Guimarães e “Laranjeira”, de Roque Ferreira. Todas, claramente, de fortes influências de um tempo que se quer homenagear. É difícil detalhar mais profundamente o que se deseja observar quanto a sonoridade, pois o próprio som revela melhor esse detalhe do que as palavras. As composições são bastante semelhantes às que se faziam naquela época. Mesmo a impostação de voz e a postura de Roberta (que embora seja bem jovem, canta como uma diva do samba) revelam seu gosto e sua admiração por sambas desse tipo.
Outro samba que lembra bem os clássicos é “Agora sim”, de autoria da própria cantora com Pedro Luís e Carlos Rennó. Um sambão pra lá de bom, como os sambas dos grupos de velha-guarda. O disco ainda traz outras ótimas músicas, entre as quais “Pelas tabelas” (esta dos anos 80) de Chico Buarque, outro craque já citado outras vezes neste blog.
Pra fechar com chave-de-ouro, outra composição do seu “maior parceiro” e porque não dizer, marido, Pedro Luís (da Parede e do Monobloco): “No braseiro”. Esta música foi a que mais me chamou a atenção quanto as referências nela contidas e percebidas. A primeira referência remete ao samba “De frente pro crime”, da dupla João Bosco e Aldir Blanc. Na música, a frase “Tão vendendo ingresso pra ver nêgo morrer no osso/ Vou fechar a janela pra ver se não ouço as mazelas dos outros” lembra ou quase explica a história da música de Bosco e Blanc que diz “Olhei o corpo no chão e fechei minha janela de frente pro crime”. A ideia de vender ingresso pra ver as desgraças é uma ideia contida na música da dupla também. Nela, os autores mencionam a prática popular bem típica do povo que é a de tirar proveito das aglomerações. Diante de todos que se juntam para ver o corpo morto, chegam camelô vendendo anel, cordão e outras coisas mais; baianas vendendo pastéis, sem contar políticos que se aproveitam para discursarem. Em "No braseiro", até na parte declamada, a cantora homenageia vários artistas, citando músicas dos anos 70, como "Disritmia" de Martinho da Vila, "Questão de posse" de Luiz Melodia, "Tatuagem" de Chico Buarque entre outros. Exceto "Irene", de Caettano Veloso e "Na cadência do samba", de Ataulfo Alves e Paulo Gesta da década anterior, todas as outras menções são dos anos 70.
A música ainda fecha com uma outra coincidência, que acredito seja outra homenagem, o vocalize final “ÔOOOÓ ÔÓOOOOO” lembra muito o mesmo vocalize de Clara Nunes no final do “Canto das três raças”. O mesmo canto em tom menor, típico dos cantos de lamento. Com mesma divisão e semelhante construção. Conhecendo a admiração da menina pela musa "Guerreira", é bem capaz de ser verdade.
Essas observações, longe de menosprezar o trabalho, dão o caráter de homenagem a um tempo importante e a uma sonoridade que ao passo que é histórica, permanece atual. O disco é muito bom e muito bem feito. Roberta Sá tem uma voz potente e bela. Sua presença de palco também é bastante interessante para o seu pouco tempo de estrada.
É o novo olhando para trás e repaginando com muita competência o samba tradicional, modernizando um estilo que não envelhece nunca.
Hoje não vou querer fazer nada mais
Quero chegar em casa
beijar meus amores
retirar minhas roupas
todas, por dentro e por fora
me ver nu
me reconhecer e saber se sou eu mesmo – porque às vezes me esqueço no trabalho...
colocar aquela camisa furada, que é quase minha pele...
beber um copo d’água pura
calçar meus chinelos...
e não pensar em nada, nada, nada mais...
O mundo atualmente vive uma explosão de novas tecnologias de informação e comunicação. A todo o momento temos a divulgação de novos aparelhos, novos instrumentos e novos formatos de distribuição da informação que supera a todas as outras antes utilizadas. Estamos conectados virtualmente a lugares e pessoas diversas. Para a geração que nasceu com essas novas tecnologias e vive essas constantes mudanças há uma naturalidade nessas novidades, quando que para gerações anteriores, parecem que as mudanças estão cada vez mais velozes, mal dando para se acostumar e adaptar com determinadas tecnologias, parece que automaticamente já temos outras, a seguir, as ultrapassando.
As redes sociais têm sido a grande base de comunicação entre as pessoas. Entre si elas já mostram suplantações e atualizações constantes, a fim de continuar ativas entre a sociedade virtual, que se mantém em contato com várias pessoas, acompanhando suas vidas e trocando informações num tempo e disponibilidades impossíveis se fossem de forma física, pessoalmente. Logo, o contato físico tem diminuído, transformando assim os relacionamentos pessoais e também profissionais frente à vida. São outros tipos de relacionamentos, formas distintas de contato e de acesso às informações.
A televisão e o rádio foram muitas vezes divinizados pelo alcance das informações, mas também execrados pelo seu poder manipulador, de certa maneira, na vida das pessoas e padronização. A internet, ao contrário, nos possibilita um acesso à informação de modo seletivo. Escolhemos o que queremos saber, seja pelos sites informativos e jornalísticos, seja pelos sites de busca que nos levam ao foco do que procuramos.
São novidades onde a adaptação se mostra importante para a sobrevivência nesse mundo globalizado e interligado virtualmente. No entanto, também devemos criticar essa mesma sociedade online quanto à perda de habilidades que estão desaparecendo. A diminuição do contato físico e a facilidade do encontro de informações estão transformando nossa maneira de viver o mundo e de estar nele. Corremos o risco de nos tornarmos mais duros, insensíveis frente ao outro, aumentando o egoísmo e a invisibilidade do outro em nossas vidas e desejos. A falta de paciência parece estar cada vez mais comum entre as pessoas. Temos lidado com outro de forma a atender nosso íntimo, onde as pessoas estão quase que sendo objetos para a finalização que somos nós apenas. O espetáculo tecnológico tem modificado nossas estruturas de viver socialmente, portanto, se mostra urgente prestarmos atenção para não sermos mais uma das peças desse mecanismo maquinário da vida, em seu formato tecnológico. Somos humanos e essa essência não pode ser esquecida, frente ao mundo do sistema, que tem virado quase que um ser entre nós.