domingo, 5 de dezembro de 2010

A poesia e o homem

Costuma-se dizer que para tudo na vida existe uma razão, uma utilidade. Nada está na natureza por acaso ou “capricho dos deuses”. Tudo contribui para o equilíbrio ecológico e o homem, é claro, se encontra neste contexto.

Uma preocupação toma os curiosos de assalto, levando-os a se questionarem quanto à utilidade de inúmeras coisas ou de seres exóticos, como os animais abissais, ou não tão exóticos, como determinados insetos, por exemplo. Para que servem esses seres estranhos?

No conjunto desse contexto está a explicação para a poesia. Por que existe poesia? Eu avanço um pouco mais na indagação no sentido da arte de um modo geral. Por que existiria a música, a dança, a dramaturgia, a literatura, a pintura? E mais: a pergunta mais audaciosa seria: existiria vida sem poesia e arte em geral? Será que o homem sobreviveria sem as artes, sem a ficção?

Uma vez, numa palestra de um amigo, ouvi sobre a utilidade de muitas coisas que existem e que não sabemos bem a razão. Muitas vezes, achamos que tudo isso poderia não existir e assim facilitar nossas vidas. Ele falou sobre a utilidade da poeira como filtro solar. Nunca passou pela minha cabeça pensar em algo assim, simples, mas correto. De modo geral atribui-se à poeira apenas o incômodo da poluição que ela causa. No entanto, as partículas de poeira suspensas no ar servem de escudo refletor contra os raios solares, evitando assim, que os mesmos incidam diretamente sobre nós humanos, dizimando-nos facilmente. 

Pois é! Com a arte acontece algo parecido. A arte é como a boa poeira que nos protege da aridez do mundo. A vida ao vivo e a cores é extremamente fria, forte, difícil, árida, sofrível e quantos mais adjetivos procurarmos para expressarmos as dificuldades vividas. O homem necessita da abstração, da invenção, da interpretação dessa vida. E esse talento que ele tem de inventar e se reinventar é que o faz sobreviver e às vezes viver um pouco também. Por que não?

O mundo sem o lirismo dos poetas seria insuportável. A força que o homem tem de criar, salvando-o da dor, do tédio e do vazio é o que o faz feliz. Assim como é importante o alimento para o corpo, a poesia o é para a alma. 




13 comentários:

  1. Depois deste texto instigante e esclarecedor, fiquei pensando,imaginando o vento e a poeira juntos e o resultado disso no cotidiano.

    Foi então que pensei: somente um poema poderá corresponder e responder tal indagação.

    O QUE O VENTO NÃO LEVOU

    No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as
    [únicas
    que o vento não conseguiu levar:

    um estribilho antigo
    um carinho no momento preciso
    o folhear de um livro de poemas
    o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

    Mario Quintana (In:A cor do Invisível)

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  2. O Quintana sabe bem das coisas. O essencial, o vento não pode levar. Fica sempre com a gente. Este texto tem a ver com com a aquela história da função libertadora da poesia. Lembra? Obrigado pelo comentário e pela poesia desse mestre.

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  3. Assis, gostei muito do seu texto. Realmente viver sem poesia não dá. Me fascina essa mistura de realidade e ficção. Abraço.

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  4. Valeu Ricardo! Obrigado pelo comentário. Vindo de um artista com seu talento é mais que especial. abraço!

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  5. Essa discussão das coisas que existem e que não entendemos bem a razão é bem interessante. O lance da poeira me surpreendeu. Nunca tinha pensado nisso.
    Viveríamos sem arte? Viveríamos sim. É claro que seríamos outros. Acredito muito no poder da arte, no seu papel transformador, que a arte nos sensibiliza, nos torna humanos, no sentido qdo pensamos em seres racionais e emotivos ao mesmo tempo.

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  6. Katia, muito obrigado por sua contribuição, participando com seus comentários. Você é muito querida e sua opinião é sempre bem-vinda! Bjs.

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  7. Estarei mais presente nesse espaço. Vai se acostumando... rs

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  8. Será uma honra a presença de uma historiadora querida, cuja formação acompanhei. Espero que inspire-me ainda mais! Bjs.

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  9. Francisco:
    Gostei muito do seu texto. Muito bom. Realmente as coisas boas o vento não leva. A poesia que a Eliane postou foi super pertinente. O que seria de nós sem a poesia, sem as artes. Como seria árido.
    Parabéns pelo texto.
    Sonia

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  10. Gostei muitíssimo! E aqui uma pergunta que surgiu em meus pensamentos enquanto lia o texto. A arte a serviço dos homens ou o homem a serviço das artes?

    abraço

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  11. Oi Tati!

    Legal que tenha gostado e que tenha refletido sobre o assunto. Eu tenho uma resposta pra essa sua pergunta. Ela lembra outras semelhantes como "Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galina?" ou "Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?"

    Só que pra mim, essa questão sua é bem mais clara e definitiva. A arte sempre estará a serviço do homem, visto que este é criação divina. É a razão de ser da humanidade. É o indivíduo formador dessa humanidade. A arte é criação do homem, ainda que inspirado pelas forças divinas. A arte só existe porque o homem a inventou, justamente para a sua sobrevivência!

    Você pode discordar, se quiser. A questão é sua! Essa resposta é apenas a minha!

    Bjs e obrigado pela participação.

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  12. Concordo plenamente!
    Talvez esta é a razão da nossa sociedade não ser educada para a valorização das artes. É questão de sobrevivência!


    sempre que posso tenho lido seus textos, gostaria de comentar alguns, mas nem sempre consigo! tá lindo o espaçooo.
    abs

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    1. Obrigado, Tati!

      Você sempre gentil e doce!

      Volte sempre que é um prazer para mim!

      Bjs.

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