segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Canção amiga

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não se vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem anda ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

(Uma homenagem ao Poeta Carlos Drummond de Andrade nascido em 31 de outubro de 1902)



Canção Amiga, poema de Carlos Drummond de Andrade,
musicado por Milton Nascimento.
A música foi gravada no disco Clube da Esquina 2, EMI, em 1978.

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Deixa de ser convencida

                              (Wilson Batista e Noel Rosa - samba de 1935)

Deixa de ser convencida
Todos sabem qual é
Teu velho modo de vida

És uma perfeita artista, eu bem sei,
Também fui do trapézio,
Até salto mortal
No arame eu já dei.

E no picadeiro desta vida
Serei o domador,
Serás a fera abatida

Conheço muito bem acrobacia
Por isso não faço fé
Em amor, em amor de parceria
(Muita medalha eu ganhei!)




Do disco "Ganha-se Pouco, Mas é Divertido -
Cristina Buarque canta Wilson Batista" de 2000




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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A casa dos saberes


                                                                        Por Katia Silva

As chaves fecham e abrem o livre desejar,
As cortinas sabem de desejos
que eu nunca pensei em contar.


Livros da estante acusam de não terem sido lidos,
As gavetas denunciam passados mantidos,
O guarda-roupa me alerta que há sentimentos a serem vestidos.


No banho, a água me bebe
E percebe
A agonia de problemas não resolvidos,
O fogão aquece sonhos perdidos,
A geladeira mantém pensamentos esquecidos.


Nos lençóis, repousam milagres abandonados,
O alarme desperta medos silenciados.


Os cd's entoam a voz da consciência,
O sofá senta as decisões com veemência.


Sob a mesa, estão contas vencidas de um futuro incerto
As janelas refletem a sombra do amor, que de perto,
Clama a paixão prometida.
A porta vigia a busca da solução, da melhor saída.


O ventilador refresca idéias inutilizadas,
A tv apresenta vontades acabadas.


O rádio narra notícias distantes do vizinho ao lado
A cama inflama e procura o corpo do amado.




Visite o blog de Katia em:palavrasquebrotam

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sábado, 22 de outubro de 2011

Um carro de boi dourado

(Francis Hime/ Gilberto Gil)

Um carro de boi dourado
Surgiu na estrada gemendo
Gemendo doce gemido
Vozes vêm seguindo som
Bois elegantes puxando
Rodas de luzes piscando
Um carro de boi neon
Um carro de boi neon
Um carro de boi neon
Um carro de boi dourado
Florescente, iluminado,
Trazendo Touro Sentado,
Sentado ao lado de Tron
Buda sorrindo calado,
Admirando o machado
Empunhado por Xangô
Os anjos celestiais
Os campeões mundiais
Nobres de Roma e de Atenas
Escravas louras, morenas
Todos desfilando atrás
Soldados, sábios, mucamas
Alfarrábios, fliperamas
Tudo desfilando atrás
Atrás do carro de boi
Atrás do carro de boi
Como na escola de samba
O bamba e o super-herói
Como na escola de samba
O bamba e o super-herói
Um carro de boi dourado
Passou na estrada gemendo
Trazendo os deuses e o som
Um carro de boi neon
Um carro de boi neon
Ê, ô,
Neon, ê ô (BIS)







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Parceiros

 (Música de  Francis Hime e Milton Nascimento)

Primeiro cruzamos caminhos
Corremos o verde do tempo
Pisamos o chão como índios
Nascemos do mesmo luar
E, então inventamos o futuro
Juramos a cumplicidade
E só essa lei nos regia
Até que a viola chegou.

O som possuiu nossos corpos
O canto partiu em viagens
Até onde a gente nem pode pensar
Falamos de amor, e outras rimas
Crescemos somando outras cores
Vibramos tanta lealdade
Que o inferno até se assustou.

De fato, teimosos que somos
Partimos direto pra briga
Não houve desfeita ou intriga
Que nos confundisse a razão
E cruzamos novos companheiros
De letra, de som e de crença
Retrato, pincel e de dança
De tudo que a arte criou.

O manto cobriu nossos corpos
E o canto partiu em viagens
Até onde a gente queria alcançar
Falando de amor e outras rimas
Contamos com a força de muitos
Colocando voz nesses olhos
Que chegam pra nos encantar.

E as vozes se tornaram tantas
Que não há mais palco e platéia
A gente que canta conosco
É o presente que deus nos legou
É parceiro
A gente que canta conosco
É a resposta que a vida mandou.

                                  

                                       

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Aristotélico

Arrumado,
seleto,
político,
científico,
filosófico,
lógico como ele só!

"Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito."

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

São Francisco

Arte de Vanessa Lima


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo a água
Do ribeirinho.

Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom dia amigo
Dizendo ao fogo
Saúde irmão.

Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesuscristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Pros passarinhos.

Lá vai São Francisco
Pelo caminho.

                                            (Vinícius de Morais e Paulo Soledade)


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sábado, 1 de outubro de 2011

Matança

                                                                (do poeta Jatobá)

Cipó caboclo tá subindo na virola
Chegou a hora do pinheiro balançar
Sentir o cheiro do mato da imburana
Descansar morrer de sono na sombra da barriguda
De nada vale tanto esforço do meu canto
Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar
Tal mata Atlântica e a próxima Amazônica
Arvoredos seculares impossível replantar
Que triste sina teve cedro nosso primo
Desde de menino que eu nem gosto de falar
Depois de tanto sofrimento seu destino
Virou tamborete mesa cadeira balcão de bar
Quem por acaso ouviu falar da sucupira
Parece até mentira que o jacarandá
Antes de virar poltrona porta armário
Mora no dicionário vida eterna milenar

Quem hoje é vivo corre perigo
E os inimigos do verde da sombra, o ar
Que se respira e a clorofila
Das matas virgens destruídas vão lembrar
Que quando chegar a hora
É certo que não demora
Não chame Nossa Senhora
Só quem pode nos salvar é

Caviúna, cerejeira, baraúna
Imbuia, pau-d'arco, solva
Juazeiro e jatobá
Gonçalo-alves, paraíba, itaúba
Louro, ipê, paracaúba
Peroba, massaranduba
Carvalho, mogno, canela, imbuzeiro
Catuaba, janaúba, aroeira, araribá
Pau-fero, anjico amargoso, gameleira
Andiroba, copaíba, pau-brasil, jequitibá


Gravada por Xangai no antológico LP "Cantoria", de 1984, no qual dividia o palco com Geraldo Azevedo, Vital Farias e Elomar. Um verdadeiro hino de defesa das matas brasileiras.


  1. Desafio Do Auto Da Catingueira
  2. Novena
  3. Sete Cantigas Para Voar
  4. Cantiga Do Boi Incantado
  5. Kukukaya
  6. Ai Que Saudade De Ocê
  7. Ai D´eu Sodade
  8. Semente De Adão
  9. Cantiga Do Estradar
  10. Violêro
  11. Saga Da Amazônia
  12. Matança
  13. Cantiga De Amigo

Xangai ao vivo


O que o vento não levou

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:

um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...


Mario Quintana (In:A cor do Invisível)

                                            
                                        Uma indicação de Eliana Pichinine