quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Macaréu, o pulo de Eliana Pichinine

Lançado no último dia 12, Macaréu é o segundo livro de poesias da escritora e poetisa Eliana Pichinine. Como o título sugere, nos parece que a autora dá os seus saltos por sobre as ondas da pororoca, como alguém que sobressalta os obstáculos da vida. Para Eliana, deve ser como uma competição interna de quem vive a pensar na próxima onda a vencer. Ela mesma admitiu ser Macaréu o seu pulo.

Essa ideia é confirmada pelas poesias de cores mais misteriosas como em “Conto de sereia”, que abre a obra. Neste poema, Eliana nos traz uma bela imagem poética meio mágica, meio folclórica, apresentando o personagem em terceira pessoa. Depois nos mostra este mesmo poema visto em primeira pessoa, o que pra mim bateu como uma agradável surpresa. Gosto dos temas vistos por diversos ângulos, por diversos focos... Ela fez o mesmo com outros três.

Ainda assim, como em Retrós, seu livro de estreia, continua sendo a autora de versos curtos, mexendo com os significados das palavras, com seus sons e com as ideias que essas se nos apresentam. Poemas como “Autoconhecimento”, “Gema e Clara”, Céu pensativo”, “XL” (Telhado de vidro), Flores azuis (memórias) “Trato” e “Guilhotina do amor” nos dão a certeza do grande pulo, do grande salto em busca de outras possibilidades de se exprimir, sem perder suas marcas características, é claro. Sua poesia “XLII” resume o que digo: “O que sinto é múltiplo e simples”. “Macaréu”, o poema que fecha a obra, é de um lirismo que emociona. Só lendo e sentindo. Bem-vindo o novo rebento!

Parte deste pequeno texto preenche uma das orelhas do livro, o que para mim é uma honra e tanto. Obrigado pela amizade e pela admiração, Eliana. O livro ainda contou com outro texto de orelha do amigo Nelson Marques, prefácio de Claudia Manzolillo e a linda capa feita por Mari Mari Tiscate.

Serviço
PICHININE, Eliana. In: “Macaréu”. Porto Alegre: Vidráguas, 2015 - à venda na Livraria Sabor Literário, Rua Conde Bernadotte,26 - na galeria do Teatro Leblon, Rio de Janeiro
Link para compra online

domingo, 29 de novembro de 2015

Djavan - Vidas pra contar

Parece que foi ontem que ouvi pela primeira vez o Rua dos Amores, de tão vivo que ainda está o disco em minha cabeça e também pelo sucesso da turnê pelo Brasil. Mas, o fato é que o disco é de 2012 e para um artista como Djavan, que compõe músicas como quem cria verdadeiros filhos, três anos é tempo de sobra pra se ter a vontade de criar coisas novas. Por isso, o novo trabalho Vidas pra Contar vem preencher essa saudade do músico compositor.

Decididamente, Djavan é um dos meus artistas favoritos da boa música. Elegante e moderno como sempre, o compositor nos traz a mesma receita que pontua em toda a sua carreira. Músicas de vários ritmos, como o forró que abre o disco, Vida nordestina, a bossanovista Encontrar-te, as canções Primazia e O tal do amor, as jazzísticas Se não vira jazz e Enguiçado, o ótimo samba Ânsia de viver, a "salsa" Aridez... por aí vai.
Traz o pop também sempre presente, como a “música de trabalho” Não é um bolero que de cara nos mostra a sua assinatura. Outra marca que sempre o acompanha é o ritmo "funqueado" que ele impõe em Só pra ser o sol.
É sempre assim e é sempre novo. Incrível como o artista envelhece e torna-se sempre melhor. Sua voz mais madura, com graves mais acentuados nos faz acompanhá-lo à medida que vamos aprendendo a música, com a alegria de uma  boa e agradável nova descoberta.

Demorou, mas já dava pra prever uma merecida homenagem do músico à sua mãe em Dona do horizonte. Há muito tempo Djavan conta sua história e a importância de sua mãe nas influências que teve. Nos últimos tempos, isso ficou mais intenso e então veio a balada que conta um pouco dessa influência materna. Linda homenagem!

Também pra não deixar de ser Djavan, o disco apresenta a enigmática Vidas pra contar que dá nome ao trabalho. Linda demais como todo o disco.

Cabe citar aqui algumas coincidências do autor com este que vos fala. Antes mesmo de ouvir as músicas deste disco, já havia reparado no título da música "Aridez" que é o título de um poema meu, publicado aqui há algum tempo. Depois de ouvir, não achei que fosse muito a cara do meu poema, embora o tema fosse o mesmo. Não a seca material, mas a do amor. Fiquei feliz em saber dessa coincidência. Ouvindo o disco, reparei em outra muito mais especial que é a música "Dona do horizonte". Bem no início da criação desse blog, escrevi o breve texto o "Pequeno cantor", que é um pouco dessa história que Djavan conta da mãe, só que em um viés oposto. Essas coisas nos emociona ainda mais.

Djavan se mostra mais uma vez como sempre foi e sem ser repetitivo. Continua parecendo um garoto. Popstar, com brilho e vontade de gente nova. É como um doce de coco que se come e não se enjoa! Como um bom vinho. Quanto mais velho melhor!


Djavan – Vidas Pra Contar (2015)

1. Vida Nordestina
2. Só Pra Ser o Sol
3. Encontrar-te
4. Primazia
5. Não é um Bolero
6. O Tal do Amor
7. Aridez
8. Vidas Pra Contar
9. Enguiçado
10. Se Não Vira Jazz
11. Dona do Horizonte
12. Ânsia de Viver

Confiram outras novidades no site do artista:



quinta-feira, 19 de novembro de 2015

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Sonho bom

Acabei de acordar de um sonho bom.
Pela primeira vez me acontece
Sonhei que me olhava no espelho e
Reparei a cara de meu filho
Pensei no sonho: _Caramba, como estou parecido com ele
Fiquei feliz. _Ora, meu filho é um jovem bonito e que eu adoro, obviamente.
A primeira estranheza foi a barba que não mais havia em mim. Pensei: _Engraçado, eu apenas a aparei. Como sumiu toda?
Rapidamente, aquela imagem que era eu semelhante ao meu filho, o que também não deixa de ser uma grande novidade, pai parecer com o filho, foi se mostrando verdadeiramente ele. Não era mais a minha imagem no espelho. Era, de fato, meu filho o meu reflexo.
Freud explica? Não sei, talvez.
Só sei que fiquei surpreso e muito feliz
Minhas rugas sumiram no rosto dele.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Uma menina

Ao longe vejo a menina a brincar
Solta e sem sobressalto, corre pra lá e pra cá
Cabelos negros, cheios e longos esvoaçam ao vento na praça
Seu suor e seu ar angelical depõem quanto a ingenuidade de quem não tem e não faz juízos
O que os que a guardam, os que passam apressados, 
Os que nela reparam a graça infantil e, com certeza, ela mesma não sabem
São suas demandas futuras de mulher...




Tábua de salvação

Seguro-me em você
Que me sustenta qual uma rocha sólida,
Um monolito imponente a me erguer das quedas constantes

Me encosto a você como a uma parede
Uma colossal parede a se escalar, quase lisa, sem frestas ou agarras
Mas que tenho que subir e conquistá-la a todo preço e suor
Magnânimo é seu amor, generoso é seu afeto
A minha tábua da salvação vale a vida

domingo, 27 de setembro de 2015

Cinco anos do Blog do Chico

Alô pessoal,

Mais uma vez estamos em festa pela data em que comemoramos o aniversário do Blog do Chico. Ainda que em alguns momentos bata uma preguiça ou mesmo um certo desinteresse pelo teclado, nunca deixarei de lembrar e reconhecer a importância deste espaço para mim. Realmente neste último ano escrevi menos, porém compus mais. São fases pelas quais passamos e que nos trazem interesses específicos. A música no momento é o que me move com mais vontade. Aliás, a música sempre me moveu, e esse blog já tem provado isso, não? Mas é que agora estou compondo além de somente ouvir e curtir.
Por isso, estou muito feliz. Criar música tem sido uma maravilha. Compor aquilo que é o objeto do meu maior interesse é de fato uma maravilha. 
E ter esse espaço para compartilhar meus pensamentos, meus textos, a música que amo e tantas outras coisas minhas, de amigos e daqueles que admiro é realmente uma bênção.
Portanto, parabéns para o blog, pra mim e pra vocês, amigos de sempre!

Até o próximo encontro.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Meus primos do Irajá

Antes de começar essa história, preciso dizer que são memórias minhas e outras que ouvi contar. Com certeza, este texto não vai abranger tudo e algumas das memórias podem não corresponder exatamente às lembranças de quem as viveu. Por isso, peço que compreendam o recorte do autor. Alguma coisa poderei misturar à ficção, o que não é incomum nos meus textos, mas, o que não for totalmente verdade, será pelo menos meia-verdade.


Mamãe teve vários irmãos e irmãs e todos eles tiveram filhos, alguns muitos como é o caso dela que teve sete. Therezinha, a mais velha; Moacir, o mais rebelde; Rosana, a mais manhosa; Eu, o sonhador; Aldo o obstinado; Eraldo, o distraído caçula. Luciene, a nossa irmã adotiva, a mais paparicada. Teve duas mães, tia Maria que a acolheu ainda bebê e mamãe que a adotou legalmente por minha tia ser solteira. Era bem manhosa tb por isso. Ninguém podia implicar com ela que minha tia brigava. Lembro que eu era o seu principal rival, pois tínhamos praticamente a mesma idade. Como gostávamos de brigar! 

Mas, o caro leitor pode se perguntar, cadê os primos de Irajá que o título indica? Que enrolação é essa que introduz a história? O caso é que quis chamar a atenção para a família de minha Tia Ivete por causa do número de filhos. Se minha mãe teve sete, minha tia bateu o recorde e teve nove. Nove! Dois rapazes e sete moças. Sete moças! Hoje, adulto e pai, imagino o sufoco que foi ser pai e mãe de 9, sendo 7 meninas. Não gostaria de estar na pele do velho Nilo, meu tio casado com a irmã de minha mãe. 

Essa história que me atrevo a contar, bem daria um conto de tão rica em detalhes e casos e a julgar pelo número de primos, cada um com “zilhões” de histórias interessantes, perigaria não terminar. Vou me esforçar por um resumão do que lembro especialmente. 

Meus tios e primos moravam numa bela casa em uma rua bem familiar de Irajá, bairro do subúrbio do Rio. A história da construção da casa tem muitos detalhes que antecedem minha própria história por ser eu mais novo. Meus tios tinham um terreno que continham três boas casas. A mais antiga, que ficava nos fundos, e duas outras na frente, um pequeno prédio composto de dois apartamentos. Na época, em que me vejo inserido, eles já moravam na casa de cima, que era a maior e mais confortável, além de mais bela. Apesar disso, ainda assim, tinha dois quartos apenas, o que fazia com que as meninas (Sete, lembram?) ocupassem um deles, enquanto meus tios, o outro. Sobrava a sala para os rapazes. Quando íamos visitá-los e dormíamos por lá, quem era menina juntava-se às (quantas mesmas? Ah, Sete!) e os meninos na sala, obviamente. 

Vou optar por falar de cada um, das histórias de cada um deles, não necessariamente na ordem de idade, mas pelo que vier à mente primeiro. 

Uma das lembranças mais remotas que tenho é de um aniversário de um deles, não me lembro quem, e que fomos convidados. Era uma aventura pra nós pequenos sairmos de São Cristóvão e pegar o 350 (passeio-Irajá) e irmos naquela viagem cheia de curvas subidas e até um mini tobogã na rua Quito (Penha), que fazia nossa barriga arrepiar no momento do sobe e desce. Lembro que nesta ocasião a casa de cima, aonde já ocupavam, ainda não estava acabada. Lembro que parte do piso ainda não havia recebido assoalho. Lembro de como era libertador deixar nossa humilde e pequenina casa para passar uns dias, as vezes parte das férias em Irajá, cheio de primos e primas e mais os outros primos de outros tios que iam também pra lá e mais os amigos da rua. O portão da casa da Tia Ivete enchia de meninos e meninas pra brincar de todo tipo de brincadeiras. Piques bandeira, tá, pega; brincar de futebol (as meninas jogavam também e bem), soltar pipa, andar de bicicleta, descendo velozmente a ladeira da rua e subindo de volta com os bofes pela boca. À noite, essa mesma turma, que variava muito na idade, se reunia pra conversar, cantar ou simplesmente contar histórias. Em outras vezes se dividia por faixa etária ou gênero. Eram momentos específicos que todos se permitiam: misturar, separar... A casa deles era um ponto de encontro das ruas próximas, pois meus primos, além de numerosos, tinham muito carisma e liderança. 

Pois bem, acaba que ainda não apresentei os personagens. Continuando com as memórias mais antigas, relato como foi a chegada do bebê Andrea, a caçula, em casa. Estava lá nesse dia e me lembro ver chegar na rua seus pais num Dodge Dart pomposo e minha tia sair com ela no colo. Lembro da festa que foi todos os outros oito irmãos, mais os agregados como eu, receberem os pais e a irmãzinha. Uma das poucas datas que não me esqueço, 6 de setembro, dia do seu nascimento. Minha atual corretora de seguros de automóvel é a penultima da safra daquela família de Irajá. Cristina é o seu nome ou simplesmente Tina. Mora hoje numa bela casa em Itaipuaçu e produz a Palha da Tina, seu novo negocio que é um doce, palha italiana e que ela enfeita com embalagens lindas. Ainda nao experimentei, mas nem é preciso pra saber que é uma delicia. Sua imediatamente irmã mais velha é Sheyla. As duas, pela idade aproximada eram muito ligadas. Como eram bem mais novas que eu, nossa história de amizade cresceu um pouco mais tarde. Lembro que uma das coisas que senti como um marco, foi quando as duas decidiram ir morar juntas, dividindo um ap próximo dali. Sheyla também acabou criando uma história especial comigo mais recente. Trabalhou um bom tempo em um banco e próximo de onde eu trabalhava, de modo que de vez em quando almoçávamos juntos. Ela reclamava da solidão. Nesta época, já alugava sozinha um ap em Ramos. Eu, também a procura de um novo amor, chorava as minhas mágoas com ela igualmente. Um belo dia, Já estava com Rita (minha esposa há quase vinte anos) e queria apresentá-la num jantarzinho em Copacana, onde dividia um ap com um amigo que tb levaria sua namorada. Pois bem, quando liguei pra contar a novidade, ela me disse que também havia arrumado um namorado e ficamos todos muito felizes. Paulo viria a ser seu marido pouco depois e pai de suas suas filhas, assim como a Rita se tornou mãe de meu único filho. Sheyla teve Mariana, seu primeiro bebê, em Janeiro de 98 e nós tivemos o João em Abril. Lembro que Rita sem poder amamentar, numa visita dela com Mariana e Paulo, aproveitou para amamentar o meu rebento. Isso ficou marcado de forma tão especial em nossos corações. Além de prima querida, passou a ser pelo menos por uma única oportunidade, mãe de leite do nosso filho. Rita e eu temos um grande afeto por ela. 

Dos homens, Sergio e Gilmar, este último era o mais novo. Gilmar ia muito lá em casa quando pequeno porque durante um tempo nadou no clube do Vasco da Gama que ficava próximo à nossa casa. Também era mais novo, de modo que também nosso convívio começou mais tarde. Se não me engano foi o último a se casar e vive hoje confortavelmente com sua esposa no Lgo do Bicão. Lembro de uma história trágica que deixou a família toda aflita. Lembro dos nossos avós e tios comentando quando ele se acidentou na piscina do Irajá Atlético Clube e quase morreu afogado. Foi um desespero. Mas foi somente um grande susto. Acabou tudo bem. 

Shirley, a terceira mais velha, era também a mais introspectiva. De modo que não tive muitas oportunidades de vivências, talvez meus irmãos mais velhos lembrem de fatos mais interessantes pra contar. Lembro que Shirley era uma pessoa que conversava com mais propriedade. Tinha mais juízo e dava conselhos aos mais jovens. Maristela era como o Aldo de saias ou vice-versa. Meu irmão parecia irmão gêmeo dela de tão parecidos que eram. Hoje nem acho tanto. Mas na época de infância ninguém negava, eram muito parecidos e por conseguinte muito próximos. Os dois eram muito agarrados. 

Leila, a mais velha das moças, foi a segunda a nascer, sendo mais nova apenas que o Sergio, o primogênito. Leila sempre foi meu ídolo. Era a mais rebelde, páreo duro com a Márcia. Mas por ser mais velha, enfrentava com mais veemência os pais, ou melhor, o pai. Seu Nilo não era fácil. Era carrancudo e severo ao extremo. Na época, tínhamos por ele um respeito que se confundia muito com medo. Hoje, entendo sua preocupação. Nove, sendo sete mulheres, se fosse comigo, acho que desencarnaria! Leila ficou marcada pra mim por “Ovelha Negra” da Rita Lee, sucesso na época em que, ainda muito jovem, resolveu se casar com seu primeiro marido, Lerand. Meu tio não aceitava de jeito algum. Leila resolveu sair de casa e achou que pelo casamento seria mais simples. Viveu com o marido por pouco tempo uma vida bastante difícil e teve Leandro, seu filho que viveu poucos dias. Foi uma tristeza. Hoje é mãe de Vinícius, um rapaz que já tem vinte anos e barba maior que a minha. 

Tempos depois, fizemos Leila e eu uma viajem inusitada à Pureza, cidade natal de nossas mães. Cidade não, lugarejo. Minha mãe chamava de arraial. Foi uma das experiências mais ricas e deliciosas que tivemos. Nossa amizade aumentou demais de lá pra cá. Essa viajem daria outro texto. Por isso não vou me alongar contando-a. Depois, tentei esse mesmo roteiro com a Márcia. Foi triste. Completamente o contrário. Márcia era a prima que mais proximidade eu tinha. Tanto pela idade que era próxima quanto pelos gostos. Fizemos teatro juntos, acampamos, saíamos muito e ela também ia muito lá pra casa. Um dia meu pai me chamou pra conversar e, com a voz grave que o caracterizava, me perguntou: _Você e a Márcia estão namorando? – Tomei um susto e fiquei surpreso com a pergunta. E perguntei: _Por que essa pergunta? – Conhecia meu pai e sabia que tinha alguma coisa por detras de sua preocupação. _ O Nilo me ligou, perguntando se vocês estavam namorando porque vocês estão muito juntos e ele está desconfiado. _Pode dizer a ele – disse eu – que entre a Márcia e eu o que existe é a mais pura amizade de primos, de irmãos. – Meu pai respirou aliviado, dando aquele sorriso característico dele. No fundo ele já sabia, mas precisava ouvir de mim pra poder confirmar com meu tio, que confiava muito nele. Os dois se davam muito bem e se respeitavam mutuamente. Pensei que como namorada, a Márcia era uma ótima prima. Adorava ela, como adoro até hoje, mas a conhecia tão bem pra saber que namorá-la seria a maior das furadas. Geniosa como era, me engoliria rapidamente sem me dar chances. Aliás, nossa viagem não deu certo porque ela havia acabado de romper com seu namorado, que depois viria ser seu marido e pai de suas três filhas. Passou a viagem inteira na fossa e irritada com o rompimento. E quem pagou o pato? Eu. 

Poderia ficar horas falando da Márcia, mas tenho que dar conta de todos, inclusive de meus tios. Um dia, acampamos um grupo enorme na Praia do Meio, uma praia deserta na costa de guaratiba. Foi o primeiro e único acampamento que fiz com meus irmãos Aldo e Eraldo. De lá, foi muita gente. Quase todas as meninas e seus namorados e outros tantos amigos. Foi um acampamento inesquecível. Muito bom. Mas nele, também aconteceu um incidente. Meu irmão Eraldo quase morreu afogado e nem vimos. Jogávamos cartas e batíamos papo próximos às barracas, quando depois de muito tempo sumido, chega ele dizendo, quase sem fôlego, que o mar o havia levado para bem longe e a correnteza não permitia que voltasse. Voltou com muito custo, depois de dar uma volta enorme para sair da correnteza. 

Foi nesse passeio que surgiu a tal da sopa de quiabo. A Márcia me pediu para que eu pintasse uma camiseta com um caldeirão escrito sopa de quiabo. Desenhei um daqueles bem de bruxa, com o vapor saindo e a frase esvoaçante. Fez um baita sucesso. Dizia ela que era o prato que o Walter gostava, seu namorado e futuro marido. Nem sei se era verdade. Odeio quiabo! 

Acho que falta o Nilo Sergio (ou simplesmente, Sergio), certo? Será que esqueci de alguém? O mais velho de todos era também o mais pé no chão de todos. Estudava que nem um louco pra tudo. Passou na light numa época que passar pra light, que era uma empresa pública, era como passar pra Petrobras, antes dos escândalos. Inteligente e culto, adorava ler e também todas as formas de arte. Escrevia bem e costumava fazer suas crônicas que eu adorava ler. Me inspirava bastante. A primeira vez que vi o LP Clube da Esquina do Milton e do Lô Borges foi na casa deles. O Sergio comprara um disco duplo, aparentemente estranho, que todos nós seus irmãos e eu fomos digerindo e descobrindo. Um clássico! Já conhecia o Milton, como já até contei por aqui, mas precisava descobri-lo como gênio que era. Foi o Sergio o responsável por isso. Lembro-me que ficava deitado no chão da sala até altas horas da madruga, com o ouvido colado à caixa de som de seu gradiente, que era uma maravilha (é até hoje muito bom aquele aparelho), ouvindo o disco inteiro, faixa por faixa. Foi uma grande viagem aqueles tempos. Depois veio o Clube II e outros tantos do Milton, do Lô, do Chico etc. O Sergio era pelo menos uns oito anos mais velho que eu, de modo que demorou um pouco pra ele começar a sair e me chamar. Lembro de uma época que fui a muitos shows com ele no Canecão, em vários bares e ele passou depois a acompanhar minhas incursões pela música com várias formações que acabei por participar. O Sergio ia em qualquer lugar que me apresentasse. Nem que fosse uma única vez. Foi no Estácio, em São Cristóvão, entre outros que não me lembro. Recentemente, fiquei sabendo de uma história sua, uma aventura que lembra uma outra vivida por mim, mas que deixa a minha no chinelo. Uma certa vez, na adolescência, fui com meu amigo, também de nome Sergio, de São Cristóvão ao Leme pedalando uma bicicleta contrapedal. Pois bem, o Sergio(o Nilo, meu primo), após ter se aborrecido com o pai, saiu correndo de casa à esmo e na rua resolveu para onde ia. Resolveu ir para casa da avó à pé. O problema é que nossa avó morava em São Cristóvão, junto de mim. É muuuiiito longe. Disse ele que foi pela Avenida Brasil, porque sabia que no final dela encontraria o prédio do sabão português (fábrica da UFE) e dali ele sabia ir até lá em casa. Atravessou a pista, subiu no canteiro central e correu até lá. Cansava, parava e andava. Descansava e corria novamente. Chegou lá, diz, por volta de duas horas. Ele tinha uns doze anos apenas. Minha avó quando viu o neto cansado, suado, sem chinelos (havia ficado pra trás no meio do caminho) ficou surpresa e apavora. Na época não tínhamos telefone. Não sei se ela ligou para minha tia da vizinha. Não sei nem se minha tia já tinha telefone. Só sei que quando descansou e comeu algo, minha avó pediu pra que minha tia Maria o levasse de volta no 350. Nem sei se apanhou do pai ou se ficou de castigo. Mas, minha história da bicicleta me pareceu uma história de brincadeira de praça. Soube dessa história outro dia. Quando passou a trabalhar a vida ficou um pouco melhor para todos porque ele passou a ajudar o pai nas despesas da casa. Ajudou muito também os irmãos de muitos modos, principalmente incentivando-os à estudarem. 

Minha tia Ivete, coitada, ficava no meio da luta, tentando aplacar a ira de meu tio e a rebeldia de meus primos. Era uma tarefa das mais ingratas. Lembro de várias vezes ter ficado por lá e, dormindo na sala, observar minha tia sentada, cochilando na poltrona, à espera de um por um para evitar o pior. Só se deitava quando contava todos os rebentos que voltavam. Tinha uma pena de minha tia. Ela se parecia demais com minha mãe, sua irmã mais velha. Triste, muitas vezes deprimida, como quase todos os Furriel. Seus alvos e belos cabelos davam a impressão de muito mais idade. Minha mãe morria de vergonha de nós não sairmos de lá. Afinal, eram muitas bocas para alimentar e nós íamos contribuir com mais gastos. Tudo era muito bem dividido. Mas isso era uma coisa que nós de São Cristóvão conhecíamos bem. Meu tio Nilo era brabo, é verdade. Quase não conversávamos, mas depois de um tempo nos tornamos mais próximos. Gostava de pescar. Um dia, depois de saber que alguns de seus companheiros levavam os filhos, inclusive ele levou mais de uma vez o Gilmar, que era até mais novo que eu, resolvi pedir a ele pra ir também. O local era uma ilha em Maricá. Ele ficou animado e topou logo. Naquele dia, fomos de carro até o quadrado, na Urca, onde os barcos atracavam. O Gilmar que ia também desistiu, então fomos somente nós. No caminho até lá conversamos bastante e ficamos mais amigos. Quando chegamos ao quadrado, a triste notícia: o tempo virou e os barcos não mais sairiam. Voltamos decepcionados, passando na praça quinze, que na época era mercado de pescado à noite, e compramos alguns peixes pra almoçar no dia seguinte. 

Poderia ficar contando histórias aqui até cansar, mas ainda assim não daria conta. Como das vezes que dormíamos no terraço, quando havia muito calor. Nessas oportunidades, ficávamos deitados, olhando o céu estrelado e contando histórias naquele terraço que durante o dia era a nossa “praia do caquinho” porque seu revestimento era assim. Ficávamos tomando sol em cadeiras de praia, nos refrescando com as mangueiras d’água. 

Meus primos, quase irmãos, foram e são partes da minha história cheia de riquezas que o coração acumula. Deus os abençoe sempre! 



sexta-feira, 24 de julho de 2015

Casa de telha e tramela


Era de telhado e tramelas a casa em que nasci e cresci.

Frágil como a de palha dos “três porquinhos” e forte como a construída sobre a rocha de Jesus, era ali que vivi meus anos mais intensos e inspiradores. Foi lá que adquiri subsídios para nortear minha vida, quase nunca tão reta, porém cheia de desejos de correção no bem.

A vida, apesar das dificuldades, era séria, mas também mágica aos olhos de uma criança que sonha. As tramelas estavam em muitas casas da vizinhança e fechavam com a autoridade que lhes cabiam e ai de um intruso que tentasse corrompe-las. Não me lembro de nenhum que tenha tentado, a não ser numa emergência qualquer. Um dia meu pai teve que arrombar a janela do nosso quarto para entrar porque à noite, uma vela que estava acesa em cima do nosso guarda-roupas acabou por incendiá-lo. Mas, logo nosso super-herói nos salvou a todos devidamente.

O que mais me agradava em nossa casa de telhado era poder participar dos assuntos dos adultos à noite, quando já estávamos deitados pra dormir. Neste tipo de casa as paredes dos ambientes vão até uma certa altura e o telhado cobre toda a casa, deixando assim espaços abertos por cima das divisórias dos cômodos. Aqueles ruídos humanos noturnos hoje me soam como música de ninar. Vinham das pessoas que mais amo na vida; as pessoas que forjaram meu caráter, dentro de um ensino e uma prática baseados no Evangelho de Jesus, segundo a Doutrina Espírita. Aliás, a religião da família é uma outra história que não dá pra dissociar da história que conto, pois fez parte da família desde que me entendo por gente. Era comum nos dias de reunião pública na Casa de Jesus (Centro que frequentávamos e frequento até hoje), “continuarmos” a reunião na caminhada de volta pra casa e na cozinha de minha avó, enquanto tomávamos o seu café mineiro, discutindo mais sobre o tema da noite. 

Domingo pela manhã era o momento mais marcante dessa nobre casa de telhas e tramelas, pois que tínhamos também um pequeno quintal no qual nos reuníamos na hora do café para conversarmos sobre todo tipo de assunto, desde música popular brasileira, passando pela política, futebol e os próprios de família. Como morávamos juntos aos nossos avós maternos, neste dia vinham nos visitar os tios e primos e alguns chegavam mais cedo, o que fazia com que acordássemos com o burburinho. Então sentávamos nas cadeiras, na escada que dava acesso a terceira casa da grande casa de telhado e trancas de madeira (tramela), que era a casa de minha tia Terezinha. Então conversávamos ali, enquanto meu avô, meu pai e meu tio Ismael revezavam o pequeno espelho disposto na grade da escada para se barbearem. Era comum participarem desses momentos, além do meu avô Napoleão, meu tio Ismael, meu pai Manoel (Seu Dedé), meu irmão Moacir, meu primo Sergio (Nilo Sergio, filho da tia Ivete), minha tia Maria e também outros irmãos e irmãs menores, minha mãe Iolanda, minha avó Dêga (D. Orcina) outras tias que eventualmente apareciam. Lembro do Ismael cantando, imitando os cantores de rádio, como Nelson Gonçalves ou Orlando Silva. Meu tio cantava muito e acho que canta ainda. Acredito que herdei dele a mania de imitar os cantores. O Sergio também contribuía muito com seus conhecimentos científicos e culturais. Era e ainda é um intelectual que me inspirou bastante também. Escreveu uma vez uma crônica especial, muito bem feita sobre a árvore que havia em frente à sua casa, pois lera uma outra do mesmo mote de um tal Drummond, achando então que a árvore dele merecia também um texto igual. Com todo respeito ao poeta genial, a do meu primo também era muito boa.

O telhado também proporcionava um verdadeiro teatro de sombras às avessas. Na escuridão total da noite, a pouca luz que vinha de fora ou da própria lua, quando havia as cheias, enchia as paredes de imagens abstratas, através das frestas das velhas telhas, que eram imediatamente traduzidas em monstros e fantasmas dos mais diversos.

Como é rica a imaginação das crianças. Vida pobre, vida feliz. A felicidade decididamente não depende da riqueza necessariamente. Ela é uma conquista e um desejo que se transforma a partir de uma vivência especialmente boa. 

Saudades dos que se foram...


terça-feira, 30 de junho de 2015

Ao apagar das luzes

Bem!  Eis que bem perto do último minuto do segundo tempo, ao apagar das luzes, como se diz no linguajar futebolístico, resolvi falar de algumas músicas que ouvi e que me inspiraram a escrever: "Medo de Amar" de Vinicius de Moraes e "Sem Você", do mesmo Vinícius com seu principal parceiro Tom Jobim. Nos últimos tempos tenho tido especial atenção e gosto pelas músicas que passeiam por uma região de tonalidade que minha voz se adeque bem. Músicas confortáveis de cantar e, obviamente, que tenham beleza de letra e de melodia. É o caso dessas duas que assinalo. Ambas falam de situações românticas. A primeira fala do rompimento e a segunda, da falta que o outro faz. Duas possibilidades constantes nas relações amorosas: a separação e a falta. Esse é o Vinícius romântico que nos traz sempre as dores do amor. Abaixo, as músicas na voz de Chico Buarque de Hollanda.


  
Medo de Amar


Sem Você

terça-feira, 19 de maio de 2015

Anonimato e liberdade


Quando resolvi me inscrever numa rede social tinha por principal objetvo a divulgação dos textos e postagens do meu blog. Aquilo que era então há quatro anos a razão da minha alegria precisava de divulgação necessária e para mim compartilhar meus pensamentos e porque não dizer, minha arte, era tão necessário quanto a própria produção em si. Afinal, escrever pra ninguém ler ou cantar pra ninguém ouvir não fazia sentido. O fato é que o Blog do Chico sempre teve uma razoável visitação. Nem sempre os visitantes deixam suas impressões, mas o fato é que o espaço ganhou vida própria e as estatísticas mostravam o seu alcance em quase todos os continentes do mundo. A exceção da África, os outros lugares do mundo marcavam pouco ou muito da visualização do blog.

O problema é que o nosso provincianismo exige mais que o mundo todo, exige o nosso quintal. Então porque não reunir nossa turminha em nosso perfil de rede social e dividir com ela nossas impressões sobre o mundo, sobre o homem e sobre nós mesmos.

Beleza. No início funcionou muito bem e a aceitação das postagens e a curiosidade de muitos sobre o que escrevia e dizia me animava e muito. Me descobri poeta também, depois de muito escrever quase sempre em forma de crônica. No final veio a descoberta ou redescoberta do eu compositor, que é o céu: música e poesia numa mesma obra de arte. Tudo como manda o figurino.

Mas, aquilo que achei que fosse uma rede social, ou pelo menos o que se mostrava, a princípio entre um bom número de amigos de gostos afins, passou por uma natural mudança, que o próprio movimento das ideias de uma coletividade cada vez mais impõe. Então, de uma hora pra outra percebi que estava perdido num emaranhado de ideias, tendências e opiniões, envolvido em debates que não escolhi, embora interessantes. Me vi em meio a muito mais gente e cada vez menos visto. Quando se quer muito pode-se não ter nada. Num grande ramo me vi como agulha num paleiro. A novidade que antes interessava a alguns amigos agora já não era tão original e por vezes me vi como o chato que precisava de auto afirmação através dos amigos do peito. 

Sem notar, também entrei num circuito de vaidades no qual a troca de intimidades, desejos e anseios de felicidade saltavam aos olhos de todos, enquanto notava o mesmo efeito nos outros pares.

Aquilo que foi a razão principal da minha entrada na rede, começou a dar sinais de desgastes para muitos e para mim também, obviamente. Demorei a dar o braço a torcer e admitir que aquilo não fazia mais sentido. Afinal, a rede é chata. As pessoas são chatas ali. E nós acabamos fazendo a nossa parte em toda essa chatice, sendo chatas com os outros.

Fui romântico o bastante achando que poderia continuar mostrando um mundo de poesia, música e alegria positiva para uma rede com a cara cada vez mais do mal. Não do mal da ferramenta em si, mas do mal que somos capazes de criar e de ser.

A rede acabou sendo pra mim um grande tapa na cara. Uma grande ficha caiu para mim ao perceber que a vida é crua. As pessoas são cruas. E nós acabamos por também exercermos essa crueldade que é não dar conta de tudo e de todos. É impossível o feedback total. Me convenci de vez que o artista nunca conseguirá ir atras de todo o seu público. A obra é nossa e do mundo uma vez que divulgada. Se houver retorno ótimo, se não, maravilha. O que importa é que esteja à disposição.

Depois de muito tempo me vi prisioneiro de uma mania. A mania de estar com todos os que eu elegi para estar. E mais, nem sempre conseguia e por isso me angustiava. Estabeleceu-se rapidamente a cultura da curtição instantânea, sem muitos critérios de verificação e análise de conteúdo. Você postava um vídeo de sete minutos e instantaneamente era curtido. A pessoa não poderia saber se ao final desse vídeo existiria uma agressão a sua pessoa. Não havia tempo. Mas, a confiança pela pessoa que postava era maior que o próprio conteúdo. Uma simples imagem familiar ganhava tons de verdadeira arte, ganhando rios de curtidas e comentários, enquanto um vídeo com uma composição de uma música sua passava em branco. Um texto postado pelo link do blog ficava esquecido ao relento frio da rede azulada, enquanto um trecho desse mesmo texto, postado no perfil, ganhava chuvas de impressões amáveis. É a ditadura do instantâneo. Abrir um link dói. Ler o que já está postado é mais fácil, ainda que seja um só trecho e não o texto todo.

De um lado o povo “intelectualizado e politizado” discutindo os rumos maniqueístas da atual conjuntura nacional, polarizados entre o bem e o mal. Do outro, uma turma do “não to nem aí pra tudo isso” e o melhor é dar bom dia com fé, beijos no coração e todo o tipo de correntes salvadoras desse nosso mundo tão confuso. E a gente caindo nessa armadilha, ora achando que sabe tudo de Brasil e do mundo e ora tentando fazer desse momento uma possível saída de paz e amor. 

Cansei! Pensei: como era antes? Como estava antes? Por que comecei tudo isso? Foi por causa do blog? Pois bem, continuo com o blog, tenho whatsapp, tenho meu canal no youtube, soundcloud, enfim... Estou na rede de qualquer modo. Porém, de um modo geral, vou seguir meu caminho independente desse feedback. Que este é muito bacana e importante, ah isso é. Mas, o que tiver de ser será. Rede social agora somente os amigos na minha sala de estar.



quinta-feira, 16 de abril de 2015

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Eliana 

Vestido rendado
pelo tempo
procura alguém
disposto a conhecer
a alma dessa
exclusiva peça


                     Eliana Pichinine



Um dos meus poemas preferidos da safra de ótimos e inspirados poemas da autora de Retrós, livro já comentado por aqui na época do seu lançamento.


(In: PICHININE, Eliana- Retrós. Ed Multifoco, 2011, p.34)


quarta-feira, 1 de abril de 2015

Deus perdoa?

Foto: Rita Sales Lopes
Acredito que essa resposta possa estar contida na afirmação de Paulo de Tarso que disse: “Perdoai, pois, meus amigos, a fim de que Deus vos perdoe...”. Essa frase se encontra no capítulo X de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", item 15. Ora, se a condição do perdão de Deus se baseia na ação do perdão que pratico, logo, perdoar é perdoar-se a si próprio. 
Na questão 621 de "O Livro dos Espíritos", Kardec pergunta aos Espíritos Superiores: “Onde está escrita a lei de Deus?” e estes respondem: “Na consciência”. 

Muitas vezes, ainda que esquecidos dessa verdade, somos, intuitivamente, levados a crer na existência de Deus e na sua Justiça. Deus não deve se ocupar de tratar dos juízos de todas as suas criaturas, pois para este fim, deixou a nosso próprio encargo o livre discernimento do bem e do mal viver. Temos, portanto (uns mais, outros menos), a noção dessas leis que regem as relações humanas, quer sejam no plano físico ou no plano invisível.

Deus perdoa através de suas leis que, escritas em nossas consciências, impõem-se a partir de nós mesmos.


Obs.: Essa questão "Deus Perdoa?" me foi feita pelo Serginho Antinareli como um exercício filosófico doutrinário. Foi muito bom esse exercício!


Saúde e Paz!


terça-feira, 31 de março de 2015

Uma visão espiritista positiva do futuro

Por Assis Furriel

A beneficência é um dos temas mais recorrentes entre os cristãos. Primeiro, porque o principal ensinamento do Mestre, depois do amor a Deus, é a prática do amor ao próximo. Segundo, porque, sabendo dos porquês dos sofrimentos terrestres e dos desígnios divinos quanto ao futuro do nosso planeta, da nossa morada, compreende-se ainda mais a “dica” de Jesus. Como Ele é o caminho, a verdade e a vida; é Ele nosso modelo a ser seguido, devemos prestar atenção às suas palavras. Não, apenas como uma coisa bela e nobre, o que é uma verdade, mas também aos propósitos que seus ensinamentos se nos apresentam: a visão do futuro que Jesus tem quanto a nós e ao nosso planeta.

A Terra caminha para uma era de paz e de amor. O mundo de regeneração, que está por se estabelecer, exige-nos, desde já, a nossa contribuição no curso da transformação. O mundo não vai mudar sozinho. Precisa da colaboração de todos ou muitos de seus habitantes. Como equipe, trabalhamos melhor. Jesus mesmo nos ensinou a importância do trabalho em grupo. Para melhor mostrar-nos essa verdade, juntou doze discípulos a sua volta e iniciou o trabalho da Boa Nova. Vocês acham que Jesus precisaria mesmo disso se não fosse com o intuito de nos ensinar o trabalho em grupo? No entanto, além da importância do grupo, existe a programação individual de progresso, que cada um de nós está comprometido.

O nosso trabalho de colaboração na formação de um mundo melhor, funciona mais ou menos como um ingresso que pagamos em suaves prestações até a chegada do evento em si. Se conseguirmos pagar essas prestações até lá, entramos no mundo melhor. Se não, não entramos. Ponto!

Agora, com que moeda que devemos pagar o ingresso? 

A moeda se chama Caridade!

A necessidade da prática da caridade por nós e de sua importância não é nenhuma novidade entre os homens de bem, entre os religiosos e entre os estudiosos do assunto. E uma vez, conhecendo a máxima espírita que diz que “fora da caridade não salvação”, importa saber, então, como fazê-la. 

_Não basta fazer a caridade. É preciso fazê-la com qualidade, de modo correto.

É sobre isso que trata, fundamentalmente, o capítulo XIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” cujo título diz “não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita”.

E esse modo implica numa série de detalhes que envolvem o relacionamento humano: Fazer o bem sem ostentação, sem humilhar o próximo, procurando tornar natural e silencioso o ato de auxiliar.

É isso que os espíritos superiores vêm nos dizer nas mensagens dos itens estudados sobre a beneficência. Em alguns momentos, chegam a dar exemplos do que se pode fazer e de como fazer a caridade. 

O item 14, ditado pelo espírito Cárita, nos mostra uma advertência quanto ao modo da prática do bem, diferenciando a esmola da caridade. Ressaltando a importância da indulgência, da resignação, do trabalho em equipe de tantos grupos que se formam ao redor do mundo, procurando com seus trabalhos, levar alívio aos que sofrem...

No item 15, Um Espírito protetor nos fala daquele que se diz incapaz e realizar a caridade porque é pobre e nós lembramos o quanto é difícil e perigosa a prova da riqueza. A lição 9 do livro “Alvorada Cristã” trata desse assunto, quando diz que um homem que se propôs a praticar a caridade, pediu a providência divina riqueza para poder realiza-la e faliu no intuito por não conseguir desapegar-se da fortuna. Fala-nos também da questão da esmola. A passagem do “óbolo da viúva” também nos fala do valor real da caridade. A lição 4 do livro “Alvorada Cristã” nos fala de como é sempre possível auxiliar o próximo necessitado.

João, No item 16, ressalta que todos nós podemos colaborar com o que temos de especial, em nossas áreas de ação, com os nossos talentos, com o nosso tempo disponível. “Trabalhar para os pobres é trabalhar na vinha do Senhor.” 

No texto 41 do livro “Pão Nosso”, intitulado “No futuro”, Emmanuel nos traz uma análise da carta de Paulo aos Hebreus (8:11). Nessa análise ele apresenta como será o mundo no futuro. É nesse mundo que queremos viver. Mas como fazer para chegar até lá. Fora da caridade e da caridade com C maiúsculo, não há como estar neste mundo melhor. A salvação é exatamente essa, viver num mundo melhor, tendo nos melhorado em nossa escala evolutiva.

A Caridade é o único caminho!


NO FUTURO

(Chico Xavier/Emmanuel)

Quando o homem gravar na própria alma
Os parágrafos luminosos da Divina Lei,
O companheiro não repreenderá o companheiro,
O irmão não denunciará outro irmão.
O cárcere cerrará suas portas,
Os tribunais quedarão em silêncio.
Canhões serão convertidos em arados,
Homens de armas volverão à sementeira do solo.
O ódio será expulso do mundo,
As baionetas repousarão,
As máquinas não vomitarão chamas para o incêndio e para a morte,
Mas cuidarão pacificamente do progresso planetário.
A justiça será ultrapassada pelo amor.
Os filhos da fé não somente serão justos,
Mas bons, profundamente bons.
A prece constituir-se-á de alegria e louvor
E as casas de oração estarão consagradas ao trabalho sublime da fraternidade suprema.
A pregação da Lei
Viverá nos atos e pensamentos de todos,
Porque o Cordeiro de Deus
Terá transformado o coração de cada homem
Em tabernáculo de luz eterna,
Em que o seu Reino Divino
Resplandecerá para sempre.



A Cada um segundo as suas obras - O Som da Reforma
(Assis Furriel/ Marcio Alves)

A cada um de acordo com as suas sobras...
A cada um segundo as suas obras
De Amor, de Amizade e compaixão...
A vida que se vive nesse mundo não é brincadeira não
A caridade é nossa regeneração

Transformar o mundo é o que se quer
Cada um segundo a sua fé
Plantar o bem, amando a cada irmão
Saber se dar em nome do amor maior

Fora da caridade não há salvação
O maior tesouro é o que se tem no coração

Desprender de tudo o que é material
Deixar pra trás aquilo que nos causa mal
Levar do mundo só o bem que se viveu
E assim herdar a Terra que Jesus prometeu

Hum! Hum!... Hum!

A caridade é nossa regeneração


Referências: 

O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIII, itens 14, 15 e 16 (Allan Kardec)
Alvorada Cristã, capítulos 4 e 9 (Francisco Cândido Xavier/ Neio Lúcio)
Pão Nosso, cap. 41 - No Futuro (Francisco Cândido Xavier/ Emmanuel)


domingo, 22 de março de 2015

O artista, nós e o tempo



Foto: Alex Palarea
Este artigo é resultado de um debate com meu amigo Marcio Alves, músico e guitarrista de primeira, em comentários trocados no post de abril de 2013 no qual falo do último disco do Djavan, “Rua dos Amores”. Já deveria ter escrito esse texto desde então, mas outras prioridades foram tomando o meu tempo. Como recentemente voltamos à questão, resolvi publicar o que penso sobre o assunto: os clássicos ainda são possíveis? Nessa reflexão, veremos que uma série de fatores influencia diretamente na possibilidade ou não do surgimento de novas músicas ou mesmo discos inteiros que marcam uma época, como a idade do artista, interesses novos e influências que surgem através do tempo e, porque não dizer, a nossa própria noção do que seja um clássico hoje em dia; a nossa idade também que por vezes nos traz algum saudosismo, o que é bem comum e compreensivo. 

Nesse pequeno artigo que publiquei sobre o “Rua dos Amores” apresento o trabalho como o novo clássico do Djavan como há algum tempo ele não mais fazia. Ali explico os porquês. O fato é que o meu nobre amigo, apesar de ter achado o disco belo e bem feito, não achou tudo isso que eu disse e foi mais além, referindo-se a outros trabalhos antigos e que sem sombra de dúvidas foram e são obras referenciais da carreira do alagoano. Pois bem, fora o direito que todos temos de considerar bom ou muito bom, razoável, ruim ou muito ruim uma obra qualquer, e sendo música que é tão subjetiva, torna-se mais amplo ainda a opinião de quem admira, existe todo um conjunto de vivências, percepções, etc., que se interpõe entre o artista, o público e o tempo. Sim, o tempo é um elemento fundamental nessa abordagem para tentar entender a problemática.

Por que os artistas consagrados como Djavan, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Edu Lobo entre outros não fazem tantos clássicos mais? Ou será que eles existem e nós não sabemos ou mesmo não os compreendemos? O que é um clássico? Em outro post comento sobre o que torna uma música um clássico. Ali, no final do artigo, escrevo que “A história de uma música passa por isso que vimos: o disco no qual foi gravada; o tempo em que foi gravada ou composta; os artistas que a compuseram entre outras coisas.”

Os artistas obviamente envelhecem e não poderão compor e produzir os mesmos trabalhos repetidas vezes durante 20, 30, 40 e até 50 anos, como no caso, por exemplo, de “Só me fez bem” de Edu Lobo e Vinícius de Morais. O Edu tinha menos de 20 anos e seu parceiro já era o famoso e cultuado Vinícius. Ainda que não fosse uma bela música, já seria considerada como um marco. E ela é belíssima, tem 50 anos e parece que foi feita ontem de tão moderna.

Nos comentários trocados com o Marcio ele nos fala sobre uma regionalidade que o Djavan tinha em suas músicas, o que é uma verdade que o próprio artista assume e que segundo meu amigo a modernidade com o passar do tempo foi apagando ou diminuindo. Bem, eu considerei que era uma verdade, mas não absoluta, visto que desde o início Djavan já era bem moderno, bem cosmopolita, citando algumas das primeiras músicas dele. Por outro lado, citando álbuns mais recentes, mencionei algumas de características rurais, nordestinas. 

É natural que o artista mude, evolua e ainda assim, mantenha suas raízes, seu estilo. Por exemplo, no caso desse artista, desde o início, Djavan procurou incluir ritmos diversos em seu trabalho, como os ritmos nordestinos, os sambas, as bossas, os funks suingados e jazzísticos e canções (estas últimas as minhas preferidas por sinal). Logicamente essas misturas foram se sofisticando à medida que o tempo passou e o artista foi conhecendo mais, viajando mais, como foi com o caso dos ritmos flamencos que a partir de “Malásia” tornou-se mais constantes. Se fizermos uma comparação com o ”Rua dos Amores” e alguns dos primeiros discos, será fácil notar essa assinatura plural do artista. 

Na conversa, acabamos por concluir que tal fenômeno se dá também com os demais artistas consagrados. O que é natural. Um dia tive a oportunidade de encontrar com Zélia Duncan e perguntei a ela porque não voltava com um show que eu adoro e que fugia muito da marca dela. O disco é “Eu me transformo em outras”, no qual ela gravou uma série de clássicos do samba e da canção tradicional brasileira e estrangeira. Como estava envolvido com o estudo do samba à época desse encontro, fiquei vidrado no disco, mas ela me disse que aquilo foi muito bom, mas que já tinha passado. Deu o que tinha que dar. Ela estava em outra e não pensava em voltar àquele trabalho. Eu entendi prontamente o que ela dizia. No mesmo momento quando falei do meu trabalho ela me perguntou por que não escrevia sobre a Tropicália, aí pensei comigo, pelo mesmo motivo dela com o seu trabalho. O meu interesse era o samba, o samba da antiga e a tropicália tem “trocentos” trabalhos feitos. Não que o samba não tenha, mas era o meu interesse no momento.

As décadas passaram-se, a política é outra (ruim ainda, mas outra), a sociedade mudou e nós envelhecemos. Conversando ainda com outro amigo, observamos que até o modo de ouvir música hoje em dia é outro. Antigamente, se marcava encontros especiais para ouvir em grupo discos novos de artistas consagrados. Lembro que me sentava ao chão da sala, ao lado da estante e ouvia em sequência cronológica todos os discos do Milton e do pessoal do Clube da Esquina que eu tinha. Lia a letra acompanhado o canto e olhava as fotos dos encartes adivinhando quem eram as pessoas, ou músicos etc. Eram outros tempos. Hoje ouvimos música de modo muito fragmentado. Ouvimos arquivos individuais, mp3 entre outros, nos ipods da vida, sem tempo de sentir e entender as mensagens poética e melódica das canções. Como então reconhecer um clássico na atualidade.

No meu caso, com o “Rua dos Amores”, foi no carro. Comprei o disco depois de ouvir no youtube uma música que me pegou de jeito que foi “Bangalô”. No começo não via nada demais mesmo, principalmente quando estava acompanhado, conversando. Mas fiquei bastante tempo com ele no carro e tive oportunidade de ouvi-lo sozinho muitas vezes. Aí aconteceu, uma a uma foi marcando em minha memória e à medida que ia decorando, mais eu gostava. Então, consegui perceber detalhes melódicos, poéticos, de instrumentos e arranjos que me confirmaram que ele havia voltado sim a um trabalho de fôlego e de qualidade especial. Moderno como sempre foi; sofisticado como não poderia de deixar de ser e iluminado como deve ser um disco que marca.


Djavan fala do disco






segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Trilha Produções

Trilha Produções é o canal de vídeos produzidos por João Pedro Furriel e seus amigos Daniel Marques e Pedro Alves. O trio realiza os filmes a partir de ideias soltas, sem uma obrigatoriedade conceitual. Porém, esse descompromisso acaba por criar uma marca que se observa nos trabalhos já criados: uma brincadeira sobre filmar e se filmado a partir de um assunto qualquer. No fundo é uma grande diversão que a turma se proporciona a medida que vai se familiarizando com as técnicas e a magia do cinema. Boa diversão! 




Em busca do vídeo perfeito



Trailer Trilha






domingo, 22 de fevereiro de 2015

Ainda derretendo em poesia

"Poema de Fevereiro"


O suor não só me afoga no calor das horas
Das horas intermináveis,
Dos dias solares, luminosos,
Como me queima e arde a alva pele que implora:

Que venha o frio!


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Beleza e Encanto

Canção 

Vivo um sonho
Desses que não se quer acordar
Um mundo azul no qual você está
Quando surpreendente surges
As estrelas cintilam um clarão
Bordando e tingindo
Seu vestido de luz sideral

A lua desce para espiar
A tal beleza que despertas, ah!
Romântica que é, sequer se apercebeu
Que na sua ausência
O céu silenciou
E o firmamento escureceu


por Assis Furriel


sábado, 3 de janeiro de 2015

Da aridez, a poesia

Seu olhar quando me molha
Não é de lágrimas, é de mar

Seu olhar quando me pega
É no jeito, no modo subentendido do desejo

Seu olhar molhado é de esperança
Que me torna verde o que em mim era pó

Essa chuva do olhar não é qualquer chuva
Até porque minha aridez não é palpável, visível

Sou solo fértil abandonado

Assis Furriel