terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Todos nós

( Gijs Andriessen / Juca Filho )

Na calma de uma lua do Xingu
Debaixo do mistério do Equador
A história que um Cacique me contou
Sozinho numa rua de Paris
O brilho aventureiro de um olhar
Espíritos ciganos, todos nós

O sol em Nova Deli de manhã
É o mesmo que ilumina Amsterdan
E brilha nas trincheiras do Irã
No frio solitário de um Iglu
O abraço companheiro de um amigo Esquimó
E na verdade nunca estamos sós
O povo do planeta somos nós

Meninas lindas do Afeganistão
Crianças numa praia do Japão
O Tai-Chi nas praças de Pequim
Chorando o coração da África
Na vibração dos filhos de Xangô
Cantando a esperança e não a dor

No fundo todos Deuses são iguais
As línguas e as religiões
Se encontram no bater dos corações
O povo do planeta somos nós
Vivendo juntos mais uma vez
E na verdade nunca estamos sós
No fundo todos homens são iguais


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Enquanto isso... o disco de Claudio Nucci que não saiu!

Capa do K7
Recentemente, trocando novidades históricas musicais sobre Claudio Nucci com meu amigo Túlio Villaça, resolvi contar-lhe uma história sobre o cantor e compositor que acompanhei e presenciei a partir de uma apresentação sua. A história fonográfica do Nucci, apesar de belíssima, é mesmo difícil. 

Lá pelo início dos anos 90, se não me engano, no ano de 91, meu amigo Luiz Claudio, músico guitarrista, me convidou para ver um show dele na sala Sidney Miller. Era o lançamento de um novo trabalho, mas que por falta de patrocínio estava sendo vendido em fita K7 com o nome "Enquanto isso..." (naturalmente, porque enquanto o disco não saísse, o K7 resolvia). Não me lembro se nessa época o CD já era comum. Pois bem, comprei o K7. Resolveu mesmo. A obra é lindíssima, com Sapato Velho, uma música linda sobre o bairro de Santa Tereza (Manhã de Santa de Tereza) e outras pérolas. Sem contar a turma de primeira que o acompanhava, entre os quais Áurea Regina, Jaques Morelenbaüm, Mu Carvalho e por aí vai.

Mais tarde, no programa Jazz+Jazz da rádio Globo Fm, no qual se apresentava a Banda Zil, grupo do qual fazia parte, Nucci falou que o disco ainda estava por sair e se chamaria "Luz e Breu", mas acredito que não saiu mesmo. Aliás, um parêntese: (será preciso uma nova postagem somente pra falar da Banda Zil. Um cometa brilhante e magnífico que passou rapidamente por nós e não mais voltou). Mas, isso é uma outra boa história. 

Depois de algum tempo, emprestei o K7 a uma amiga que ficou encantada e demorava em me devolver. Fiquei aflito, com medo de perdê-lo. Como já havia acontecido com outros discos e livros (histórias comuns a muitas pessoas). Insisti que era uma raridade e que eu o queria de volta. Pois bem: ela me fez o favor de me devolver e ainda por cima me presenteou com um CD, que um amigo dela produzira a partir do K7. Importante frisar que nesse tempo esse tipo de transcrição ainda não era comum. Pouca gente fazia esse trabalho e ainda era caro. Logo, desde então, tenho a obra também em CD.

Essa e outras tantas histórias semelhantes são histórias de paixão e reverência pela música de qualidade e que nos sensibiliza de modo indelével!





Capa simples, improvisada para o CD com mensagem carinhosa
de minha amiga Sonia Regina, da qual me lembro sempre, 
principalmente, enquanto ouço Claudio Nucci.





segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pelo sim pelo não



Quero falar um pouco desse disco importante da carreira desses dois artistas fantásticos que são Claudio Nucci e Zé Renato. Encontrei-o num canto meio escondido e empoeirado. Fazia muito tempo que não o escutava. Houve um tempo em que ouvi tanto esse disco que acredito por isso tenha dado um tempo dele. Mas, voltando agora a ouví-lo, depois de um longo período, é como reviver um tempo muito bom, quando se tem vinte e poucos anos.

O disco de interessante sucesso, devido a música título que fez parte da trilha sonora da novela, de enorme sucesso, "Roque Santeiro", é na verdade recheado de melodias e letras de extrema sensibilidade e poesia. Isso não toca no rádio, muito menos em novelas engraçadas das oito!

Quando o Claudio Nucci saiu do grupo Boca Livre, logo após o primeiro disco de 1979 (e olha  que esse primeiro disco é uma obra-prima), fiquei pensando o porquê. Ele era uma figura marcante. Talvez a mais marcante entre as outras figuras fantásticas. Pensei: que desprendimento! O segundo, o terceiro e os demais discos do grupo foram maravilhosos também e o Nucci não estava mais lá. No entanto, os primeiros discos solos dele, embora continuassem a não vender muito, também foram igualmente maravilhosos. Sua amizade com o parceiro Zé Renato (talvez a voz masculina mais bela e afinada da nossa música atual) já contava de antes ainda do Boca e eu acho que bateu uma saudade de cantar juntos, uma vontade de um reencontro. Dessa saudade e dessa vontade, surgiu esse trabalho em 1984. Maravilha para os que gostam da boa música que não se descarta. Pode, no máximo ficar no armário por um tempo, mas depois volta com toda vitalidade que lhe é própria.



1 Pelo sim, pelo não Claudio Nucci / Juca Filho / Zé Renato 
 2 Paino Claudio Nucci
3 Toda luz Zé Renato / Juca Filho
4 Papo de passarim Zé Renato / Xico Chaves
5 Atravessando a cidade Juca Filho
6 A hora e a vez Claudio Nucci / Ronaldo Bastos / Zé Renato
7 Quinhentas mais (Five Hundred Miles) H West / tradução Marcio Borges
H. West 8 Macondo Zé Renato / Xico Chaves
9 Mel da ilha Maurício Maestro / Claudio Nucci / Ronaldo Bastos / Zé Renato
10 Manágua Xico Chaves / Claudio Nucci
11 De nós Bizet / domínio público / adaptação Claudio Nucci



Resolvi criar alguns vídeos desse disco e disponibilizá-los no Youtube, pois só encontrava o "Pelo sim pelo não" da tão famosa novela global.






quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Contrastes que aproximam

 
Em visita à exposição "Mulheres negras em diásporas" do fotógrafo Januário Garcia, na qual o artista nos mostra várias imagens de mulheres negras de vários países da América Latina, como Argentina, Peru, Venezuela entre outros, resolvi fotografar a mim mesmo junto a esta foto que considero emblemática em toda a obra de Januário. Ele mesmo já me confidenciou o seu apreço por essa imagem. Do resultado do meu registro me veio esses contrastes que resolvi listar nessa minha homenagem ao amigo Janu.



O velho e o novo
  A mulher e o homem
O preto e branco
O preto&branco e o colorido
A África e a Europa
O rural e o urbano
O Brasil e o Brasil
A senhora e o rapaz
A experiência e o aprendiz
A fotografia e o admirador
O ícone e o observador atento
A avó e o neto


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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Viva Zapata! – Uma resenha crítica


O filme de Elia Kazan de 1952*, que traz Marlon Brando no auge de sua juventude e o já experiente e fabuloso Anthony Quinn é um clássico do cinema mundial. Kazan se uniu ao roteirista John Steinbeck para juntos contar a história da revolução mexicana a partir de um dos seus mais importantes líderes: Emiliano Zapata. A produção hollywoodiana da Twentieth Century Fox apresenta um conjunto de elementos que possibilita uma análise bem abrangente. O filme é bom! Indiscutivelmente, é muito bom, tendo recebido quatro indicações ao Oscar: melhor Ator (Marlon Brando); melhor Direção de Arte, melhor Trilha Sonora e melhor Ator Coadjuvante (Anthony Quinn), este último, o único premiado.


O filme
O longa conta a história de Emiliano Zapata, líder revolucionário, que revoltado com as arbitrariedades cometidas pelos grandes proprietários de terras, resolve reagir, liderando os camponeses pela recuperação das suas terras, que haviam sido tomadas por esses grandes fazendeiros com o apoio do presidente Porfírio Diaz, há mais de trinta anos no poder.

Zapata é convocado por Madero, candidato derrotado à presidência e que estava exilado nos EUA, para liderar os camponeses ao sul. Assim, acreditava que com ele ao norte e Zapata ao sul conseguiriam recuperar a democracia. O problema é que Zapata estava preocupado apenas com a devolução das terras para os agricultores. Os dois conseguem derrubar Porfírio Diaz, que foge para os EUA, mas não sem evitar a morte de muitos camponeses. Madero, por sua vez, é vítima de um golpe, articulado pelo general Victoriano Huerta, que mantém a situação como no governo de Diaz.

Enfim, após a união com Pancho Villa, os rebeldes conseguem derrotar Huerta e então, Zapata, contra sua vontade, assume a presidência. Porém, quando vê que a situação começa a se repetir como antes, desiste do cargo e volta às montanhas para o combate. Ao fim, acaba morto numa emboscada, traído por Aguirre. Seu corpo é exposto em praça pública, mas imediatamente os camponeses que o encontram decidem que vão acreditar que seu herói ainda vive nas montanhas e que sempre que for preciso ele retornará.


A crítica
Se pudéssemos somente deter-nos na trama e no entretenimento (e isso é possível), deixando de lado análises mais sofisticadas de ordem estética ou histórica, o filme, ainda assim, se revelaria de alta qualidade. No entanto, um clássico não se faz apenas do entretenimento. “Viva Zapata!” é o resultado da conjunção de fatores importantes que o torna o que é: a direção e a produção, os atores, a história contada (a revolução mexicana), a época da produção e seu contexto político, etc.

O diretor Elia Kazan, reconhecido por sua genialidade artística, mas também por sua participação na política de delação** dos comunistas na “’era macartista”, já era um premiado diretor, tendo dirijo Brando em “Uma rua chamada pecado”. Esta produção, adaptada da peça de Tennessee Williams, “Um bonde chamado desejo”, de 1947, ganhou o prêmio especial do júri do Festival de Veneza em 1951. O diretor voltaria a juntar-se ao ator em “Sindicato de ladrões” de 1954, tendo recebido por este trabalho o Oscar de melhor direção. Sua experiência teatral certamente contribuiu para a forte dramaticidade do filme, assim como em sua estética visual. As cenas finais que mostram sua morte demonstram bem esses aspectos: o silêncio mórbido do momento; as mulheres beatas, rezando seus terços tendo por detrás a sombra de uma cruz na parede; os closes do cavalo agitado, como que pressentindo o que estava por ocorrer; as mulheres encaminhando-se para o corpo morto de Zapata, na praça; a decisão de torná-lo imortal, naquele momento, pelos camponeses. Tudo isso é bem marcante e profundo.

O filme apresenta um Marlon Brando após o grande sucesso de “Uma rua chamada pecado”, no qual se tornara um símbolo sexual. O galã empresta toda sua elegância e beleza a um personagem rural e rude. A intenção de Kazan, segundo alguns críticos, era a de opor, a partir de um contexto da “Guerra Fria” dos anos 1950, o ideal democrático norte-americano e o comunismo soviético. Neste caso, “Zapata era o representante da bondade e da luta honesta, e Fernando Aguirre, traidor e manipulador”.

No caso de Andréa de Fazio***, seu trabalho, “Viva Zapata!, de Elia Kazan: um olhar norte-americano sobre a América Latina durante o período macartista (1950-1954)” propõe “uma análise sobre as formas que os Estados Unidos vêem o México, e de forma mais abrangente, a América Latina, através das visões, imagens e representações construídas pelo filme Viva Zapata!”.

De certo modo, as questões políticas dos anos pós Segunda Guerra influenciaram bastante as produções desta época, assim como suas análises críticas as quais foram objetos.

Em 1999, a Academia de Hollywood concedeu a Kazan o Oscar honorário pelo conjunto da obra. Esta decisão gerou protestos de vários artistas que se opuseram a homenagem.

Teses e protestos à parte, a genialidade de Kazan, ainda que represente uma figura contraditória, se mostra a toda prova.

Trailer



   * Ficha técnica em: http://www.adorocinema.com/filmes/viva-zapata/
 **] Elia Kazan, o delator. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2003/09/29/000.htm
*** De FAZIO, Andréa Helena Puydinger. Viva Zapata!, de Elia Kazan: um olhar norte-americano sobre a América Latina durante o período macartista (1950-1954). Disponível em: http://www.anphlac.org/ periodicos/anais/encontro8/andrea_fazio.pdf