O filme de Elia Kazan de 1952*, que traz Marlon Brando no auge de sua juventude e o já experiente e fabuloso Anthony Quinn é um clássico do cinema mundial. Kazan se uniu ao roteirista John Steinbeck para juntos contar a história da revolução mexicana a partir de um dos seus mais importantes líderes: Emiliano Zapata. A produção hollywoodiana da Twentieth Century Fox apresenta um conjunto de elementos que possibilita uma análise bem abrangente. O filme é bom! Indiscutivelmente, é muito bom, tendo recebido quatro indicações ao Oscar: melhor Ator (Marlon Brando); melhor Direção de Arte, melhor Trilha Sonora e melhor Ator Coadjuvante (Anthony Quinn), este último, o único premiado.
O filme
O longa conta a história de Emiliano Zapata, líder revolucionário, que revoltado com as arbitrariedades cometidas pelos grandes proprietários de terras, resolve reagir, liderando os camponeses pela recuperação das suas terras, que haviam sido tomadas por esses grandes fazendeiros com o apoio do presidente Porfírio Diaz, há mais de trinta anos no poder.
Zapata é convocado por Madero, candidato derrotado à presidência e que estava exilado nos EUA, para liderar os camponeses ao sul. Assim, acreditava que com ele ao norte e Zapata ao sul conseguiriam recuperar a democracia. O problema é que Zapata estava preocupado apenas com a devolução das terras para os agricultores. Os dois conseguem derrubar Porfírio Diaz, que foge para os EUA, mas não sem evitar a morte de muitos camponeses. Madero, por sua vez, é vítima de um golpe, articulado pelo general Victoriano Huerta, que mantém a situação como no governo de Diaz.
Enfim, após a união com Pancho Villa, os rebeldes conseguem derrotar Huerta e então, Zapata, contra sua vontade, assume a presidência. Porém, quando vê que a situação começa a se repetir como antes, desiste do cargo e volta às montanhas para o combate. Ao fim, acaba morto numa emboscada, traído por Aguirre. Seu corpo é exposto em praça pública, mas imediatamente os camponeses que o encontram decidem que vão acreditar que seu herói ainda vive nas montanhas e que sempre que for preciso ele retornará.
A crítica
Se pudéssemos somente deter-nos na trama e no entretenimento (e isso é possível), deixando de lado análises mais sofisticadas de ordem estética ou histórica, o filme, ainda assim, se revelaria de alta qualidade. No entanto, um clássico não se faz apenas do entretenimento. “Viva Zapata!” é o resultado da conjunção de fatores importantes que o torna o que é: a direção e a produção, os atores, a história contada (a revolução mexicana), a época da produção e seu contexto político, etc.
O diretor Elia Kazan, reconhecido por sua genialidade artística, mas também por sua participação na política de delação** dos comunistas na “’era macartista”, já era um premiado diretor, tendo dirijo Brando em “Uma rua chamada pecado”. Esta produção, adaptada da peça de Tennessee Williams, “Um bonde chamado desejo”, de 1947, ganhou o prêmio especial do júri do Festival de Veneza em 1951. O diretor voltaria a juntar-se ao ator em “Sindicato de ladrões” de 1954, tendo recebido por este trabalho o Oscar de melhor direção. Sua experiência teatral certamente contribuiu para a forte dramaticidade do filme, assim como em sua estética visual. As cenas finais que mostram sua morte demonstram bem esses aspectos: o silêncio mórbido do momento; as mulheres beatas, rezando seus terços tendo por detrás a sombra de uma cruz na parede; os closes do cavalo agitado, como que pressentindo o que estava por ocorrer; as mulheres encaminhando-se para o corpo morto de Zapata, na praça; a decisão de torná-lo imortal, naquele momento, pelos camponeses. Tudo isso é bem marcante e profundo.
O filme apresenta um Marlon Brando após o grande sucesso de “Uma rua chamada pecado”, no qual se tornara um símbolo sexual. O galã empresta toda sua elegância e beleza a um personagem rural e rude. A intenção de Kazan, segundo alguns críticos, era a de opor, a partir de um contexto da “Guerra Fria” dos anos 1950, o ideal democrático norte-americano e o comunismo soviético. Neste caso, “Zapata era o representante da bondade e da luta honesta, e Fernando Aguirre, traidor e manipulador”.
No caso de Andréa de Fazio***, seu trabalho, “Viva Zapata!, de Elia Kazan: um olhar norte-americano sobre a América Latina durante o período macartista (1950-1954)” propõe “uma análise sobre as formas que os Estados Unidos vêem o México, e de forma mais abrangente, a América Latina, através das visões, imagens e representações construídas pelo filme Viva Zapata!”.
De certo modo, as questões políticas dos anos pós Segunda Guerra influenciaram bastante as produções desta época, assim como suas análises críticas as quais foram objetos.
Em 1999, a Academia de Hollywood concedeu a Kazan o Oscar honorário pelo conjunto da obra. Esta decisão gerou protestos de vários artistas que se opuseram a homenagem.
Teses e protestos à parte, a genialidade de Kazan, ainda que represente uma figura contraditória, se mostra a toda prova.
Trailer
**] Elia Kazan, o delator. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2003/09/29/000.htm
*** De FAZIO, Andréa Helena Puydinger. Viva Zapata!, de Elia Kazan: um olhar norte-americano sobre a América Latina durante o período macartista (1950-1954). Disponível em: http://www.anphlac.org/ periodicos/anais/encontro8/andrea_fazio.pdf
Have a SUPER week, Assis !
ResponderExcluirThank you, Harry!
ResponderExcluirI hope you have understood and enjoyed the text about the movie!
I really like "Viva Zapata!"
A good week for you too!