Uma abordagem do capítulo 3 Os outros e os outros do livro Antropologia e Comunicação: Princípios Radicais de José Carlos Rodrigues
No texto Homens e crocodilos, a partir da afirmação de Claude Levy-Strauss de que “o mundo começou sem o Homem e terminará sem ele”, o autor José Carlos Rodrigues nos propõe uma reflexão sobre aquela que tem como papel a principal alavanca da antropologia: a relativização. Seria a relativização capaz de mostrar o Homem como uma função a mais de outras funções maiores, mais totais, sem por fim a si própia? Deixaria ele de ser mais importante por perceber-se parte de uma totalidade maior como o Cosmo?
O micro
O Homem com sua lente de microscópio, não se contenta em olhar somente o global, mas também o micro. Esforça-se em mostrar os “todos” como efêmeros que, para ele, são resultados dos “todos”, arquitetados em mentes inteligentes que pensam as várias formas imagináveis de mundo. São totalizações artificiais que podem muito bem se dissolverem com abalos das visões e critérios a partir dos quais foram criadas.
O macro
Um cientista, através de sua visão macroscópica , certamente inseriria o homem, como sendo mais um todo dentro de tantos outros de uma totalidade universal. O mundo já existia há muito tempo antes do aparecimento da espécie humana. O cientista Carl Segan propôs um “Calendário Cósmico”, que reduziria toda a criação do universo, desde o possível “big-bang” aos dias atuais, no espaço de 365 dias do nosso calendário cristão. Nele, somente nos últimos minutos, teria surgido o homem. Do meio das transformações, o Homem resultaria como mais uma das funções possíveis. De modo que o mundo poderia existir sem ele, como fez durante a maior parte de sua história.
O Homem é incomensuravelmente grande por sua complexidade singular; sua capacidade de criar mundos novos. Ao mesmo tempo em que surge no último minuto do calendário cósmico, é ele quem sabe disso e não o cão ou o gato ou mesmo o crocodilo. É o Homem quem estuda e descobre o grande e infindável cosmos e não o contrário. Costuma-se dizer que Deus lhe deu o livre-arbítrio para livre decidir, até mesmo, que não é de todo livre ou mesmo se o próprio Deus existe. Isso realmente não é pouco. Entretanto, ainda assim, não deixa de ser uma parte, ainda que maravilhosa, dessa engrenagem total.
Pois é essa visão antropocêntrica que difere o Homem dos outros animais. Outros não podem ver senão o que seus sentidos, suas estruturas cerebrais, suas condições de vida lhes permitem. A realidade é filtrada por cada forma de percepção das várias espécies. O mundo externo é filtrado pelas lentes naturais dos homens, dos gatos, dos cães, cavalos, minhoca, etc., compondo assim mundos compactos particulares a cada um. Não pode qualquer animal, por sua limitação dos sentidos, captar a realidade e dominar todo o conhecimento, nem mesmo o Homem. Logo, pode-se concluir que determinados animais não compartilham do mesmo universo sonoro; outros, do mesmo universo olfativo, entre outros exemplos. “O antropocentrismo é a lente sem a qual somos cegos e - pior – sem imaginação”.
Cultura, culturas
A Cultura é, naturalmente, a lente humana. O mundo é uma enorme soma de povos, tribos de diversas culturas espalhados pelo orbe. Logo, fala-se de diversas lentes produzindo inúmeros mundos próprios. Totalizações, produtos de uma mesmo todo complexo que é o ser humano. Pode-se dizer que os ocidentais vêem o mundo de uma forma que não a dos esquimós, que por sua vez não vêem o mundo como os orientais, e estes talvez nem saibam de detalhes da percepção dos que vivem na África. Isso, para não falar dos aborígenes da Oceania e dos índios do interior do continente americano.
De certo modo, poderíamos dizer que as culturas são como as regras de um jogo: precisamos conhecê-las para compreendermos o universo do outro. Assim que temos esse conhecimento, tudo passa a ter sentido.
“Para os índios Tupi, por exemplo, a floresta é todo um conjunto de significados. O que para o antropólogo é uma amontoado confuso de árvores, para eles serve de guia, como referência espacial. Ao invés de marcar um encontro nas esquinas como nós, freqüentemente usam determinadas árvores como ponto de referência. A visão da floresta, que para nós é um mundo vegetal amorfo, para eles é vista como conjunto ordenado, constituído de formas vegetais bem definidas”.
Essa discussão sempre me interessou. Cheguei até a pensar em um dia talvez estudar mais profundamente Antropologia,mas o já conhecido tempo terráqueo corre e outras prioridades surgem...
ResponderExcluirNo entanto, tem um texto que jamais esquecerei e que "carrego" comigo. Se você já leu é bom reler, se não, aí fica a dica: "O ritual do corpo entre os Sonacirema": Texto de Horace Minner e se não me engano foi traduzido por Eduardo Viveiros de Castro.
Abraços!
Já li e acabei de reler. Na verdade, não havia lido, mas ouvido a leitura por um professor numa aula de Antropologia II. A idéia dele era a de nos levar a achar mesmo que era um povo exótico. Porém, logo se percebe nuances de nós mesmos. E no final, a descoberta. È muito bom mesmo esse texto. Boa lembrança.
ResponderExcluirEscalas, escalas ... música.
ResponderExcluirBoa!
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