Falar da beleza desse livro e do autor maravilhoso que é o Marcio Borges é falar também de um tempo e de algumas vivências que experimentei à época da minha leitura do livro. Era o ano de 1997 e eu estava com toda a sonoridade do disco Nascimento (até então, o mais recente trabalho do Milton), que pra mim era uma espécie de retomada do espírito de seus discos dos anos 70. Além disso, tinha acabado de voltar de uma viagem que fiz com minha esposa Rita e um casal de amigos às cidades históricas mineiras. Estava encharcado de todas aquelas impressões barrocas e também da capital Belô, na qual havia estado um pouco antes numa visita que Rita e Eu fizemos a um amigo nosso, neste mesmo ano. De modo que, estava pronto para embarcar nos sonhos que não envelhecem.
O livro “Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina”, cujo título remete a uma frase da música Clube da Esquina n°2: "Porque se chamavam homens/ Também se chamavam sonhos/ E sonhos não envelhecem" (de Lô Borges, Marcio Borges e Milton Nascimento), é uma sucessão de memórias do autor, que narra em primeira pessoa e que se revela na grande personagem da história, embora toda a narrativa gire em torno da figura central de Milton Nascimento. O livro conta a história do importante movimento musical mineiro chamado “Clube da Esquina”, revelado para o grande público a partir do disco “Clube da Esquina” de 72, no qual Milton Nascimento divide a autoria com o jovem Lô Borges (irmão de Marcio) e que tem a participação de uma galera enorme, bem ao estilo gregário dos anos 70. Ali apareceram não somente Lô, como Beto Guedes, Toninho Horta entre outros músicos maravilhosos.
A meu ver, a grande e agradável surpresa do livro foi descobrir essa pessoa linda e sensível que é o Marcio Borges. Não é a toa que é ele um dos principais poetas do Clube. Mais que uma história de artistas geniais vivida no auge de sua criatividade, o livro é uma declaração de amor do autor a um amigo muito querido. Um amor fraterno de um menino sensível, que descobre a vida ao mesmo tempo em que descobre a amizade sincera. É um encanto descobrir essa relação à medida que a leitura avança, como quando da criação da parceria (anterior ao próprio Brant) influenciados pelas várias sessões seguidas de Jules et Jim, de François Truffaut, que Marcio apresenta ao amigo. Ficaram tão inspirados com o clássico que saíram dali direto para o “quarto dos homens” da casa de D. Maricota e Seu Salomão (pais dos Borges) e começaram a compor aos borbotões. São desse momento canções como Paz do amor que vem (Novena), Gira-Girou e Crença, tudo como diz o próprio autor “sempre acabando devidamente comemorado por nós dois com muita batida de limão no Bigodoaldo’s”. Esses eventos etílicos, inclusive, acabaram narrados em “Viola, violar”, composição da dupla em “Milagre dos peixes”, gravado ao vivo em 1974: “Violar vinte fracassos de mudar de tom/ Vinte morenas para desejar/ Vinte batidas de limão”.
A intenção desse prefácio é a de observar essa atmosfera criada pelo autor a partir do seu talento muito influenciado pelo cinema. Acredito que sua experiência com o filme do Truffaut, ainda muito jovem, o fez quedar para uma narrativa mais cinematográfica. Tem-se a impressão de estar vendo um filme. Um filme tão emocionante quanto aquele que o inspirou.
No final do livro, no seu posfácio escrito pelo próprio Bituca, este conta que numa passagem por Nova York, foi levado de surpresa por um amigo ao encontro da atriz Jeanne Moreau, a sua musa de Jules at Jim. Milton conta que tremeu diante da já senhora atriz. Depois de ouvir a história do músico, a atriz lhe disse: “Como é bela a arte, Milton. Trabalhamos numa coisa aqui e vamos tocar a alma de quem nem sabemos e nem onde. Ontem fui eu, Truffaut e agora é você. Que lindo e que responsabilidade”.
Emocionei-me muito nesta passagem como em muitas outras, e sempre que quero me sensibilizar, retorno ao livro que já li várias vezes. Assim que terminar umas leituras obrigatórias, lerei novamente para que os meus sonhos continuem vivos e jovens.
Clube da Esquina nº2
(Milton Nascimento, Lô Borges e Marcio Borges)
(Milton Nascimento, Lô Borges e Marcio Borges)
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Esse pessoal "é da pesada" no melhor sentido da expressão. Adoro eles desde a minha adolescência. Tive até vontade de ler o livro. A capa é adorável.Será mais um para a minha lista ...
ResponderExcluirAbraços!
Não deixe mesmo de ler!
ResponderExcluirtio assis sou eu allan
ResponderExcluirseu blog e super interessante gostei
Olá Allan,
ResponderExcluirque bom que gostou! Vou postar algumas histórias infantis legais que eu acho que vai gostar.
Valeu amigão!
Vivos e jovens nos sentimos ao ter a grata satisfação de lermos seus artigos que muito nos emocionam!
ResponderExcluirVocê tem a genealidade de transmitir o sentimento latente em suas veias, pulsando forte em seu coração!
Cara! Sou incondicionalmente sua fã!
I LOVE YOU!
DEISE CORDEIRO CANDREVA
P.S: São tantas lembranças de dessa vez me lembrei da professora Deyse, de inglês, da João de Camargo!kkkkk Viu a mágica que você faz? BJ!
Deise,
ResponderExcluirmuito obrigado pelas palavras carinhosas!
Você também é um amor!
Bjs.
Adoro este livro! Li em dois dias !
ResponderExcluirAs histórias são lindas e as fotos
maravilhosas! Ainda vem com um cd de músicas.
Aliás, o barato do livro é este ler e ouvir... muito bom !
Pra mim esta leitura funcionou também como uma terapia. Li assim que minha irmã foi morar em B.H ( separação dolorosa ).
Depois fui em Belô e conheci vários lugares mencionados no livro...ruas...a Santa Tereza de lá... muito legal! Adoro esse movimento musical. Deu vontade de ler de novo!
bjs.
ResponderExcluirMuito legal Assis essas histórias dos costados das Minas Gerais
Valeu, Januário!
ExcluirSua presença neste espaço é uma honra para mim.
Grande abraço, meu amigo.
Muito bom entrar no seu blog e ler seus textos , suas histórias ,ouvir as músicas e também ler os comentários . Adoro . Beijos .
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