Com o fim da escravidão, o negro passa a ter um problema que é buscar seu próprio sustento. O Estado não elaborou uma política de inserção do negro na sociedade e no mercado de trabalho. Num momento de industrialização e da busca de uma modernidade, o país que havia deixado o “escravismo” para entrar no “capitalismo”, não contou com a participação da mão-de-obra, agora livre, negra. Portanto, esse contingente negro busca, por sua própria sorte, uma colocação na sociedade excludente de então.
Despreparado para o mercado moderno de trabalho e tendo, acima de tudo, grande concorrência dos estrangeiros, os negros acabam por exercer atividades menores e toda a forma de subempregos, incorporando também a massa de desocupados que habitava o centro da cidade e arredores. “No Brasil moderno, as negras achariam alternativas no trabalho doméstico ou seriam pequenas empresárias com suas habilidades de forno e fogão; ou, juntamente com o homem, procurariam o sustento através de pequenos ofícios ligados ao artesanato e à venda ambulante. No Rio de Janeiro abriam-se oportunidades na multiplicidade de ofícios em torno do cais do porto, para alguns na indústria, para os mais claros na polícia, para todos no exército”. (Moura: 1983, p. 43).
A imagem negativa do negro preguiçoso e malandro e que não gostava do trabalho se deu por conta de muitos que ficaram à margem: prostitutas, cafetões, malandros, outros ainda, que ganhavam a vida com o que aprenderam nas festas populares, trabalhando em cafés, cabarés, circos e palcos das revistas. Esses, juntamente com outros segmentos populares, oscilaram entre o subemprego urbano e a marginalidade carioca.
A participação do trabalho exercido pelo negro marcará definitivamente a história das atividades do cais do porto. Sua participação nas organizações de trabalhadores se dará fortemente, como na Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em Trapiches de Café, tendo uma participação maciça dos negros, inclusive em suas lideranças, tendo sido chamada anteriormente Companhia de Pretos.
Durante as obra de remodelação da cidade, o trabalho era oferecido nas esquinas do centro, assim como a seleção dos candidatos. Os negros levavam sempre desvantagem em relação aos brancos. Roberto Moura revela a voz das testemunhas como a de D. Carmem, vizinha das obras na época, que depõe: “quem trabalhava mais mesmo era o português, essa gente, espanhóis, era mais essa gente. Não era fácil, eles não gostavam de dar emprego pro pessoal preto da África, que pertencia assim à Bahia, eles tinham aquele preconceito”. (Moura: 1983, p. 44).
(Continua...)
.................................................................................................
[1] Disponível em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-da- populacao-brasileira/brasil-um-pais-de-migrantes.php
MOURA, Roberto. Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1983.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário