segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O calor de Janeiro

 
Tem sido bem difícil enfrentar a onda de calor dos últimos meses. Desde novembro, passando por um dia, cuja sensação térmica chegou a 50 graus, não me lembro de um calor tão forte. Sensação térmica, nova expressão para a explicação do calor. Já foi El Niño e outros que não me lembro. O mês de janeiro, principalmente aqui no Rio de Janeiro, costuma ser marcado por dias quentes de alto verão, e se caracterizam também pelas chuvas torrenciais que ao passo que refresca a atmosfera, deixam rastros de tragédias, infelizmente, quase sempre esperadas. Porém, neste janeiro de 2014 o tempo se mostrou extremamente quente e seco. Alguma chuva caiu, mas não o suficiente para o refrigério necessário.
 
Não gosto muito de chover no molhado, ou de "secar no árido", mas o fato é que aquilo que sempre foi incômodo, quando torna-se insalubre é mesmo preocupante. Nunca usei tanto o aparelho de ar-condicionado. Percebo que a conta alta de energia elétrica não me mete medo o bastante para eu ceder ao calor e dormir suando em bicas (quando se consegue dormir). O termômetro pessoal disparou definitivamente ontem. Após ter sentido um mal-estar quando caminhava ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul da cidade. Minha esposa e eu temos praticado esse exercício. Nos finais de semana, bem cedo, enquanto caminho, Rita corre ao meu lado. Isso tem sido muito prezeroso para nós. Porém, neste último domingo, fomos um pouco mais tarde, às 9h. Mas o sol já esquentava a mufa de muitos e a minha não quis pagar pra ver até o final da volta. Resolvemos voltar e pela primeira vez não contornamos a lagoa. E olha que no horário de verão 9 horas são 8.
 
Então precisamos pensar sim na natureza e em nossa relação com ela. Estamos imersos nesta natureza, de onde se retira o ar para respirar, a água para beber, a sombra para descançar. Mas, de um modo bastante estúpido e burro, poluímos o ar, a água, derrubamos as árvores, diminuindo cada vez mais as sombras. Impermeabilizamos o solo com o cimento, com o asfalto; subimos espigões cada vez mais altos e despejamos nossos dejetos criminosamente nos rios e nas lagoas de nossa cidade. Como resolver? Pensemos nisso e procuremos agir em nome da nossa própria salvação. O calor não está tão forte porque Deus ou o acaso (como queiram alguns) assim quer que seja. A temperatura varia e muito de acordo com o que vimos fazendo há um bom tempo com o nosso ambiente. A música "Futuros amantes" de Chico Buarque de Holanda fala de um Rio de Janeiro submerso pelas águas, onde os amantes teriam deixado rastros de seus romances. Uma tese muito estudada e discutida por ser o Rio uma cidade costeira e também por toda uma topografia apropriada para alagamentos. Apesar da música ser uma poesia, também é, fundamentalmente, ciência. que mostra possíveis efeitos para tanto destrato e descaso com a natureza.
 
Outro exemplo da música sobre essa difícil relação do homem com a natureza se expressa na canção "Súplica cearense" de Gordurinha e Nelinho, popularizada na voz de Luiz Gonzaga. Esta, porém, traz um apelo religioso da gente pobre e fervorosa do sertão, castigada pela seca. Na música, o sertanejo pede perdão a Deus por ter pedido que chovesse para que a lavoura e a vida, de um modo geral, fosse possível. No caso, ele se refere a uma grande inundação pelas fortes chuvas que naquele lugar não é comum. A música, embora triste, é linda e vale conhecê-la.
 
Outro dia no Facebook li uma mensagem creditada a Clint Eastwood, famoso ator, ícone do cinema americano. Ela diz que "todo mundo fala sobre como deixar um planeta melhor para nossos filhos. Na verdade deveríamos tentar deixar filhos melhores para o nosso planeta". Ele tem razão na medida que entendemos que se os homens atuais não conseguem resolver, talvez uma futura geração bem educada e engajada quanto às questões ambientais possa mudar esse estado de coisas.
 
 
 




 

 

 
  

2 comentários:

  1. É, meu amigo...também tenho sofrido com este calor que anda fazendo, inclusive agora, neste momento, onde, mesmo com o ar ligado, está desconfortável .
    Tenho por hábito e rotina, já faz algum tempo, a corrida, principalmente a de longa distância. Está cada vez mais difícil manter os treinamentos, pois torna-se muito sacrificante, independente do horário, sendo certo que sob o sol é impossível.
    Além do mais, trabalho em São Paulo e ando muito a pé. Por lá a coisa também anda feia.
    Tal como você, querido, fico muito preocupado com a catástrofe anunciada e com o que restará para nossos netos.
    Forte abraço.
    Rogério

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  2. Assis,

    Belo texto. Realmente é preocupante e definitivamente temos o compromisso individual e coletivo de pensar e agir de forma mais apropriada quando podemos fazer e ligamos o botão da consciência.

    Beijos !

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