E lá vinha ela! Devagar, mas firme. Com jeito altivo de quem, do alto de sua idade, carregava a própria experiência.
No quintal de nossa casa, bem ao lado do portão de entrada, sentava-se na cadeira que minha mãe dispunha para as visitas. Ali, naquele pequeno espaço, muitos se revezavam em longos papos. Um desses amigos era ela, a Vovó Amélia. Naquela época, já contava mais de cem anos. Os mais velhos diziam que havia sido filha de escravos nos tempos da escravidão. Aquela história de escravidão era o máximo e para nós crianças aquilo nos enchia de imaginação e fantasia.
Lembro que minha mãe não admitia que ninguém fumasse dentro de casa. Mas, Vovó Amélia chegava, sentava-se naquela cadeira e logo acendia seu cachimbo que gostava de pitar. Minha mãe não dizia nada. Ela podia, pois além de ser uma visita, era especial e aquele era um velho costume seu. Ela era muito querida pelos meus pais e pelos meus avós, que moravam na casa ao lado e dividiam o mesmo quintal conosco. Vovó Amélia era uma espécie de conselheira da família e também contava muitas histórias.
A última vez que a vi, foi em sua cama, adoentada. Já não podia mais se levantar. Lembro-me de pedir sua benção e beijar sua mão. Naquele tempo ainda era assim.
Era uma figura marcante, quase mítica, a centenária Amélia!
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Meu professor de História da África Edson Borges disse para nossa turma uma coisa que nunca mais vou esquecer. Ele dizia que não houve escravos e nunca haverá. O que houve foram indivíduos iguais a todos os outros que foram escravizados à força. Escravo é uma categoria que acaba por resumir uma série de outros conceitos, como objeto, por exemplo, que o escravizador algoz utiliza como quer, decidindo, inclusive, sobre sua vida e sua morte. Embora já tivesse essa visão, foi muito importante ouvir dele, que é negro, militante das causas dos negros e que tem o poder do uso da palavra, como um formador de opinião.
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"Lembro-me de pedir sua benção e beijar sua mão. Naquele tempo ainda era assim."
ResponderExcluirQue bela história!
Ainda hoje tento, nas vezes que lembro, ensinar a minha pequena Lidia Maria a pedir a benção antes de dormir. O respeito aos idosos em nosso meio está cada vez mais esquecido, e a admiração ainda mais. Não respeitamos tanta experiência vivida. É uma forma de desrespeitarmos a nós mesmos no futuro...
Grande Vovó Amélia, que Deus a abençoe.
abs
Nelson
Assis,
ResponderExcluirAcabei de ler seu texto e fui buscar para também registrar, em "uma das pastas empoeiradas", umas linhas que havia escrito em 1973.Sua vovó me fez lembrar a minha.
Seu comentário tão apropriado,tecido a partir da visão de um professor seu,corrobora a necessidade de avaliação de um tempo,o que vivemos,quando ainda escravizamos o negro,o branco,o mulato,o gordo,o "feio",o pobre,e uma lista infinita de "homens objetos",que estão sob os pés do escravizador,algoz de tantas mentes e arquiteto de destinos desumanos.
Queridos Cida e Nelson,
ResponderExcluirsaber rever e entender o passado é poder lidar melhor com o presnte, construindo um futuro melhor!
Essas histórias estão sempre nos ensinando algo importante!
Obrigado pelas considerações!
Assis,
ResponderExcluirEste texto acabou me contagiando e fiquei até com vontade de conhecer aquela "que era mulher de verdade"[diria Mario Lago].
Além disso também fiquei lembrando da figura de minha avó materna, que apesar de não ter sido escrava, era´neta de índia e tinha em comum a contação de histórias inesquecíveis ..Isso é impagável!
Grande bj! Adorei!!!
Linda história!
ResponderExcluirLembro perfeitamente dela e das suas visitas a nossa humilde casa, onde ela era tão bem vinda.tinha um olhar doce,quando contava seus causos fazia pausas.acho que era para dar mais suspense." GRANDE VOVÓ AMÉLIA " bjs Rosana.
Rosana,
ResponderExcluiressa história é tão sua quanto minha. Suas palavras só confirmam aquilo que minha memória (ainda que bem fraca, devido ao longo tempo em que se passou a história) revela. Grande amiga que marcou nossa gente!
Que bom que gostou! Bjs do maninho.
Eliana,
ResponderExcluiressas histórias dos mais velhos em nossas vidas são de uma importância muito grande em nossa formação. Agora que estamos adultos o suficiente para compreender essa importância, devemos cada vez mais reverenciá-los. Sua avó devia contar boas histórias, cetamente!
beijos!
POIS É MEU AMIGO. CONSERVO ATÉ HJ O HÁBITO DE PEDIR A BENÇÃO A MINHA MÃE. ESSE É UM HÁBITO Q MANTENHO E PASSO PRA MINHA FILHA DE PEDIR A BENÇÃO A MINHA MÃE (SUA AVÓ).
ResponderExcluirBJS
OBRIGADA AMIGO ASSIS PELO TEXTO COMENTÁRIO DO FESTIVAL DE MUSICA DO QUAL PARTICIPEI DA ÉPOCA DA ESCOLA. FIQUEI LISONGEADA E AGRADECIDA PELA LEMBRANÇA E MUITO FELIZ POR VC TER PARTICIPADO TBÉM E POR NOSSOS "AMIGOS DA ESCOLA" ESTAREM LÁ E TEREM CURTIDO COM A GENTE ESSE GDE MARCO EM NOSSA ADOLESCENCIA. MOMENTOS ESSES Q FICARAM PARA SEMPRE EM NOSSA HISTORIA. O TROFÉU Q GANHEI COM O 2ºLUGAR DA MUSICA "CHORAR PRA QUE ", SE PERDEU EM UMA DAS MINHAS MUDANÇAS RSRS. MAIS, O QUE MAIS IMPORTA, É QUE ESSES MOMENTOS ESTÃO GUARDADOS AQUI DENTRO DO PEITO. ESSE É MEU GDE TROFÉU ...
ResponderExcluirGDE ABÇO AMIGO E O MEU MUITO OBRIGADA
TERESINHA
Gostei sim Assis!
ResponderExcluirMuito linda sua história.
Bjs.
Linda história, principalmente pelo seu jeito estiloso em escrever, parabéns! Vovó Amélia e vc nos inspiram a viver!
ResponderExcluirKatia, minha querida amiga,
Excluirmil perdões por estar respondendo somente agora. Voltei somente agora a reler o texto e li seu comentário sempre bem-vindo. Bjs e obrigado.