Semana passada, minha família e eu sofremos um acidente de automóvel e fomos socorridos pelo Corpo de Bombeiros. Como estava consciente (afinal, não foi um acidente grave e sim um grande susto), tive oportunidade de trocar algumas palavras com os profissionais socorristas. Eu que já vinha pensando em aderir à fitinha vermelha no carro, em solidariedade a esses soldados, agora recebendo o seu socorro, confirmei tudo aquilo que já sabia ser verdade. Pude notar e sentir o cuidado, o zelo e o carinho com que o trabalho é feito. Não somente se busca preservar e salvar a vida, mas na medida do necessário, preserva-se também o estado emocional daquele que é socorrido.
O pronto-atendimento foi eficaz, porém, por praxe, o hospital deve ser público. Mesmo tendo plano de saúde em rede particular, lá fomos para o "Souza Aguiar". O bombeiro que dirigia, diante do meu questionamento quanto a isso, me disse que por eles seria até melhor nos levar para um hospital particular, mas a ordem tem que ser obedecida.
Ao chegarmos ao hospital, fomos atendidos por todos os profissionais pelos quais passamos (médicos, enfermeiros, operadores de raio-x e até maqueiros) com toda presteza. Não sei se foi sorte, acredito que não. Acredito que o profissional da rede pública que lida com o público, sobretudo o mais pobre, faça o seu trabalho com honestidade e zelo.
No entanto, pude perceber a falta ou a insuficiência de alguns recursos, como maca que tivemos que esperar um pouco, assim que chegamos; lençol, que minha mulher pediu, pois sentia frio; trinco nas portas dos banheiros; cadeiras rolantes que não rolavam, pois as rodinhas estavam emperradas; alguma deficiência nos aparelhos de raio-x que dificultava uma melhor resolução nas imagens (ouvi de um operador, inclusive, que um dos aparelhos estava sendo desligado, pois apresentava defeito e seria consertado naquele momento).
Há que se analisar dois aspectos importantes nessa história, o atendimento prestado pelo profissional, pelo ser humano e os recursos necessários para esse atendimento. É sabido que as remunerações pagas a esses profissionais, desde os bombeiros que socorrem nas ruas até os médicos e enfermeiros que continuam esse atendimento dentro dos hospitais, são vergonhosas de tão mínimas. É triste constatar que o trabalho importante da valorização da vida e da dignidade do indivíduo seja tão pouco reconhecido pelas autoridades que historicamente se sucedem no poder.
Nos episódios dos protestos dos bombeiros por melhores salários, ficou claro para a sociedade, através da própria mídia, o escárnio com que são tratados os profissionais que prestam serviços de primeira necessidade (verdadeiros heróis que são), pelas autoridades de Estado. O episódio da prisão dos mais de 400 homens da corporação marcou bem o autoritarismo como foi tratado o assunto. O próprio governador fez sua mea-culpa, recentemente. Obviamente, pressionado pela opinião pública que clamava por justiça e bom senso. (leia matéria)
Na minha humilde opinião, a saúde pública, assim como a educação, pode sim ser oferecida pelo Estado com qualidade e para todos que precisam e que contribuem com impostos. O que basta é vontade, desejo de fazê-la desse modo. Assistindo ao documentário "SOS Saúde", de Michael Moore que fala sobre o péssimo atendimento público na área da saúde da maior potência do mundo, fiquei pensando: é possível fazer bem feito, pois (guardando as devidas diferenças) se Cuba é referência mundial em saúde, porque que não podemos fazer melhor. O capitalismo selvagem americano proporciona cenas como a que Moore mostra em seu trabalho. Americanos que não têm condições de pagar seus tratamentos médicos são levados à ilha de Fidel para lá serem cuidados com todos os direitos que têm os nativos cubanos. Uma vergonha para os EUA.
Assim como foi criado o projeto que obriga políticos a matricularem seus filhos em escolas públicas (veja link do senado), deveria ser criado igual projeto que obrigasse políticos a também utilizarem o atendimento médico-hospitalar público. Essas iniciativas existem para mostrar que a educação básica que o estado oferece é ruim. E quanto à saúde é a mesma coisa.
Ali, naquela cabine da ambulância, junto àqueles que nos tratavam com tanto carinho e gentileza, juro que fiquei constrangido em pensar no meu salário diante dos pouco mais de novecentos reais dos bombeiros. Digo, sem medo de errar, que numa comparação de importância, meu cargo e minha função não chegam aos pés das exercidas por eles.
Ainda na ambulância, disse para o motorista, ao ver um carro à nossa frente com uma fitinha vermelha: _E eu acabei por não colocar a fita no meu carro. E ele me respondeu: _Ainda há tempo!
É isso! Meu carro teve perda total. Porém, antes mesmo de entrar no novo, a primeira coisa que farei será ornamentá-lo com a marca da minha solidariedade, que já é a de toda sociedade.
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Assis,
ResponderExcluirNão sabia do ocorrido. Que bom ter sido uma experiência que não teve consequências piores. Realmente a área de saúde pública está cada vez mais carente, porém, efetivamente existem servidores públicos comprometidos com a qualidade.
Grande beijo para vocês!!!
Obrigado, Eliana!
ResponderExcluirRealmente, foi uma experiência bem difícil, pois foi forte. Porém, sem maiores conseqüências. Todos estamos bem. Resolvi escrever mais sobre o atendimento mesmo e sua importância.
Viva os bombeiros, esses heróis do nosso cotidiano.
Bjs.
Grande Assis,
ResponderExcluirBelo texto!
Eu coloquei a fita vermelha no meu carro há duas semanas quando passei defronte à Assembléia Legislativa e assisti ao movimento justo dos bombeiros.
A realidade da saúde pública e do descaso da classe política, que voce relata em seu texto infelizmente é o nosso Rio e ainda o nosso Brasil. Acho que precisaremos de algumas gerações com muita melhoria em educação pública para mudarmos isso. Talvez nossos filhos estejam mais próximos dessa realidade.
Um abraço
Nelson
Realmente o descaso com a saúde e educação que testemunhamos em nosso país é grave e vergonhoso!
ResponderExcluirPrecisamos nos unir e apoiar uns as causas dos outros, pois trata-se de um anseio pelo bem coletivo. Professores, médicos, bombeiros, ... como pode pessoas que se dedicam a profissões tão essenciais serem tão mal remuneradas?
Você e sua família tiveram a sorte ( ou providência divina) de serem atendidos por profissionais comprometidos com o trabalho, acho isso nem sempre é possivel, devido ao desgaste emocional dessas pessoas diariamente.
Fita vermelha já !
Valeu, Tati!
ResponderExcluirFoi Deus mesmo, intervindo por nós!
Obrigado pelas palavras
Caro Nelson,
ResponderExcluiresperemos que nossos filhos vivam mesmo essa realidade melhorada que tanto anseiamos!
Grande abraço!