domingo, 31 de julho de 2011

Morro Velho, o "menino de engenho"* de Milton Nascimento


Morro Velho  (Milton Nascimento)

No sertão da minha terra, fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força, parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada
Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver
Orgulhoso camarada, conta histórias prá moçada

Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante
Não esqueça, amigo, eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará

Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar
Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.





(*) Menino de Engenho: romance de José Lins do Rego

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3 comentários:

  1. Grande Assis,
    Esta música do Milton é muito linda. Retrata uma bela amizade no passado que a distância e o tempo destroem. A música nos faz refletir sobre os valores da vida, como a amizade, o amor, o companheirismo em contraste com os valores que nos são impostos como verdades absolutas, como emprego, trabalho, posição, beleza, nome, dinheiro... Como bem diz nosso grande Bituca, “Amigo é coisa pra se guardar...”
    Abs, e obrigado por mais esta...

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  2. Essa música para mim é mais linda do que "Travessia". Acredito que quando o amor e a amizade são verdadeiros, apesar do tempo, emprego, trabalho ou beleza, ficam sempre guardados "debaixo de 7 chaves, dentro do coração..."

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  3. Eu sempre vi essa canção como uma percepção da sociedade de classes. Enquanto são crianças, é como se as classes não existissem, tudo é brincadeira. Mas, com a chegada da vida adulta e do trabalho, fica bem claro que o mundo é dividido entre dois polos, os que detêm os meios de produção e os que trabalham.

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