segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A tolerância é uma virtude especificamente ocidental?

Comentário sobre o texto de Amartya Sen, “Cultura e direitos humanos”, quanto a alegação de que a tolerância é uma virtude especificamente ocidental.


A alegação de que a tolerância é uma virtude especificamente ocidental tem sua origem no pensamento ocidental e moderno. O autor defende a todo tempo a relativização dessa tese, defendendo que nem sempre o ocidente teve tolerância. Quando fala da tolerância islâmica (p. 273), Sen cita o imperador mongol Akbar, que reinou na Índia entre 1556 e 1605 e promovia a tolerância quanto às diversas formas de comportamento social e religioso, como liberdade de culto e a prática religiosa que não seriam, segundo ele, facilmente tolerados em partes da Europa naquela época. Enquanto “as inquisições estavam em pleno vapor na Europa”, Akbar fazia pronunciamentos e decretos como o citado no texto[1]. Amartya Sen considera que a valorização da liberdade não se limita a uma só cultura e que o pensamento social baseado na liberdade não é de propriedade das tradições ocidentais.

Na verdade, o autor busca o entendimento das distintas visões de mundo, analisando também o outro lado. Quando indagado por um crítico sobre onde encontrar na história asiática uma equivalência ao que se considera uma notável história de ceticismo, ateísmo e livre pensar ocidental, o autor diz que não é difícil encontrar. Ele cita, no caso da Índia, as escolas ateístas de Carvaka e Lokayata, bem anteriores à era cristã, cuja literatura ateísta foi duradoura, influente e vasta. Amartya defende que apesar das constantes violações da tolerância por toda parte em qualquer cultura, persistentemente, vozes em favor da liberdade se levantam de todas as formas, em culturas distintas e distantes.


 “Nenhum homem deve ser incomodado por motivos de religião, devendo-se permitir a qualquer um mudar para a religião que lhe aprouver. Se hindu, quando criança ou em outra época de sua vida, houver sido feito muçulmano contra a sua vontade, deve-se permitir que ele retorne, se assim o desejar, à religião de seus antepassados” (p. 274).



Questão trabalhada na aula de Direitos Humanos (Tema Transversal) - 2º semestre de 2010

3 comentários:

  1. Assis,

    Gostei do debate e da sua interlocução.Fiquei curiosa sobre a fonte. É um artigo ou um livro?
    bjs!

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  2. Este texto foi uma questão de prova. Como já estava pronto, resolvi publicá-lo. É um capítulo de um livro. Tenho que procurar em casa o texto para fazer a referência. Obrigado pela observação. Bjs.

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  3. Tolerância... Difícil alcançá-la. Nossa tendência é acharmos que nós somos os certos: nossa vida, nossa religião, nossas escolhas. É complicado enxergar o outro com distanciamento. Porém, devemos sempre procurar isso, buscar o respeito necessário para se ter o entendimento das coisas. Dessa maneira, conseguiremos perceber que a vida é bonita e fácil de ser vivida e que a vida pode existir de diversas formas possíveis.
    Bjs

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