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O cantor aos 4 anos |
Minha mãe morria de medo que eu me tornasse um cantor de sucesso. Achava mesmo que eu tinha talento e que, como tantos outros que foram pobres e alcançaram a fama, poderia ficar famoso, rico e ir embora. Algo como um “Roberto Carlos de São Cristóvão”. Talvez por isso, não tenha me dado muita força; pra não dizer força alguma para ser um músico. Triste sina: minha primeira fã me blindou para o estrelato.
Vai entender coração de mãe!
Minha mãe diz que eu cantava concentrado, desligado de tudo. Cantava pra mim mesmo. Ela fala que se algo me chamasse a atenção eu parava imediatamente de cantar. Era como se algum encanto fosse quebrado.
Eu gostava de ouvir desde o iê-iê-iê da Jovem Guarda até a excelência de Chico Buarque, passando por sambas de Martinho da Vila. Deste último, destaco “Quem é do mar não enjoa”, sucesso de 69, decoradíssimo e cantado sempre nas reuniões de família quando tínhamos a visita do Zé Carlos, amigo e violeiro que adorava acompanhar aquele menininho cantor: “Quem tiver mulher bonita/ Traga presa na corrente/ Eu também já tive a minha/ Mas perdi num samba quente...”. Do “Rei”, cantei tudo daqueles anos 60. Era o meu grande ídolo.
Porém, apesar do rock’n’roll e do samba, o que me fez “viajar” na música foram os versos e a melodia de "Carolina". O meu xará (Buarque de Holanda), então com vinte e poucos anos, fazia a minha cabeça com: “lá fora, amor/ Uma rosa nasceu/ Todo mundo sambou/ Uma estrela caiu/ Eu bem que mostrei sorrindo/ Pela janela, ói que lindo/ Mas Carolina não viu”. É a primeira música que eu me lembro de ter cantado inteiramente letra e melodia.
Nessa época, 1967, eu tinha quatro anos e estive internado para uma cirurgia. O hospital era o Geral de Bonsucesso. Tive algumas complicações e a minha internação foi mais demorada que o esperado. O que parecia ser uma tristeza para os adultos da família, tornou-se uma enorme aventura para o menino artista que fugia da ala infantil para apresentações gratuitas na ala dos adultos, encantados com o repertório recheado de sucessos, cujo principal era sempre “Carolina”. Meu pai ficava irado ao saber das minhas fugas para os lados dos grandes, sem que fossem notadas pelos enfermeiros. Logo, era um grande sucesso ou “bom sucesso” daquele hospital. Todos sabiam do canarinho que se hospedava por lá. Acho que a partir daí, o medo de minha mãe já era bem compreensível.
Vai entender coração de mãe!
Minha mãe diz que eu cantava concentrado, desligado de tudo. Cantava pra mim mesmo. Ela fala que se algo me chamasse a atenção eu parava imediatamente de cantar. Era como se algum encanto fosse quebrado.
Eu gostava de ouvir desde o iê-iê-iê da Jovem Guarda até a excelência de Chico Buarque, passando por sambas de Martinho da Vila. Deste último, destaco “Quem é do mar não enjoa”, sucesso de 69, decoradíssimo e cantado sempre nas reuniões de família quando tínhamos a visita do Zé Carlos, amigo e violeiro que adorava acompanhar aquele menininho cantor: “Quem tiver mulher bonita/ Traga presa na corrente/ Eu também já tive a minha/ Mas perdi num samba quente...”. Do “Rei”, cantei tudo daqueles anos 60. Era o meu grande ídolo.
Porém, apesar do rock’n’roll e do samba, o que me fez “viajar” na música foram os versos e a melodia de "Carolina". O meu xará (Buarque de Holanda), então com vinte e poucos anos, fazia a minha cabeça com: “lá fora, amor/ Uma rosa nasceu/ Todo mundo sambou/ Uma estrela caiu/ Eu bem que mostrei sorrindo/ Pela janela, ói que lindo/ Mas Carolina não viu”. É a primeira música que eu me lembro de ter cantado inteiramente letra e melodia.
Nessa época, 1967, eu tinha quatro anos e estive internado para uma cirurgia. O hospital era o Geral de Bonsucesso. Tive algumas complicações e a minha internação foi mais demorada que o esperado. O que parecia ser uma tristeza para os adultos da família, tornou-se uma enorme aventura para o menino artista que fugia da ala infantil para apresentações gratuitas na ala dos adultos, encantados com o repertório recheado de sucessos, cujo principal era sempre “Carolina”. Meu pai ficava irado ao saber das minhas fugas para os lados dos grandes, sem que fossem notadas pelos enfermeiros. Logo, era um grande sucesso ou “bom sucesso” daquele hospital. Todos sabiam do canarinho que se hospedava por lá. Acho que a partir daí, o medo de minha mãe já era bem compreensível.
Carolina/ Nos seus olhos fundos/ Guarda tanta dor/ A dor de todo esse mundo/ Eu já lhe expliquei que não vai dar/ Seu pranto não vai nada mudar/ Eu já convidei para dançar/ É hora, já sei, de aproveitar/ Lá fora, amor/ Uma rosa nasceu/ Todo mundo sambou/ Uma estrela caiu/ Eu bem que mostrei sorrindo/ Pela janela, ói que lindo/
Mas Carolina não viu
Carolina/ Nos seus olhos tristes/ Guarda tanto amor/ O amor que já não existe/ Eu bem que avisei, vai acabar/ De tudo lhe dei para aceitar/ Mil versos cantei pra lhe agradar/ Agora não sei como explicar/ Lá fora, amor/ Uma rosa morreu/ Uma festa acabou/ Nosso barco partiu/ Eu bem que mostrei a ela/ O tempo passou na janela/
Só Carolina não viu
Mas Carolina não viu
Carolina/ Nos seus olhos tristes/ Guarda tanto amor/ O amor que já não existe/ Eu bem que avisei, vai acabar/ De tudo lhe dei para aceitar/ Mil versos cantei pra lhe agradar/ Agora não sei como explicar/ Lá fora, amor/ Uma rosa morreu/ Uma festa acabou/ Nosso barco partiu/ Eu bem que mostrei a ela/ O tempo passou na janela/
Só Carolina não viu
O velho pequeno cantor e sua musa
O compositor
Que história bonita. REalmente ouvir você cantar é muito bom. Além disso,escreve muito bem.
ResponderExcluirParabéns!
Eliana
Obrigado Eliana. Você é um doce de pessoa. O Marcio é sujeito de sorte!
ResponderExcluirO acréscimo ao texto foi ótimo. E pra variar, a escolha da música não poderia ter sido melhor. Tive uma grande amiga chamada Carolina que depois resolveu seguir outras trilhas e desapareceu.
ResponderExcluirMas quanto ao passarinho desde novo, cantor de categoria, que felicidade deve ter sido cantar escondido e ser respeitado pelo público.
Como é bom respeitar o talento e deixá-lo acontecer onde quer que ele esteja...
Parabéns pelo voo!
bjs.
Legal pai. Continue com suas histórias maneiras! Beijo do filhão!
ResponderExcluirQue história legal. Ainda não te ouvi cantar. Vamos ver se te ouço no lançamento do livro da Eliana.
ResponderExcluirObrigado, Katia!
ResponderExcluirMuito da beleza dessa história se foi, juntamente com a inocência infantil. Ficou a saudade de tempos mais líricos e uma certa "pretensão" de cantor.
Você verá e ouvirá o já não tão canário assim cantar! Bjs.
Esse menino Assis
ResponderExcluirAssis assim tão querido
nos faz cantar e sorrir
o coração, ai que lindo!
Que faça cem, duzentos
Mil anos...
Mas sua alma criança
Na pureza do seu ser
Por mais adulto que seja
Por mais que viva a crescer
Estará sempre presente
Sua marca registrada,
Simplesmente Você!...
DEISE CORDEIRO CANDREVA
Obrigado, Deise!
ResponderExcluirSeus versos em minha homenagem me emcabulam e me emocionam. Você e sua generosidade é uma riqueza e tanto!
Não mereço tanto...
Beijos!!!
Seu carisma de cantor atual já presenciei várias vezes e admiro. Mas como gostaria de ver um guri de 4 anos cantando Carolina...adoro prodígios!
ResponderExcluirParabéns pelo Blog. passarei mais vezes por aqui.Bjs
Obrigado, Tati!
ResponderExcluirPode parecer mentira uma história como essa, mas é verdade e os mais velhos lembram bem de mais detalhes! Eram tempos mais inocentes e mais líricos. Lembro das brincadeiras de programas de calouros e das bandas invisíveis que inventava nas quais eu era o líder. Coisa de menino mesmo! Era bem legal!
Passe mesmo, sempre que quiser!
Bjs.
Assis,
ResponderExcluirComo é bom saber que você já escolhia muito bem o repertório aos quatro anos de idade! Gostei de ouvir sua história aqui em casa em outra oportunidade,e agora tenho as cenas mais nítidas,pintadas pelas palavras tão bem escolhidas,de forma tão natural,em um crescendo de lembranças deliciosamente vividas.
Conheci o mesmo menino aos dez anos de idade pessoalmente,e por ele sempre tive admiração.Pelo menino que ainda é até hoje pra mim,de um lado,e de outro,o homem contador de histórias,das "de verdade",das de fingidor,das cantadas e das emoções vividas e transmitidas pra nós,leitores.
Conte mais,menino grande,todas as histórias que você tem pra contar com a mesma fluidez que caracteriza sua linguagem.
Pequeno cantor,traz a Carolina de novo pra gente se encantar! Beijos,meu amigo! Cida
Grande Assis,
ResponderExcluirMas agora falo pro pequeno Chico:
Algumas vezes tive o privilégio de te ouvir e ver cantando, não pare.
Outro dia eu estava conversando com o David sobre seu grupo musical "pop-rock' e indaguei por qual razão ele não gostaria de tocar mais vezes em bares ou outros locais... ele apenas disse "Nelson, eu gosto mesmo é do ensaio no estúdio, se só tivesse isso pra mim bastaria"...
O que ele disse me impressionou isso... eu fiquei com aquilo na cabeça. A alegria está em fazer, o resultado na música é a sua execução, ela se faz e se consome em si. Nós ,apreciadores da arte que vocês são atores, apenas bebemos desse consumir-se.
Menino Chico, canta, canta, canta, não deixa de cantar.
Nelson Manguinhos
Cida,
ResponderExcluirfico verdadeiramente emocionado com suas palavras de carinho, pois sei são verdadeiras. Espero continuar escrevendo histórias verdadeiras ou fictícias por muito tempo ainda, pois isso é um modo de extravasar a energia criativa que trago e que por vezes não posso canalizar de outro modo. Muito me lisonjeia sua opinião sobre meus escritos. Vindo de você que é craque, é muito bom! Adoro você!
Beijos carinhosos!
Nelson,
ResponderExcluirJá conversei muito com o David sobre isso também. Entendo o que ele sente. Tivemos, inclusive uma experiência juntos tocando na noite. Acho que serviu para tirarmos muitas conclusões à respeito. Agora sobre o canto, pode estar certo que nunca deixarei de fazê-lo, pois para mim é como respirar. Minha vida é como um filme com uma trilha sonora constante que eu mesmo executo. Quando fico muito triste, não canto. Por isso, me esforço pra não me entristecer, pois não consigo ficar muito tempo sem cantar. O chuveiro sabe disso.
Obrigado pelas palavras!
Querido Assis,
ResponderExcluirÉ sempre um grande prazer ler seus textos, assim como ouvi-lo cantar.
Como se diz no livro "Os sonhos não envelhecem", de que tantos gostamos, você é um grande canário.
Sou seu fã.
Forte abraço.
Rogério
Rogerio,
ExcluirVocê que também é artista da música, das letras entre outras, sabe o quanto é gratificante essa troca com nossos pares. Você é sempre bem-vindo neste espaço.
Obrigado pelas palavras de carinho.
Como você bem disse: "Todos sabiam do canarinho que se hospedava por lá".
ResponderExcluirCanarinho vive solto por pouco tempo. É obediente. Adapta-se à gaiola, sem muito drama. E felizmente sabe cantar preso!
O destino sabia que este cantor-passarinho não poderia bater as asas muito longe do ninho... Deus sabe o que faz!
Também sou um canarinho e me satisfaço com minhas pequenas e localizadas plateias...
É a nossa boa e tranquila sina: canto livre, sim, mas em poucos cantinhos da paisagem...
Abraços!!
Abel, meu caro amigo.
ExcluirSabia que iria gostar porque essas histórias nos falam ao coração e nos são comuns. Obrigado pela aula sobre o canário. Não sei nada de pássaros e muito menos de gaiolas. Embora sempre tenha vivido em algumas, que são, em geral, as casinhascdos pobres. Mas entendi perfeitamente sua analogia, que se refere até à minha atual condição de cantor amador e à história contada sobre os medos de minha mãe. Entendeu porque essa música é a música de toda a minha vida. Não que seja a melhor, apesar de linda. Durante a vida conheci inúmeras maravilhosasvde muitos outros compositores. Do próprio Chico até. Mas Carolina tem essa história especial.
Abraço
Amigo Assis, te conheço desde pequenininho e, realmente, se existe uma lembrança ligada a você é o canto. Desde sempre você entrava e saia de casa, cantando. Se estava sentado em alguma calçada do "beco", onde morávamos, era cantando. Lembrou de você, juntamente com meu irmão mais novo, tentando compor músicas. Não lembro de nenhuma letra ou melodia, daquele tempo, mas, sei que sempre saía alguma canção que ouvíamos, depois, espancados por ver duas crianças fazendo música. Então, é como te falei, a maior parte das lembrança que tenho em relação a você tem a ver com a música. Por isso até hoje, "exploro" você, pedindo que cante para mim algumas canções. Muito bom seu texto, me fez viajar ao lado bom do passado! Beijão!
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