quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Januário Garcia, meu vizinho famoso!


Com a família visitando-o na exposição "Estética Negra", em Furnas, 2008


Acabei por gostar dessa frase que meu filho João Pedro se orgulha em repetir, após descobrir na TV o nosso querido vizinho e grande figura, o fotógrafo Januário Garcia. Janu, como costuma atender aos mais íntimos, é reconhecido por seu importante trabalho junto ao movimento negro no Brasil, tendo feito vários livros, entre os quais, "25 anos (1980-2005) Movimento Negro no Brasil" e "Diásporas Africanas na América do Sul". Este último tem suas fotos em exposição no Sesc da Tijuca, Rio de Janeiro até novembro.

Além disso, Januário é fotógrafo de várias capas de discos de grandes nomes da MPB, como Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Belchior entre outros. A história relatada a seguir conta como foram feitas as capas de dois desses discos. Não pude identificar o autor da entrevista, mas fica o texto na íntegra aqui neste link.


"Januário Garcia, Caçador de Imagens – A foto da Capa".  

"Como foi feita a foto do urubu? pergunto. Januário busca na memória o final do verão de 1976 . Tom regressava dos Estados Unidos com um disco feito com total liberdade e recursos próprios. Voltou estimulado a conhecer melhor os hábitos do urubu. Passava horas no Jardim Botânico e na Tijuca observando a ave. Quando foi hora de escolher o nome do disco não teve dúvida: “urubu”.
O desafio era fazer uma foto do bicho em vôo para ilustrar a capa. Tom pediu ajuda ao filho Paulo Jobim , que tinha uma moderna máquina fotográfica, e foram inúmeras tentativas . Com o tempo, chegaram a conclusão de que precisavam da ajuda de um profissional.
Tom recorreu então a Januário Garcia ” ” Ele me disse que”urubu ” era o disco mais bonito que tinha feito e pediu para embalar o trabalho com o coração” .Foi preciso também certo preparo físico . Januário e Tom passaram semanas em expedições a estrada da Grota Funda, lá pelos lados da Pedra de Guaratiba.. O fotográfo ri ao lembrar de Tom parado num posto de gasolina , perguntando ao frentista se ele tinha visto um urubu passar por ali. Assustado, o rapaz não respondeu e procurou o gerente que reconheceu o compositor e disse , “eles não são malucos não, são só artistas”.
Depois de muita observação , os dois se embrenharam no mato e identificaram num penhasco o local onde morava um Urubu da cabeça vermelha- . Fizeram marcas para não perder o caminho e voltaram no dia seguinte bem cedo, antes do sol nascer. “Foi um dia inteiro só esperando o bicho”, conta Januário. “Lá pelo meio dia o urubu saiu e acompanhamos toda a trajetória do vôo dele, um estudo para a foto”. No dia seguinte repetiram o ritual. ” Tom só quebrou o silêncio para dizer que dali a pouco o urubu iria aparecer e descreveu o trajeto da ave no ar”.
Não deu outra. Na época, os equipamentos fotográficos não tinham os recursos de hoje e Januário se esforçou para enquadrar e focar o bicho em movimento. Foram várias fotos e a escolhida ilustrou duas versões da capa do disco – uma no Brasil, outra nos EUA.
Os olhos de Januário brilham ao lembrar de Tom e o Urubu. Januário mostra na versão americana do disco o agradecimento do maestro ; “thanks to my friend Januário Garcia . Who, like a hunter, got the pictures of this master of the winds”.

Ele busca na estante outros Lps- vejo a clássica foto de Caetano Veloso deitado no colo de Dona Canô, sua mãe. Januário conta que recebeu um telefonema da gravadora de Caetano com a incumbência de fazer a foto do novo disco dele, pegou o avião e foi para Salvador.
Na sala da casa, antes mesmo de conversarem sobre o trabalho, a foto foi feita. Caetano brincava com o filho Moreno no chão e dona Canô estava sentada no sofá. Um determinado momento, Moreno se deitou no colo do pai, que repetiu o gesto com Dona Canô. “Quando vi aquela cena linda , começei a fotografar – filho, pai e mãe e eles nem perceberam”. Depois de um almoço baiano, Caetano falou sobre o projeto do disco. Disse a Januário que iria mostrar a música que sintetizava todo o espirito do disco. “Ele cantou “Terra ” pela primeira vez, foi uma emoção tão forte que não consegui perceber os detalhes da letra , pedi para ouvir novamente “.
Quando Caetano cantou pela segunda vez perguntei a ele o significado de “Terra “. A resposta não poderia ser outra – a mãe. Januário não teve dúvida: “Caetano a capa está pronta”.


5 comentários:

  1. Alô meu amigo e vizinho Chico, você me deixa encabulado. Mas é muito bom ter o nosso trabalho reconhecido, são atos como esse feito por você que nos faz ter mais gás para fotografar, criar e anexar nosso trabalho ao trabalho desses grandes artistas brasileiros.
    Januario

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  2. É uma honra tê-lo por perto como amigo!

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  3. Olá Assis,

    Tentei contatar Januário Garcia, mas seu email voltou. Recentemente descobri o trabalho deste grande fotógrafo e gostaria de entrevistá-lo para publicação em meu blog.
    Por favor, você pode me ajudar?

    Parabéns pelo blog.
    Um abraço e tudo de bom.

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  4. Olá Meg,

    que bom que gostou do blog. Posso te ajudar sim. Vou falar com ele e saber se posso lhe passar seu telefone para contato. Escreva uma mensagem para o meu e-mail (no link ao lado) e através dele te envio a resposta.

    Deixe também o endereço do seu blog pra gente conhecer.

    Abraço e até breve!

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