segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Conversa sobre notas e cafés


Para Guilherme um grande interlocutor (in memorian)




_Café para dois, por favor!

Quando foi nosso último café?
Não me lembro
E nós que ficamos, por várias vezes, de marcar um outro...
Lembro-me bem do primeiro.

Ficamos, de fato, sem tempo.
Combinamos uma nova classe.
Quem sabe numa transversal de um tema interessante
Eram muitos temas assim, de comum interesse.
Tudo te interessava.
E a mim, me interessava te ouvir.

Me ocorre agora que... - Opa! Essa fala é sua -
Com licença poética vou usá-la em sua homenagem.
Me ocorre que sua sede de saber, de erudição e tal,
Sei bem como começou: a nota do Borges.
Não o Jorge Luis, o Edson. Aquele dá textos, este dá notas.
Notas dificeis, notas suadas, trabalhosas...

Lembro-me como te incomodou.
É daí o primeiro café e tantos outros cujos temas foram as notas.
Viraram uma obssessão as boas.

Que mal te fez a nota baixa!
Abaixo da crítica. Da sua crítica. Da minha também.
Não me lembro quanto foi: 5, 4, 3 não sei bem ao certo.

Ele sabe. O das notas!

Que bem te fez a nota!
Tua indignação, tua raiva te redimiram.
Teu brio te elevou e muito.
Vem daí meu respeito por ti.

Santo Borges!
Santa NOTA!

...............................................................

Mas afinal, me ocorreu... Opa! Perdão.
Que esse diálogo é apenas um desejo.
Carece de dois.

Me ocorre também que sua xícara está cheia e o café esfriou.
Vou-me embora.
Odeio monólogos!

Por Assis Furriel (Francisco)

6 comentários:

  1. Guilherme foi um grande amigo, uma referência quanto ao desejo de saber. Lia bastante sobre tudo, muito mais que eu. Tinha uma admiração por mim também, coisa que me alegrava muito. Costumávamos trocar idéias num café da Rua do Ouvidor, sempre antes das aulas. Sentava sempre na frente e falava baixo. Isso o fez criar o hábito virar-se na hora da fala para melhor ser entendido por mim e pelo resto da turma. Nos últimos semestres teve uma pressa fora do comum para terminar em menos tempo o curso de história. Parecia antever algo. Deixou saudades.

    Gulherme foi morto em 2007 em sua residência em Botafogo, vítima de latrocínio. Sua morte, pelo que sei não foi muito bem explicada. Morreu mais historiador que qualquer um de seus colegas dos quais me incluo. Que Deus o ilumine!

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  2. Diante de tal temática, fica aquela indagação sobre o que fazemos do tempo que temos em nossas mãos, quais as pessoas que nos impulsionam...Novamente gostei muito do estilo do texto. Sinto pela perda do amigo.
    Beijos!
    Eliana

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  3. Caro Francisco,
    Seu texto me fez relembrar o quão incrível era o Guilherme. Nos seus útimosdias, quando minha aula acabava, ele me acompanhava até o São Bento sempre discorrendo com propriedade suas concepções. Ele estava ensaiando uma tentativa de mestrado em filosofia. Eu estava dando a maior força, como você pode imaginar. Uma perda muito grande para mim, para todos nós.
    Abraços,
    André Campos da Rocha

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  4. André,
    valeu pelas palavras!

    Uma das coisas que mais me dava prazer na faculdade era fazer amigos. Poder refletir, discutir, conjecturar etc. em sala de aula, nos corredores e nos cafés, tanto com colegas quanto com os professores era pra mim um grande deleite. Acho que consegui fazer alguns bons amigos. É o que fica de nossa história, a admiração mútua que partilhamos. O Guilherme era, como digo no texto, um dos melhores interlocutores. Dava gosto!

    Dos docentes, você André, era um dos melhores. Pena que o convívio tenha sido curto. Fica aqui explícito a minha admiração.

    Grande abraço e volte a este espaço sempre que quiser.

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  5. Lamento por seu amigo. Um episódio lamentável. Me fez pensar no tempo, na "falta de tempo" e em nossos verdadeiros amigos.
    Abraços
    Sonia

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