sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A capa do Milton


Foto de Cafi


            A lembrança mais marcante que tenho de Milton Nascimento é a apresentação de seu disco “Minas” de 1975, em sala de aula, por D. Fernanda, a nossa professora de Educação Musical da Escola João de Camargo.
O ano era 1977 ou 1978, não sei bem ao certo. Lembro-me que fiquei um tanto perplexo com a iniciativa da professora. Afinal, a turma era muito jovem, um grupo de meninos e meninas de quatorze ou quinze anos, totalmente desinteressados em música difícil. Sim, porque além do Milton ser difícil, pelo menos à primeira audição, o disco citado é um dos mais difíceis. Aliás, os discos do Milton Nascimento da década de 70 eram complicados mesmo.
Fiquei dividido entre prestar atenção na fala de D. Fernanda e nas músicas apresentadas numa pequena vitrola em cima de sua mesa e em me deixar levar na descontração que as aulas de música costumavam proporcionar. Eram como um contraponto às aulas de Português, da séria professora Nádia ou às de Ciências, da austera Marília. Eu me distraía com a turma e ao mesmo tempo ouvia com certa atenção as músicas novas e estranhas que viriam, em bem pouco tempo, se tornar especialíssimas para mim. Até hoje estão no meu enorme setlist de músicas preferidas.
Ouvir “Fé cega, faca amolada”, “Paula e Bebeto”, “Beijo partido” entre outras, apesar de parecer estranho a primeira audição, me trazia um certo incômodo, como se eu pressentisse o que estava por vir: a minha paixão por Milton Nascimento.
Aquela capa... Como D. Fernanda foi capaz de levar aquele disco para a aula? O que a fez tomar essa decisão de apresentá-lo a nós? Será que ela acreditava que fôssemos assimilar algo? Acho que sim, pois sempre fica algo, como ficou em mim. Obviamente, precisei ser apresentado mais demoradamente ao artista e precisei de outros llinks para entendê-lo melhor e apreciá-lo. Hoje considero a capa de “Minas” uma das melhores que conheço. A sua figura negra, de traços fortes me impressionou muito. Passei a me interessar pelas fichas técnicas dos discos, conhecendo os músicos, técnicos, fotógrafos etc.

Bons tempos aqueles do ginásio. Trago comigo outras lembranças importantes de D. Fernanda. Grande ser humano, grande professora. Uma das melhores.

6 comentários:

  1. A leitura de seus textos é para mim, uma delicada forma de reviver os fatos passados com gosto de quero mais... Lembro de professores que gostaria de saber como estão e se sabem da importância que tiveram em minha vida.
    Parabéns pelo estilo de escrever que você escolheu.
    Bjs para vc, Rita e filhote.
    Eliana

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    1. Eliana,

      revendo os comentários anteriores, como este seu, fico feliz por saber que meus textos, embora singelos, imprimem uma marca especial percebida pelos leitores.

      Obrigado por essa percepção.

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  2. Dona Fernanda sempre será lembrada por nós, como aquela que realmente abriu as portas da música em nossas vidas! Lembro também, que ela costumava levar músicas clássicas para ouvirmos de olhos fechados, à fim de compenetrar mais ainda e educar nossos ouvidos. Isso me valeu muito no segundo festival que participei, na nossa amada João de Camargo. Por causa desse festival aprendi à dedilhar, fazer pestana e a afinar o violão, pois naquele ano o amigo da Fátima não iria tocar para nós... Acabei sendo agraciada mais uma vez, como melhor melodia! Sabe, GRANDE AMIGO? Você é realmente dessas pessoas apaixonantes que trazem À tona toda essa garra de viver intensamente, lembrando-nos que nossa estória se constrói assim... Valorizando cada dia, dando o melhor de nós na construção de um mundo melhor!

    Amo você!

    Beijo no seu coração!

    DEISE CORDEIRO CANDREVA

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  3. Deise,

    quando pensei em escrever a nossa história da João de Camargo, foi por isso que fizemos agora. Contei um fragmento importante e lindo da história envolvendo D. Fernanda e você, comentando, contou uma outra, tão linda quanto. Quantos outros amigos não contribuiriam com outros fragmentos. Afinal, cada qual guarda um recorte importante.

    Como a empreitada mostrou-se, a princípio, complicada, resolvi, no meu Blog, matar a minha vontade de contar a minha parte.

    Sua parte é tão linda quanto a minha e, provavelmente, quanto todas as outras de outros colegas. Viva a memória afetiva!!!

    Grande beijo.

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  4. Assis,
    O Bituca é o ícone maior do Clube da Esquina. No entanto, cheguei a ele pela via contrária, ou seja, através do Lô e do Beto.
    O Milton Nascimento, nome, eu já conhecia desde Travessia,
    mas, como você traduziu bem, achava muito difícil para mim entendê-lo, ainda tão jovem.
    Mais tarde, através de seus pupilos, principalmente o Lô, fui captar um pouco da complexidade de sua obra e de seu valor estético, o que foi complementado pelo livro do Márcio Borges. Ali eu vi, além do artista de peso, a pessoa do Bituca.
    Hoje, meu filho de 12 anos pede para que eu coloque o Clube da Esquina #1. Ele adora. Imagina meu orgulho e alegria...
    Abraço,
    Rogério

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    1. Que bacana! Parabéns por essa experiência com seu filho.

      comigo aconteceu mais ou menos como foi contigo. Um primo meu, Nilo Sergio, me apresentou os discos clássicos do Clube. Como ele já trabalhava, podia comprá-los. Então conheci os clubes 1 e 2, os tantos outros do Milton e do Lô e por aí vai. Depois, eu fui comprando os meus e segui feliz. Devo muito a esse primo que me é caro até hoje.

      Grande abraço, meu amigo.

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