segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Zé Renato e Claudio Nucci, uma celebração da amizade!

Na última quarta-feira, 25 de setembro, fui assistir ao show da dupla, a qual comentei por ocasião da postagem "Pelo sim pelo não". Estava ansioso por essa oportunidade de vê-los juntos, pois ainda não tivera essa chance. Assistimos Rita e eu, juntamente com nossos amigos, Marcio e Eliana ao show do Zé Renato trio (Rômulo Gomes, baixo e vocal e Tuty Moreno, bateria e, é claro, Zé no violão e voz), alguns meses atrás, e foi muitíssimo bom. Lavei a alma. Porém, movido pelos últimos acontecimentos à respeito de um "resgate" que cito em outro post "Enquanto isso..." e todos os seus desdobramentos pelos comentários ( incluindo o do próprio autor), pelos vídeos do meu canal no Youtube, descobertos pelo poeta e parceiro da dupla Juca Filho etc., estava especialmente afim de assisti-los ao vivo. Pois bem, chegada a oportunidade, fomos Rita e eu para a porta do pequeno, mas charmoso e aconchegante Teatro I do Sesc da Tijuca. O show começava às 20h e o espaço lotou fácil. 

É engraçado como conseguimos nos surpreender com o resultado daquilo que já  temos certeza de como será. Sabia que seria bom, mas de cara, a dupla inicia o espetáculo com o nível lá em cima. Digo, níveis de qualidade porque eles iniciam com "Tupete", música composta pela dupla para o repertório da Banda Zil (da qual ainda devo falar por aqui). Cabe dizer que a música não tem letra e é praticamente toda vocalizada. É uma música difícil de tocar e de cantar. Outra dificuldade, para quem conhece bem a versão gravada pela banda é que nela, sete músicos participam com seus instrumentos e vozes. Sim, porque, embora na Banda Zil a dupla fosse responsável pelas vozes e pelos vocais principais, quase todos, ou todos, também contribuíam no canto. Nessa música, por exemplo, em uma das últimas partes, vários deles participam do vocalize, bem ao estilo Boca Livre. Então, assim que ouvi os primeiros acordes, pensei: vai ser f... E fiquei curioso e torcendo por eles. A dupla com seus violões e arranjos fazia parecer que eram quatro. E eram: duas vozes e dois violões. Mas tinha hora que parecia haver percussão, baixo etc. O Claudio me surpreendeu também com seu violão. Havia muito tempo que não o assistia e pude perceber como está em forma também, como o Zé. No início dessa música, existe uma série de acordes que serve de introdução, mas que continua a medida que as vozes entram. O problema é que sua métrica não serve necessariamente para o canto. De modo que tocar esses acordes e cantar ao mesmo tempo, mal comparando, lembra um pouco o João Gilberto, cuja voz vai para um lado e o violão para o outro. O Claudio deu uma de João Gilberto e, com muita técnica, tocava uma coisa e cantava outra. O detalhe é que ambas as coisas eram complexas. Fantástico!

Tentarei ser mais sintético, pois minha prolixidade adora parágrafos enormes. Se na primeira já resultou em toda essa história, imagine quando chegarmos ao final desse show...

Não consigo me lembrar de todo setlist, tampouco a ordem, mas me lembro que ele abriu com a que acabo de mencionar e fechou no bis com "Quem tem a viola" (Zé Renato, Xico Chaves, Cláudio Nucci e Juca Filho) . Como o show começou em alto nível, a segunda, uma das mais belas, na minha humilde opinião, foi "Atravessando a cidade" letra e música de autoria de Juca Filho. Uma canção do álbum que mencionei "Pelo sim pelo não", clássico trabalho e único registrado pela dupla. Essa música apresenta uma série de atributos que a tornam o que é. Sua tonalidade e suas notas possibilitam que o canto dos dois evolua limpo, sereno, suave. Enquanto escrevo, ouço-a para me inspirar, tal a importância de sua audição. Possibilita também o canto em duas vozes, típicas das duplas folks ou caipiras. 

Outro ponto alto e que me surpreendeu, foi a escolha por uma composição de Caetano Veloso: "Cá ja", do seu disco "Muito", de 1978. Acertaram em cheio. Adoro essa música e ela ficou muito boa nas suas vozes. Caetano adoraria, com certeza ("ou não"). Ou sim, senhor! Linda, linda.

Cantaram ainda "A Hora e vez", dos dois com Ronaldo Bastos, Pelo sim pelo não", da dupla com Juca Filho e "Papo de passarim" de Zé Renato e Xico Xaves. Todas do disco de 1985 da dupla. Do álbum de estréia do Boca cantaram "Toada" (Zé Renato, Claudio Nucci e Juca Filho), devidamente acompanha pela platéia (e não poderia deixar deixar de ser assim, se não perderia a graça); a doce e romântica  "Diana" de Toninho Horta e Fernando Brant, a já citada "Quem tem a viola" e "Mistérios", de Maurício Maestro e Joyce. 

Ainda mandaram ver com "Lamento Sertanejo": melodia de Dominguinhos com letra de Gilberto Gil, emocionando a todos, na homenagem ao querido músico da sanfona, falecido há pouco tempo; "Matança", de Jatobá, um protesto ecológico, gravado por Xangai e Geraldo Azevedo no antológico "Cantoria1" ( Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai) e "Blackbird", de um "grupinho", que segundo os dois estavam dando uma força: The Beatles. Ainda lembraram de algumas canções antigas e cada um cantou uma nova, O Zé de parceria com a Joyce e o Claudio com a Ana Terra, pra não ficar pra trás. Pouco, né?

No meio de tudo, ainda levaram "Quero, Quero", de Claudio Nucci e Mauro Assumpção, "Acontecência", de Nucci e Juca Filho e talvez, a única daquela fita K7, já tão citada e famosa por aqui pelo blog, "Sapato Velho", de Mu Carvalho (A cor do som), Claudio Nucci e Paulinho Tapajós. Disse talvez, porque tenho a impressão do Nucci ter cantado a linda "Tiça", também desse trabalho e de sua autoria. Acho que cantou sim. Foi tão emocionante que acabei por me deixar levar na viagem.

No final, fugi do meu estilo, quebrando o meu protocolo. Pedi autógrafos, que das letras não consigo decifrar, só sei que são suas assinaturas. Bem, os caras já cantam pra caramba... Tirei fotos que não sairam lá essas coisas. A do Zé saiu toda tremida. A máquina cismou de falhar na hora errada. Dei um gostoso abraço no Claudio que se lembrou do Chico do Blog do Chico. Foi legal.

O melhor de tudo foi poder apreender a mística da dupla e curtir a harmonia que rola quando os dois se apresentam. São velhos amigos (dos tempos ainda da adolescência), se formaram juntos. Foi muito bacana reparar no olhar de um para o outro, como querendo dizer é agora, é sua, manda ver. Reparar no olhar carinhoso mútuo como querendo dizer (e muito certamente): "estamos aqui novamente, como nos velhos tempos e como sempre será, porque somos irmãos, porque somos amigos". Eu estava bem perto, eu vi!




7 comentários:

  1. Esse é meu menino Assis!
    Sempre apaixonado pelo belo que a Vida proporciona...
    Esses sentimentos que tanto te comovem, Querido Amigo, é o que trazes dentro do teu peito. Por isso, identificas com tanta precisão quando os encontra em teu próximo. Fico feliz e realizada pela sua eloquência, fazendo-nos viajar assistindo a um filme através das suas palavras e emoções... Também sou fã deles, da arte deles, da Música de excelência dos áureos tempos, que hão de voltar! Enquanto ficamos nesta espera, do retorno às belas composições da nossa tão amada MPB, são canções como a de toda essa gente maravilhosa citada por você neste post, em especial Zé Renato e Claudio Nucci, que oxigenam nossas auras e ouvidos para continuarmos vivos e esperançosos...
    Quem conhece, ouve e curte Zé Renato, Claudio Nucci e afins, pode até respeitar o surgimento de certos "estilos musicais"(?), como forma de expressão de um povo, mas jamais se acomodará e os terá por seus!
    Grande e fraternal abraço, Gigante Assis!!!
    Deise Cordeiro Candreva

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    1. Deise,

      obrigado pelas palavras carinhosas. Você é bem especial, por ser amiga e também por ser artista. Sensibilidade à flor da pele.

      Vamos marcar aquele novo sarau. Não me esqueci não.

      Grande beijo.

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    2. Marca e me avisa Assis, que estaremos lá com toda certeza e feliz da vida!!!
      Deise Cordeiro Candreva

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  2. a música nos alimenta. para cada faminto seus alimentos prediletos. a escolha do Assis foi do tipo "seleta" - ervilha com milho... sempre dá certo! o Zé e o Cláudio parece que nasceram na mesma embalagem e frequentam o mesmo armazém de sons há décadas.

    por fim, fã é que fã usa óleo de peroba King (dos bons!) e não pensa duas vezes ainda de tietar em bom estilo.

    do repertório da dupla (e do grupo Boca Livre) não carece comentários, mas renovadas audições. é assim que se deve homenageá-los.

    sigamos, Assis, sigamos, pois as emoções na nossa rica música brasileira estão sempre a uma esquina de distância da nossa alma.

    abraços

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    1. Abel, meu amigo.

      Como sua presença nos faz falta. Ainda bem que as novas tecnologias da internet nos tornam mais próximos. Muito legal seu comentário. Gostei do verde e amarelo do alimento. Bela imagem.

      Aguardo a sua nova postagem sobre o Pixinguinha lá no Face. Fiquei curioso para ler o livro que citou. Tenho alguns do autor e de outros autores também. Tem uma galera boa que escreve sobre música brasileira. Utilizei muitos deles no meu trabalho sobre o samba.

      Grande abraço e obrigado pela participação!

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  3. Demais! No Studio RJ o Cláudio cantou "Meu silêncio". Emocionante!

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    1. Valeu pela presença aqui no blog do chico. Que bom que gostou! Grande abraço.

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