quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Confins da Terra

Por João Pedro Furriel

No século XV, houve uma épica história que poucos conhecem: É a história de uma aventura sinistra. Capitão Jack Espirro e seu leal e inteligente “servo” Mocinha estavam em busca do Velocino de Touro, um artefato místico e caro que se caracteriza por ser um belo velocino retirado de um... touro, por isso é místico! Mas esse tesouro estranho só podia ser encontrado no Fim do Mundo, onde existe o limite do “Plano” que o mundo seria. Porém, Mocinha, o forte e astuto estrategista, sabia que as lendas estavam erradas. Em seu conceito, a Terra era esférica que nem uma laranja, e esse local denominado “Fim do Mundo” era uma grande queda d'água próxima ao Atlântico.

     Capitão Jack pensava o oposto: a Terra era plana e não possuía fim, e esse “Fim do Mundo” era um futuro distante onde o mundo acabaria. Para ele, a missão era pegar uma máquina do tempo perto do Atlântico e viajar para o futuro, onde estaria o Velocino de Touro, e quem não acreditasse nisso seria um estúpido.

-Capitão Espirro! Estamos prontos para partir!
-Então corte as cordas que nos prendem à margem e reme até o além!!!

A missão se tornou suicida após três horas, quando eles notaram que esqueceram o rum no porto.

-O rum não!!! Dê a volta, Mocinha!!!
-Tarde demais, senhor! Uma tempestade vem aí!
-Ah é! Esqueci que tinham os Krakens e as baleias com cabeça de marmota assassinas!
-Senhor, suponho que seja só uma tempestade de vento...
-Como é tolo, marujo! É muito tolo! É tolo pra caramba!
-Já entendi, senhor...
-Tolo!!!

     Após a tempestade, veio outro desafio: a fome! O tormento de perder o rum tirou a fome deles... E agora, depois de dois dias, eles estão com fome de novo. Comeram todo o estoque.

-Senhor... permissão para morrer?
-Segure sua alma, marujo! Estou avistando uma sereia!

     A tal sereia na verdade era uma rocha, a qual o navio ia em direção.

-Senhor! A fome o está iludindo! A tal sereia não existe, é uma...
-Mas você só pode ser estúpido, Mocinha! Muito estúpido! Vamos atropelá-la e fazer uma sereia frita!

     O navio colide com a pedra rígida e uma fenda se abre no casco. Mocinha e Espirro descem com velocidade. A água já inundava todo o andar de baixo.

-Maldita! Não sabia que sereias eram tão fortes!
-Vamos pegar o barco reserva e abandonar navio! A abertura é grande demais pra consertar.

     Os dois escapam em um bote. Ficam alguns dias remando no oceano. Pescam dois peixes nesse tempo. Já era o amanhecer do terceiro dia quando Capitão Jack se espanta com o horizonte.

-Uma ilha! Terra à vista, marujo! Pegue o remo, depressa!!
-Estamos quase chegando, Capitão!

     Eles chegam à praia. Capitão corre em direção à floresta e some de vista. Mocinha fica sozinho catando cocos e bananas, xingando em voz baixa seu capitão. 

     No fim da tarde, Capitão volta à praia com uma notícia urgente:

-Canibais!!!

     Um exército de índios preenche a praia, cercando Jack e Mocinha.

-Buga uga! - Disse o índio.
-O que ele disse?! - Gritou Jack.
-Não sei! Fique calmo, senhor! Vou formular um plano!

Os canibais atiram dardos tranquilizantes nos dois e eles dormem...

-Onde estamos?

     Jack questionava algo óbvio. Eles se encontravam numa gaiola de ossos, suspensa em uma piscina de ácido, dentro de uma caverna. Canibais os cercavam com lanças e as mulheres preparavam a fogueira.

-Mocinha... Diga que você tem um plano!
-Sinto muito, senhor... eu...
-É uma ordem, marujo!

     Os dois são interrompidos pela chegada do xamã da tribo. Um homem branco vestido de penas e segurando um cajado. Ele se surpreende com os prisioneiros e ordena soltá-los. A jaula desce e Jack sai chorando para abraçar o xamã, mas é abordado pelas lanças.

-Aga uga! – Ordenou o xamã e os índios se afastam. -O que faz meu povo aqui?
-Capitão, ele é um de nós!
-Sim e não. Agora sou líder da minha própria tribo. Quem são vocês?
-Sou Mocinha, estrategista, ex-soldado e esse é o Capitão Jack Espirro.
-Nunca vi nomes mais estúpidos... O que fazem aqui?
-Nos desviamos do nosso caminho. Nosso navio afundou e tivemos que atracar na sua ilha.
-Entendo...-Disse o Xamã -Meu navio também já afundou há anos atrás... porque eu confundi uma pedra com uma sereia... Fiquei dias remando até encontrar essa ilha. Ao contrário de vocês, os canibais me enxergaram como um ser divino.
-Por que? -Perguntou Jack.
-Porque eu sou um alquimista.
-Bruxo! Bruxão!! -Gritava Jack -Vai nos transformar em ouro!
-Não faria isso, não é tão simples. Como posso ajudá-los?
-Bom... estamos em busca do Velocino de Touro, que fica no Fim do Mundo. Sabe onde fica?
-O Velocino... Deus, já me esquecia!
-Você sabe do que estamos falando?!
-Se vocês querem o Velocino, é melhor vocês irem! Vou lhes fornecer comida e um mapa e vocês podem partir.
-Do que está falando? Por que a pressa?
-Vocês não sabem? A corrida continental em busca do Velocino de Touro! Todos os países europeus, e quem sabe, até os de outros continentes estão indo atrás do tesouro. Eles devem estar muito à frente!

O xamã os leva ao barco que estava cheio de comida. Ele entrega para Mocinha o mapa.

-Este mapa os levará até o Fim do Mundo.
-Não quer ir com a gente? Voltaremos para nossa terra, ricos.
-Meu lugar é aqui... Agora vão!

     O barco parte. Já podiam ver a ilha bem pequenininha ao longe, e o xamã estava perdido em lembranças, mas, enfim, retorna e some dentro da floresta.

-Para o Leste, Mocinha! Não podemos perder esse tesouro!
-Sim, senhor!

     As horas passam e de repente já é outro dia. O mapa os levou para o Jardim Aquático das Pedras, um local cheio de pedras altas e pontiagudas.

-Este local deve estar cheio de corais, senhor.
-Nunca vi lugar igual! Espere! Estou vendo algo... -Capitão Jack tenta enxergar o horizonte e se espanta com o que vê. -Os ingleses! Abaixa-se!
-Vamos nos esconder atrás das pedras.

     Ao longe estava o navio inglês. O Capitão inglês puxava sua luneta e avistava as pedras.

-O Jardim Aquático das Pedras... Que doido! Ei, a estibordo, idiotas, senão bateremos no recife!
-Capitão! Capitão! -Aparece Guliver, o braço-direito do Capitão. -Capitão! Capitão!
-Fala logo, caramba!
-Avistamos um barco no Jardim!
-Um barco?! Guli-Guli, arme os canhões!

     O barco se escondia nas pedras. Jack e Mocinha estavam abaixados em silêncio, esperando o navio ir embora.

-Mocinha, estica o pescoço e dá uma espiada.

     Ele expõe sua cabeça e tenta ver atrás das grandes pedras. Até que...

-Cuidado!!

     Uma bala de canhão atravessa as pedras e quase acerta o barco.

-Atirem novamente! -Grita o Capitão inglês.

     O navio atira de novo e de novo, acertando as pedras.

-Eles vão nos matar!
-Eles não sabem... -Boom! -Eles não sabem exatamente onde estamos. Estão atirando em todos os cantos!

     O barco acaba ficando à mostra entre as pedras. O navio atira e o projétil parte o barco ao meio, fazendo os dois nadarem e vislumbrarem o colossal navio à sua frente.

-Capitão! -Chama Guliver. -Estes são os piratas! -Os dois são levados até o Capitão inglês. 
-O que faremos com eles?
-Cale-se, Guli-Guli! Seus nomes!
-Ca Ca Capitão Jack Espirro... E e esse é meu Braço-direito, Mocinha...
-Como?!
-Mocinha, senhor-diz o próprio
-Mocinha?!
-É... com todas as letras!
-Tem vergonha não? Enfim!
-Capitão-diz Guliver-devemos eliminá-los?
-Não... esses dois viajaram até aqui. Com certeza estão atrás do Velocino! Revistem-nos!
-Capitão, eles trouxeram um mapa!
-Um mapa?-Guliver entrega na mão do Capitão o mapa-É que nem o nosso, mas tem mais informação. Atualizem o curso! E quanto a vocês...!
-Nós...?-Capitão Jack se tremia todo-O que tem nós??
-Serão nossos prisioneiros! Substituirão os escravos que morreram! Levem-os!

Os dois foram jogados para dentro dos aposentos dos negros, que olhavam estranhando pra eles.

-Que humilhação!-exclamou Jack-Sou um homem nobre! Não mereço estar aqui!
-É, Capitão... parece que acabou.
-Me recuso a ser subjulgado!
-Jack, não temos para onde ir!
-Não me chame de Jack! É Capitão Jack! Você é o cara dos planos, certo? Pense em algo!

Mocinha suspira fundo. Ele sempre foi paciente, mas aquelas eram circunstâncias diferentes.

-Certo, Capitão. Pensarei em algo...

Os dias foram passando, comeram os restos da comida dos ingleses, limparam a proa centenas de vezes, remaram junto como escravos por horas, até que...

-Franceses!!!

A tripulação preparava os canhões. A confiança deles não estava muito boa, pois haviam três navios inimigos. Toda a tripulação estava de um lado do navio olhando para o horizonte. Mocinha notou isso e chamou Jack.

-Ei! - Jack escuta e corre para perto dele.
-Tive um plano!
-Ótimo, marujo! Sabia que você era útil!

Os dois correm para o alçapão e Mocinha arranca um parafuso duma parede.

-Um deles deve vir para checar os escravos. Vamos pegar as armas dele.
-Wow! Não sabia que você matava!
-Não vou matá-lo.

     Ele entorta o parafuso e usa como chave para abrir as algemas deles.

     Um soldado desce as escadas e Jack o acerta com uma tábua.

-Isso, Capitão! Pegue a espada que eu pego arma...
-Não! Você pega a espada e EU pego a arma!

     Os dois estavam prestes a ir embora, mas eles se esquecem de uma coisa: os escravos.

     O navio inglês estava todo esburacado pelas balas dos canhões, a tripulação estava desesperada, Capitão Inglês estava escondido tentando dar ordens para um bando de desesperados. Até que ele vê os negros fugindo e atacando os soldados.

-Tomem o navio!!-gritou Jack
-Não, homem! Logo esse navio vai afundar!-retrucou Mocinha

     O Capitão Inglês saca sua arma e mira no Mocinha, mas um escravo aponta sua espada para o pescoço dele e o faz soltar. Em seguida todos estavam apontando suas espadas para ele.

-Guli-Guli!! Guli...!
-Cale-se!-disse Mocinha

     O Capitão do navio francês vê a cena com sua luneta e diz ao seu Braço-Direito:

-Caraca! Que loco!
-O que me diz, Capitão? Deixaremos eles resolverem entre si?
-Sim, esses ingleses são uma causa perdida mesmo... Partiu Fim do Mundo!

     E os navios franceses seguem seu caminho.

-Seus idiotas! Os franceses agora estão na frente! Cadê o Guli-Guli?!
-Estou aqui, Capitão!-Guliver aparece sendo escoltado por dois escravos-Desculpe, Capitão... E-eu não pude dar conta!
-Mocinha!-diz Jack-Vamos jogar esse cara no mar e levar seu navio!
-Tenho uma ideia melhor!

     O Capitão Inglês e Guliver estavam num barco no meio do oceano, expulsos de seu próprio navio.

-Rema, Guli-Guli!! Estou vendo terra-firme!

     Os dois chegam à margem.

-Certo, Guli-Guli! Traga madeira e faça uma cabana... que foi, Guli-Guli?!

     Os canibais aparecem da floresta e cercam os dois.

-Maldito... Mocinhaaa!!!!

     O novo navio de Capitão Espirro e seu marujo era potente, mas estava bem destruído. Os dois olhavam para o horizonte azul.

-O que estamos olhando, senhor?
-Não estraga a cena! Cheque o mapa.
-Aqui diz que estamos chegando, senhor. Mas algumas milhas e estaremos lá.
-Perfeito!
-Senhor, o que fará quando conseguir o Velocino?
-Ainda tenho muito tempo pra pensar nisso quando eu viajar para o futuro!
-Não existe viagem... Ah, esquece!

     O navio vai veloz e paciente. Seja lá o que fosse esse Velocino de Touro, a viagem e a aventura valeram a pena... menos quando eles viraram escravos por dias.

     O navio atraca em meio às rochas e ao nevoeiro. Toda a trpulação de ex-escravos, inclusive Jack e Mocinha espantavam-se com o que viam: um colossal castelo: Cidadela. Sua aventura chegaria ao fim ao passar por aquelas portas... ou não!



Continua...



13 comentários:

  1. Essa história escrita pelo João foi resultado de um exercício da escola, no qual teve que utilizar algumas referências da matéria. A sua criatividade acabou por criar um texto inteligente, bem-humorado e muito ágil. Uma ficção inicial que aponta bem o que pode vir pela frente.

    Publicar um texto bacana como esse do filhote nos dá um prazer imenso. É muito bom vê-lo criando também as suas artes

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  2. Assis,
    Que legal! Quanto fôlego! rsrs
    Como é bom saber que ele já foi fisgado pela escrita.
    Parabéns, João e pai coruja!

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    1. Obrigado, Eliana!

      É mesmo uma alegria grande perceber o talento que é dele e só dele. Somos, às vezes, no máximo incentivadores e/ou inspiradores. Bj.

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  3. Estou muito feliz em saber que o meu filhote está escrevendo uma história fantástica.
    Estou ansiosa para saber o final.
    Mamãe Rita

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  4. Parabéns ao João Pedro!
    Escreve muito bem e dá ritmo ao texto.
    Uma viagem, literalmente.
    Abraço
    Rogério

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    1. Valeu, Rogério,

      você que é pai de filhos talentosos sabe bem como é boa essa sensação de ver as crias produzindo suas artes.

      Que bom que gostou!

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  5. Olá João Pedro!,

    Amei essa torrente, plena, de criatividade!!

    " O navio atraca em meio às rochas e ao nevoeiro. Toda a tripulação de ex-escravos, inclusive Jack e Mocinha espantavam-se com o que viam: um colossal castelo: Cidadela. Sua aventura chegaria ao fim ao passar por aquelas portas... ou não!"

    Magnífico final deixando-nos, ávidos, à espera do próximo capítulo!

    Parabéns, João Pedro !! … Me comove estar tão próxima, de mais um escritor que nasce!

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  6. Parabéns, Assis !! … Seu filho é mais um escritor, que nasce!
    Abraços, amigo!!

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    1. Deise querida,

      não tenho palavras para descrever minha alegria por suas palavras carinhosas e de incentivo. Obrigado pela sua presença e amizade. Bjs.

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