Muitos foram os motivos que levaram-me a escrever sobre o samba e a época escolhida. Juntamente a este tema, associei a questão da modernidade por entender que a construção do gênero musical, como se percebe urbano, atual, se deu num momento em que o país buscava também a sua face. O Brasil se buscava como nação como em nenhum outro momento da sua história. Houve, nas primeiras décadas do século XX, principalmente a partir da chamada Era Vargas , um grande esforço no sentido de dar ao país características modernas, industriais, capazes de elevá-lo, rapidamente, a um padrão de auto-suficiência. Para tanto, o Brasil precisava saber-se Brasil. E foi nesse contexto de debate entre tradição e modernidade que o samba nasceu, se desenvolveu e transformou-se.
A decisão pela escolha do tema surgiu numa aula de História do Brasil. A partir de então, passei a ler mais sobre o assunto e, principalmente, a ouvir a produção antiga, muitas coisas no original, inclusive. Então, descobrir as vozes maravilhosas de Orlando Silva, Mario Reis, Francisco Alves, entre outros; a modernidade de Noel Rosa; a produção maravilhosa de Aracy de Almeida; a genialidade malandra de Wilson Batista, foi um grande deleite. Fazer uma “ponte ” com um passado familiar, quando ouvia dos mais velhos algumas daquelas frases melódicas e casos típicos da época, que agora tenho um domínio melhor, também me animou muito. Foi como montar um grande quebra-cabeças dessa história que até então estava fragmentada em minha mente. O trabalho passou a ter, naturalmente, um caráter extremamente familiar e, consequentemente, afetuoso.
Outra razão que me motivou bastante foi a tese de que a modernização da música brasileira aconteceu com o surgimento da Bossa Nova. O que faz sentido, porém em parte. A música brasileira, sobretudo, o samba carioca, já era bem moderna antes do surgimento do movimento bossa-novista. Obviamente, com o avanço das tecnologias, muito se pôde produzir com mais sofisticação e melhor qualidade. Além disso, diversos fatores contribuíram para que a música nacional tomasse o rumo que tomou como o flerte com o jazz, por exemplo. Mas creio que Pixinguinha, Donga, Sinhô, Noel, Vadico, Ismael Silva, para citar apenas alguns, eram tão modernos quanto Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Morais, Baden Powell e tantos outros craques da Bossa Nova.
Esse marco que foi o surgimento da Bossa Nova resultou num debate que colocava o samba feito anteriormente como “velhaco ”, antiquado, enquanto a modernidade da bossa-nova e a música produzida daí em diante, de boa qualidade. Ruy Castro comenta sobre esse debate no capítulo Jogo de Cena de seu livro Chega de Saudade – a história e as histórias da Bossa Nova. Castro relata muitas passagens históricas nas quais alguns integrantes e simpatizantes deste movimento entram em confronto com colegas da chamada velha guarda. Um caso bem marcante aconteceu com o compositor e jornalista Antonio Maria que, aborrecido com comentários de Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Carlos Lyra e até de Tom Jobim a respeito de aspectos “desagradáveis” em músicas do “passado”, reage ferozmente, criticando-os e iniciando ataques em seu programa Preto no Branco na TV Rio e em sua coluna diária em O Jornal.
Os mesmos mestres fundadores da Bossa Nova logo perceberam a importância de um resgate do que havia de melhor dos clássicos antigos e regravaram jóias do passado como fez João Gilberto com músicas de Ary Barroso, Caymmi, Noel, Geraldo Pereira, Haroldo Barbosa, Assis Valente, entre outros.
Assim, ciente da importância da música das primeiras gerações, o debate se baseou, não no que era mais ou menos moderno. O juízo de valor ficou de fora, dando lugar à inventividade do samba feito nos primeiros momentos e à modernidade natural que ele impunha. Conceitos ligados à questão da modernidade sempre estiveram ligados à história do samba, assim como ao conteúdo de sua produção.
A grande contribuição deste debate é a busca da valorização dos aspectos da arte e da cultura, em qualquer época da história, considerando, obviamente, o seu tempo. Assim, o que se identificou como de boa qualidade e de vanguarda, será sempre moderno, pois revolucionou, de algum modo, a sua época.
Razão da pesquisa do trabalho de conclusão do curso de história..
A decisão pela escolha do tema surgiu numa aula de História do Brasil. A partir de então, passei a ler mais sobre o assunto e, principalmente, a ouvir a produção antiga, muitas coisas no original, inclusive. Então, descobrir as vozes maravilhosas de Orlando Silva, Mario Reis, Francisco Alves, entre outros; a modernidade de Noel Rosa; a produção maravilhosa de Aracy de Almeida; a genialidade malandra de Wilson Batista, foi um grande deleite. Fazer uma “ponte ” com um passado familiar, quando ouvia dos mais velhos algumas daquelas frases melódicas e casos típicos da época, que agora tenho um domínio melhor, também me animou muito. Foi como montar um grande quebra-cabeças dessa história que até então estava fragmentada em minha mente. O trabalho passou a ter, naturalmente, um caráter extremamente familiar e, consequentemente, afetuoso.
Outra razão que me motivou bastante foi a tese de que a modernização da música brasileira aconteceu com o surgimento da Bossa Nova. O que faz sentido, porém em parte. A música brasileira, sobretudo, o samba carioca, já era bem moderna antes do surgimento do movimento bossa-novista. Obviamente, com o avanço das tecnologias, muito se pôde produzir com mais sofisticação e melhor qualidade. Além disso, diversos fatores contribuíram para que a música nacional tomasse o rumo que tomou como o flerte com o jazz, por exemplo. Mas creio que Pixinguinha, Donga, Sinhô, Noel, Vadico, Ismael Silva, para citar apenas alguns, eram tão modernos quanto Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Morais, Baden Powell e tantos outros craques da Bossa Nova.
Esse marco que foi o surgimento da Bossa Nova resultou num debate que colocava o samba feito anteriormente como “velhaco ”, antiquado, enquanto a modernidade da bossa-nova e a música produzida daí em diante, de boa qualidade. Ruy Castro comenta sobre esse debate no capítulo Jogo de Cena de seu livro Chega de Saudade – a história e as histórias da Bossa Nova. Castro relata muitas passagens históricas nas quais alguns integrantes e simpatizantes deste movimento entram em confronto com colegas da chamada velha guarda. Um caso bem marcante aconteceu com o compositor e jornalista Antonio Maria que, aborrecido com comentários de Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Carlos Lyra e até de Tom Jobim a respeito de aspectos “desagradáveis” em músicas do “passado”, reage ferozmente, criticando-os e iniciando ataques em seu programa Preto no Branco na TV Rio e em sua coluna diária em O Jornal.
Os mesmos mestres fundadores da Bossa Nova logo perceberam a importância de um resgate do que havia de melhor dos clássicos antigos e regravaram jóias do passado como fez João Gilberto com músicas de Ary Barroso, Caymmi, Noel, Geraldo Pereira, Haroldo Barbosa, Assis Valente, entre outros.
Assim, ciente da importância da música das primeiras gerações, o debate se baseou, não no que era mais ou menos moderno. O juízo de valor ficou de fora, dando lugar à inventividade do samba feito nos primeiros momentos e à modernidade natural que ele impunha. Conceitos ligados à questão da modernidade sempre estiveram ligados à história do samba, assim como ao conteúdo de sua produção.
A grande contribuição deste debate é a busca da valorização dos aspectos da arte e da cultura, em qualquer época da história, considerando, obviamente, o seu tempo. Assim, o que se identificou como de boa qualidade e de vanguarda, será sempre moderno, pois revolucionou, de algum modo, a sua época.
Razão da pesquisa do trabalho de conclusão do curso de história..
Assis,
ResponderExcluirAdorei a aula de história musical aqui apresentada. O texto está muito bem escrito e me fez lembrar da música: "quem não gosta de
samba(....)é ruim da cabeça ou doente do pé...
Parabéns!
Obrigado, Eliana!
ResponderExcluirSua visita e seus comentários são sempre bem-vindos!
Que bom que curtiu!
Bjs.
Grande Assis,
ResponderExcluirCara, bacana o seu texto. Estou me embrenhando na seara do samba, principalmente os sambas compostos por essa turma da pesada como Donga, Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Noel e outros. Vejo que você tem bastante material sobre o assunto e gostaria de beber nessas águas...rsrsrsrs.
Abs
Nelson
Nelson,
ResponderExcluiresse texto é um recorte de parte da minha monografia, "Samba e Modernidade - O samba como agente transformador na primeira metade do século XX". Se quiser, lhe mando uma cópia.
Que bom que gostou! Abração.