segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Adeus, Hobsbawm

Durante os anos do curso de história, lembro-me da minha felicidade e de outros colegas por vivermos no tempo de Eric Hobsbawm. Lemos tanto o autor que tínhamos o conhecimento claro da sua importância e que nos dava orgulho saber que ele ainda vivia e continuava a produzir, apesar da idade avançada.

Morre hoje aos 95 anos de idade o mestre do século XX. De família judia, Hobsbawm nasceu na cidade de Alexandria, no Egito, em 9 de junho de 1917. O pai de Hobsbawm, o britânico Leopold Percy, e sua mãe, a austríaca Nelly Grün, mudaram-se para Viena, na Áustria quando ele tinha apenas dois anos e depois para Berlim, na Alemanha. Com 14 anos, após a morte dos pais, mudou-se com os tios para Londres, quando já havia aderido ao Partido Comunista. Essas idas e vindas muito provavelmente explicam o seu interesse pelo estudo dos conceitos de nação, de nacionalidade e de nacionalismo. Afinal, de onde era Hobsbawm? Ele costumava dizer que era do mundo.

Hobsbawn é considerado um dos maiores historiadores do século 20 e escreveu "A Era das Revoluções", "A Era do Capital", "A Era dos Impérios", refletindo o século XIX e a "A Era dos Extremos" que abrange o século XX. Considerado por muitos como um generalista, Eric buscava dar conta do todo. O problema é que é preciso correr para dar tempo de falar de tudo e aí corre-se o risco de perder algo ou mesmo tornar o texto um tanto confuso. Mas eu adoro essa coragem e esse talento para dar um panorama geral do momento. É interessante perceber que num determinado tempo fatos históricos acontecem em várias partes do mundo a partir de semelhntes demandas.

Ainda assim, Hobsbawm ficou marcado pelo interesse no estudo do desenvolvimento das tradições e seu trabalho marcou-se pelo estudo da construção destas dentro do modelo do Estado-nação. Para ele, muitas vezes, as tradições são inventadas para legitimar nações. Esse é um assunto constante em Hobsbawm, tendo ele dedicado a obra "Nações e nacionalismos desde 1780" só para esse tema. Para o autor, o Estado é que forma a nação e o nacinalismo e não o oposto, como se imagina. A "consciência nacional", como a entendemos, para ele é um fenômeno artificial e relativamente recente.

Eric Hobsbawm foi membro do grupo de historiadores marxistas britânicos, juntamente com Christopher Hill, Rodney Hilton e Edward Palmer Thompson criadores da "História Social", importante corrente que nos anos 60 buscava entender a história da organização das classes populares, suas lutas e suas ideologias.

O intelectual figura entre os maiores expoentes da sua disciplina. Podemos elencar entre esses, os franceses da Escola dos Annales Marc Bloc, Lucien Febvre, Fernand Braudel e Jacques Le Goff (os dois primeiros, fundadores da Revista dos Annales em 1929, os outros dois da segunda e terceira gerações da Escola, respectivamente); os também franceses Roger Chartier e Francois Furet e o inglês Peter Burke, todos ligados também a essa importante escola francesa. Outros importantes estudiosos da área são Perry Anderson e seu irmão Benedict Anderson cuja principal obra "Comunidades imaginadas" fala do assunto recorrente em Hobsbawn e é um clássico que não pode deixar de ser lido por quem se interessa pelo assunto "nacionalismo".

Além das obras já citadas, Hobsbawm ainda escreveu sobre a "História Social do Jazz". Para quem gosta de história e música como eu, um prato cheio. 

Valeu, Mestre!

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Um comentário:

  1. Uma pequena biografia bem interessante, serve de pesquisa ou de apresentação para os que ainda terão contato com suas obras. Lembro-me de estar empolgada tb pelo fato de saber que ele estava vivo e produzindo. Afinal, a maioria de nossos ídolos intelectuais já haviam falecido.
    Não sei se vc soube, mas a Veja ao falar da morte dele disse algumas besteiras (pra variar), entretanto a ANPUH já se colocou frente ao absurdo...
    Eu admiro mto o Hobsbawm pelo seu trabalho analítico em macroestruturas. Mesmo com todas as críticas a esse trabalho, acredito que mesmo o mais especialista pode deixar passar algumas coisas. A gente nunca irá dar conta do todo, seja esse todo a dimensão que for. Temos que admitir nossa incompletude, porém deixando marcas teóricas importantes para o desenvolvimento dos estudos e das percepções sobre o mundo.
    Bjo
    Gostei mto do texto. Bonita homenagem!

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