domingo, 11 de setembro de 2011

Fahrenheit 9/11: uma resenha do filme de Michael Moore


 Esse texto foi escrito em 15 de setembro de 2004. Portanto, de algum modo ele é datado, pois fala de algumas situações que são passageiras, como por exemplo do governo Bush e da Guerra do Iraque que já acabaram. No entanto, o tema ainda é muito presente e nos leva a reflexões bastantes profundas sobre liberdades, democracias, fundamentalismos religiosos, tolerância com as alteridades, geopolítica etc. O episódio do ataque e destruíção das torres gêmeas do World Trade Center inaugura um tempo novo na contemporaneidade. Esses novos desafios temáticos e o poder de acesso que o público tem, graças às tecnologias como a da internet, possibilitarão um debate cada vez mais abrangente e rico.
No que vai dar isso? Quem viver, verá.

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O Obstinado Michael Moore e seu libelo anti-Bush

                             
Assistir ao filme Fahrenheit 9/11, vencedor da Palma de Ouro, em Cannes, como melhor filme de 2004 é fundamental, mas, sobretudo, escrever, ler e discuti-lo é importante e necessário, visto a gravidade do assunto do qual se trata. O filme de Michael Moore é um documentário que tem nas suas imagens o seu ponto forte. O filme é objetivo e seu autor deixa claro o seu intuito principal: o desmascaro do Presidente americano George W. Bush e de sua base. O cineasta acompanha a trajetória de Bush, desde sua controversa eleição em 2000, passando pela tragédia das “torres gêmeas”, pela invasão e guerra no Afeganistão e, finalmente, a guerra no Iraque, que ainda não se sabe o desfecho que terá.

Michael Moore é, antes de tudo, um obstinado, um ativista que tem como missão principal no momento tirar o Presidente Bush do poder. Moore é um crítico ferrenho das políticas conservadoras de Bush e seu partido republicano. Popular em seu país por seus livros polêmicos e bem vendidos; por seu documentário anterior, Tiros em Columbine, vencedor do Oscar de 2003, e, agora no mundo todo, por seu grande sucesso de extraordinária bilheteria, sabe que, apesar disso, é muito criticado pelos quais antagoniza e também pela chamada “esquerda intelectual americana” que não gosta de seu “humor bobo”. No entanto, não se aborrece com isso e diz que o que importa mesmo é ser ouvido e visto por um maior número possível de pessoas.

De fato, o cineasta utiliza-se de vários recursos cinematográficos na realização de seu trabalho. Seu filme tem uma grande dose de ironia (às vezes com um certo humor), quando mostra o presidente se divertindo, durante os seus 42% de férias de seus primeiros oito meses de gestão; é duro com seus desafetos quando, por exemplo, propõe à alguns dos senadores que alistem seus filhos nas forças armadas para servirem à pátria, no Iraque; é forte nas imagens nas quais mostra a dor das famílias enlutadas e, principalmente, nas cenas da guerra.

Fahrenheit 9/11 denuncia uma vontade implicitamente “totalitária” do governo Bush. Implicitamente porque este não se admite assim; totalitária porque toma decisões arbitrárias a despeito das convenções internacionais e também porque força uma ideologia do medo: Ataquemos primeiro, pois seremos atacados, com certeza. A ideologia da guerra contra o terror que faz com que os próprios americanos vivam sob o domínio do medo paranóico, além do medo real do terror, num estado de alerta constante.

Um dado curioso do filme é a questão das fontes de informações. Como Michael Moore consegue acesso a tantos documentos confidenciais e a tantas provas? Como consegue estar tão próximo de tudo e de todos em tantos lugares diferentes? Seja como for, seu esforço é realmente enorme e admirável. As ligações empresariais entre americanos e árabes, como as das famílias Bush e Bin Laden, são desconsertantes. Os negócios feitos e os pretendidos nas regiões de conflito, principalmente depois do incidente do World Trade Center, são colocados em cheque como justificativas reais, não declaradas, para as guerras.

Moore presta um serviço muito importante como uma voz que se levanta para denunciar os desmandos do “império americano” e nos alerta para esta realidade nova e séria, que diz respeito a todos nós que vivemos neste planeta. Ele vai direto ao assunto. Não teme retaliações e enfrenta seus desafetos atingindo-os em seus pontos fracos. Não se utiliza de meias palavras, nem de subjetividade.

O horror produzido pela guerra, onde civis inocentes e indefesos, assim como soldados que não pediram para matar ou morrer, é algo de difícil descrição. Entre muitas coisas que o filme mostra, o mais importante é promover em quem assiste, o entendimento do quanto a guerra é estúpida. O filme nos leva a refletir sobre o grande mal da guerra e da necessidade de acabar de vez com ela. O Problema é que Bush a adora.

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5 comentários:

  1. Assis,

    Realmente este é um assunto que sugere tantas reflexões sobre este mundo de guerras...
    Ontem eu assisti uma entrevista no programa Sem Censura que tratava deste assunto (http://youtu.be/eI1vyJ8nb7I). Foram dois escritores comentar sobre seus livros. Vai aqui a dica: Luiz Eduardo Matta e o livro: O dia seguinte (romance juvenil) e o jornalista Marcelo Csettkey sobre o : Crime de Estado

    Bjs!

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  2. Esse tema está longe de estar datado, haja visto matéria que saiu no Globo na 2a. feira mostrando o Bush e Obama juntos, sendo que o 1o. foi ovacionado pelo público. Infelizmente o mundo das touradas, do Coliseu e das guerras ainda alimenta o espírito de muita gente que vive a fantasia da sociedade do espetáculo. Abraços.

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  3. Caro amigo(a),

    gostaria de saber seu nome e dizer que, como falei no início da apresentação, o que é datado é o texto da resenha, pois alguns fatos ficaram para trás, como o governo Bush e a guerra do Iraque. Porém o tema é mais que atual.

    Obrigado pela participação!

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  4. Eliana,

    assisti ao programa. Muito bom. Eu gosto muito do Luiz Fernandez, Profº de RI. Já vi várias entrevistas dele. É figura constante na TV Brasil. Ele resumui muito bem o contexto pré e pós 11/09. Sobre o livro "Crime de... Estado", lembro que li vários artigos e comentários a respeito da teoria da conspiração. O próprio filme do Michael Moore, fala bastante disso. Esse tema RI é por demais interessante. Valeu pelo link!

    Bjs.

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  5. O 11/09 é um marco histórico, mudou mta coisa na ordem, nos assuntos e nas agendas internacionais.
    Atualmente, estou fazendo uma disciplina no mestrado que fala sobre a produção de documentário, sobre a questão da intenção do diretor, com o filme, da questão da ética etc. Eu gosto muito do Moore, mas os críticos sempre argumentam que os dados que ele levanta são duvidosos, pois ele não deixa claro suas fontes e também pq seria duvidoso o acesso a essas informações.
    Eu tinha uma prof.ª de história que falava que os EUA, qdo estão com problemas financeiros, buscam logo uma guerra para a economia ser impulsionada, pois toda a população se engaja, se une, além de toda a fortuna que gira em torno dos conflitos, a preço de muitas mortes, principalmente de inocentes.
    Também tem o reforço do preconceito, pois o "medo americano" gira em torno do mulçumano o qual virou suspeito até que se prove o contrário. Enfim... são mtas questões mesmo... rsrs Adorei o texto! Katia

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