terça-feira, 19 de maio de 2015

Anonimato e liberdade


Quando resolvi me inscrever numa rede social tinha por principal objetvo a divulgação dos textos e postagens do meu blog. Aquilo que era então há quatro anos a razão da minha alegria precisava de divulgação necessária e para mim compartilhar meus pensamentos e porque não dizer, minha arte, era tão necessário quanto a própria produção em si. Afinal, escrever pra ninguém ler ou cantar pra ninguém ouvir não fazia sentido. O fato é que o Blog do Chico sempre teve uma razoável visitação. Nem sempre os visitantes deixam suas impressões, mas o fato é que o espaço ganhou vida própria e as estatísticas mostravam o seu alcance em quase todos os continentes do mundo. A exceção da África, os outros lugares do mundo marcavam pouco ou muito da visualização do blog.

O problema é que o nosso provincianismo exige mais que o mundo todo, exige o nosso quintal. Então porque não reunir nossa turminha em nosso perfil de rede social e dividir com ela nossas impressões sobre o mundo, sobre o homem e sobre nós mesmos.

Beleza. No início funcionou muito bem e a aceitação das postagens e a curiosidade de muitos sobre o que escrevia e dizia me animava e muito. Me descobri poeta também, depois de muito escrever quase sempre em forma de crônica. No final veio a descoberta ou redescoberta do eu compositor, que é o céu: música e poesia numa mesma obra de arte. Tudo como manda o figurino.

Mas, aquilo que achei que fosse uma rede social, ou pelo menos o que se mostrava, a princípio entre um bom número de amigos de gostos afins, passou por uma natural mudança, que o próprio movimento das ideias de uma coletividade cada vez mais impõe. Então, de uma hora pra outra percebi que estava perdido num emaranhado de ideias, tendências e opiniões, envolvido em debates que não escolhi, embora interessantes. Me vi em meio a muito mais gente e cada vez menos visto. Quando se quer muito pode-se não ter nada. Num grande ramo me vi como agulha num paleiro. A novidade que antes interessava a alguns amigos agora já não era tão original e por vezes me vi como o chato que precisava de auto afirmação através dos amigos do peito. 

Sem notar, também entrei num circuito de vaidades no qual a troca de intimidades, desejos e anseios de felicidade saltavam aos olhos de todos, enquanto notava o mesmo efeito nos outros pares.

Aquilo que foi a razão principal da minha entrada na rede, começou a dar sinais de desgastes para muitos e para mim também, obviamente. Demorei a dar o braço a torcer e admitir que aquilo não fazia mais sentido. Afinal, a rede é chata. As pessoas são chatas ali. E nós acabamos fazendo a nossa parte em toda essa chatice, sendo chatas com os outros.

Fui romântico o bastante achando que poderia continuar mostrando um mundo de poesia, música e alegria positiva para uma rede com a cara cada vez mais do mal. Não do mal da ferramenta em si, mas do mal que somos capazes de criar e de ser.

A rede acabou sendo pra mim um grande tapa na cara. Uma grande ficha caiu para mim ao perceber que a vida é crua. As pessoas são cruas. E nós acabamos por também exercermos essa crueldade que é não dar conta de tudo e de todos. É impossível o feedback total. Me convenci de vez que o artista nunca conseguirá ir atras de todo o seu público. A obra é nossa e do mundo uma vez que divulgada. Se houver retorno ótimo, se não, maravilha. O que importa é que esteja à disposição.

Depois de muito tempo me vi prisioneiro de uma mania. A mania de estar com todos os que eu elegi para estar. E mais, nem sempre conseguia e por isso me angustiava. Estabeleceu-se rapidamente a cultura da curtição instantânea, sem muitos critérios de verificação e análise de conteúdo. Você postava um vídeo de sete minutos e instantaneamente era curtido. A pessoa não poderia saber se ao final desse vídeo existiria uma agressão a sua pessoa. Não havia tempo. Mas, a confiança pela pessoa que postava era maior que o próprio conteúdo. Uma simples imagem familiar ganhava tons de verdadeira arte, ganhando rios de curtidas e comentários, enquanto um vídeo com uma composição de uma música sua passava em branco. Um texto postado pelo link do blog ficava esquecido ao relento frio da rede azulada, enquanto um trecho desse mesmo texto, postado no perfil, ganhava chuvas de impressões amáveis. É a ditadura do instantâneo. Abrir um link dói. Ler o que já está postado é mais fácil, ainda que seja um só trecho e não o texto todo.

De um lado o povo “intelectualizado e politizado” discutindo os rumos maniqueístas da atual conjuntura nacional, polarizados entre o bem e o mal. Do outro, uma turma do “não to nem aí pra tudo isso” e o melhor é dar bom dia com fé, beijos no coração e todo o tipo de correntes salvadoras desse nosso mundo tão confuso. E a gente caindo nessa armadilha, ora achando que sabe tudo de Brasil e do mundo e ora tentando fazer desse momento uma possível saída de paz e amor. 

Cansei! Pensei: como era antes? Como estava antes? Por que comecei tudo isso? Foi por causa do blog? Pois bem, continuo com o blog, tenho whatsapp, tenho meu canal no youtube, soundcloud, enfim... Estou na rede de qualquer modo. Porém, de um modo geral, vou seguir meu caminho independente desse feedback. Que este é muito bacana e importante, ah isso é. Mas, o que tiver de ser será. Rede social agora somente os amigos na minha sala de estar.