sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Pra se ter alegria: o disco ao vivo de Roberta Sá


É possível fazer várias abordagens sobre uma obra, ainda mais se ela for uma ótima obra como é o disco ao vivo de Roberta Sá. Pode-se falar da beleza do trabalho apontando a linda voz do artista, o apuro da gravação, a elaboração dos arranjos, a técnica dos músicos, a escolha do repertório etc. De certo modo, falarei um pouco disso, porém focando aquilo que mais me chamou a atenção que é a sonoridade que dá uma atmosfera especial ao trabalho. Aliás, essa tal de atmosfera sempre me prende mesmo, pois pra mim revela a intenção do autor.  
Em “Pra ser ter alegria” (disco gravado em abril de 2009, a partir do show (DVD) de mesmo nome), tem-se a forte impressão que a cantora presta uma homenagem à música dos anos 70, sobretudo ao samba. De cara, o disco abre com a música “Pedido”, de Junio Barreto e Jam da Silva, cujo arranjo lembra as raízes ibéricas as quais somos também herdeiros. No DVD essa abertura é bem marcante pela cena de palco que traz a cantora com um vestido carmim, movimentando apenas os braços. O efeito funcionou bem. A segunda música, “Alô Fevereiro”, de autoria de Sidney Miller, é um samba gostoso gravado anteriormente por Dóris Monteiro em 1972. Portanto dois clássicos: autor e cantora. Roberta começa bem a sua homenagem e sua deferência a um tempo. Lembro-me de ter escutado bastante esse samba nos anos 70 na voz da vascaína roxa, Dóris.
A sensação de estar ouvindo coisas que remetem àquele tempo e ao som do início daquela década continua na série de sambas de ritmos marcados como os típicos sambas de roda, gênero que os sambistas do final dos 60 e início dos 70 resgataram. Pode-se imaginar uma roda de samba, num terreiro e a marcação feita pela palma da mão, como eram caracterizados os sambas do início do século XX. Segue-se então a ótima “Interessa?”, de Carvalhinho e “Mais alguém”, da dupla Moreno Veloso e Quito Ribeiro. A primeira, de ritmo bem forte é muito boa e nos convida a dançar, enquanto a segunda, mais cadenciada, também chama atenção pela beleza. Esta última, por sinal, tocou bem nas rádios. Mais pra frente, encontramos a deliciosa “Ah, se eu vou”, de Lula Queiroga, “Girando na renda”, de seu “maior parceiro” Pedro Luís, Sergio Paes e Flávio Guimarães e “Laranjeira”, de Roque Ferreira. Todas, claramente, de fortes influências de um tempo que se quer homenagear. É difícil detalhar mais profundamente o que se deseja observar quanto a sonoridade, pois o próprio som revela melhor esse detalhe do que as palavras. As composições são bastante semelhantes às que se faziam naquela época. Mesmo a impostação de voz e a postura de Roberta (que embora seja bem jovem, canta como uma diva do samba) revelam seu gosto e sua admiração por sambas desse tipo.
Outro samba que lembra bem os clássicos é “Agora sim”, de autoria da própria cantora com Pedro Luís e Carlos Rennó. Um sambão pra lá de bom, como os sambas dos grupos de velha-guarda. O disco ainda traz outras ótimas músicas, entre as quais “Pelas tabelas” (esta dos anos 80) de Chico Buarque, outro craque já citado outras vezes neste blog.
Pra fechar com chave-de-ouro, outra composição do seu “maior parceiro” e porque não dizer, marido, Pedro Luís (da Parede e do Monobloco): “No braseiro”. Esta música foi a que mais me chamou a atenção quanto as referências nela contidas e percebidas. A primeira referência remete ao samba “De frente pro crime”, da dupla João Bosco e Aldir Blanc. Na música, a frase “Tão vendendo ingresso pra ver nêgo morrer no osso/ Vou fechar a janela pra ver se não ouço as mazelas dos outros” lembra ou quase explica a história da música de Bosco e Blanc que diz “Olhei o corpo no chão e fechei minha janela de frente pro crime”. A ideia de vender ingresso pra ver as desgraças é uma ideia contida na música da dupla também. Nela, os autores mencionam a prática popular bem típica do povo que é a de tirar proveito das aglomerações. Diante de todos que se juntam para ver o corpo morto, chegam camelô vendendo anel, cordão e outras coisas mais; baianas vendendo pastéis, sem contar políticos que se aproveitam para discursarem. Em "No braseiro", até na parte declamada, a cantora homenageia vários artistas, citando músicas dos anos 70, como "Disritmia" de Martinho da Vila, "Questão de posse" de Luiz Melodia, "Tatuagem" de Chico Buarque  entre outros. Exceto "Irene", de Caettano Veloso e "Na cadência do samba", de Ataulfo Alves e Paulo Gesta da década anterior, todas as outras menções são dos anos 70.

A música ainda fecha com uma outra coincidência, que acredito seja outra homenagem, o vocalize final “ÔOOOÓ ÔÓOOOOO” lembra muito o mesmo vocalize de Clara Nunes no final do “Canto das três raças”. O mesmo canto em tom menor, típico dos cantos de lamento. Com mesma divisão e semelhante construção. Conhecendo a admiração da menina pela musa "Guerreira", é bem capaz de ser verdade.
Essas observações, longe de menosprezar o trabalho, dão o caráter de homenagem a um tempo importante e a uma sonoridade que ao passo que é histórica, permanece atual. O disco é muito bom e muito bem feito. Roberta Sá tem uma voz potente e bela. Sua presença de palco também é bastante interessante para o seu pouco tempo de estrada.
É o novo olhando para trás e repaginando com muita competência o samba tradicional, modernizando um estilo que não envelhece nunca.

No braseiro


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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Hoje não!


Hoje não vou querer fazer nada mais
Quero chegar em casa
beijar meus amores
retirar minhas roupas
todas, por dentro e por fora
me ver nu
me reconhecer e saber se sou eu mesmo – porque às vezes me esqueço no trabalho...
colocar aquela camisa furada, que é quase minha pele...
beber um copo d’água pura
calçar meus chinelos...
e não pensar em nada, nada, nada mais...


                                                                              Por Nelson Marques


Visite o blog "Poetas bissextos" de Nelson Marques: http://poetasbissextos.blogspot.com/

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sábado, 6 de agosto de 2011

Reflexões pós-modernas

Interligar-se ou desligar-se? Eis a questão!

                                                                                   Por Katia Silva         


O mundo atualmente vive uma explosão de novas tecnologias de informação e comunicação. A todo o momento temos a divulgação de novos aparelhos, novos instrumentos e novos formatos de distribuição da informação que supera a todas as outras antes utilizadas. Estamos conectados virtualmente a lugares e pessoas diversas. Para a geração que nasceu com essas novas tecnologias e vive essas constantes mudanças há uma naturalidade nessas novidades, quando que para gerações anteriores, parecem que as mudanças estão cada vez mais velozes, mal dando para se acostumar e adaptar com determinadas tecnologias, parece que automaticamente já temos outras, a seguir, as ultrapassando.

As redes sociais têm sido a grande base de comunicação entre as pessoas. Entre si elas já mostram suplantações e atualizações constantes, a fim de continuar ativas entre a sociedade virtual, que se mantém em contato com várias pessoas, acompanhando suas vidas e trocando informações num tempo e disponibilidades impossíveis se fossem de forma física, pessoalmente. Logo, o contato físico tem diminuído, transformando assim os relacionamentos pessoais e também profissionais frente à vida. São outros tipos de relacionamentos, formas distintas de contato e de acesso às informações.

A televisão e o rádio foram muitas vezes divinizados pelo alcance das informações, mas também execrados pelo seu poder manipulador, de certa maneira, na vida das pessoas e padronização. A internet, ao contrário, nos possibilita um acesso à informação de modo seletivo. Escolhemos o que queremos saber, seja pelos sites informativos e jornalísticos, seja pelos sites de busca que nos levam ao foco do que procuramos.

São novidades onde a adaptação se mostra importante para a sobrevivência nesse mundo globalizado e interligado virtualmente. No entanto, também devemos criticar essa mesma sociedade online quanto à perda de habilidades que estão desaparecendo. A diminuição do contato físico e a facilidade do encontro de informações estão transformando nossa maneira de viver o mundo e de estar nele. Corremos o risco de nos tornarmos mais duros, insensíveis frente ao outro, aumentando o egoísmo e a invisibilidade do outro em nossas vidas e desejos. A falta de paciência parece estar cada vez mais comum entre as pessoas. Temos lidado com outro de forma a atender nosso íntimo, onde as pessoas estão quase que sendo objetos para a finalização que somos nós apenas. O espetáculo tecnológico tem modificado nossas estruturas de viver socialmente, portanto, se mostra urgente prestarmos atenção para não sermos mais uma das peças desse mecanismo maquinário da vida, em seu formato tecnológico. Somos humanos e essa essência não pode ser esquecida, frente ao mundo do sistema, que tem virado quase que um ser entre nós.

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Resolvi postar e compartilhar com meu leitores esta reflexão que é bem a minha preocupação também sobre os tempos atuais os quais estamos vivendo. Esse texto se encontra originalmente postado em: http://palavrasquebrotam-katia.blogspot.com/2011/05/interliga-se-ou-desligar-se-eis-questao.html (blog da autora)

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terça-feira, 2 de agosto de 2011

O amor segundo Rosa

"(...) Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido:
sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão,
o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja,
e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado,
maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal,
carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas.
Amor desse, cresce primeiro; brota é depois. (...)"


In: ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 139.



No vídeo, Jonathans narra o reencontro de Riobaldo e Diadorim,
quando fala do amor, citado acima:


 
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