sábado, 30 de abril de 2011

Triângulo amoroso – uma alegoria antiga de carnaval


Dizem que num carnaval distante, lá pelos lados da Grécia antiga, três amigos queridos resolveram cair na folia. Hipotenusa e catetos, ligados desde sua criação por antigo filósofo matemático, largaram mão do triângulo quadrado que formavam e saíram a cantar e a dançar, alegres e saltitantes em busca de novas sensações.
Os catetos (apaixonados que eram pela musa) resolveram lutar, cada qual, pelo amor impossível. Ambos, de características distintas (um era tímido e romântico, o outro, malandro e esperto), viam na indecisão da amada um grande desafio a vencer. Hipotenusa não sabia qual escolher. Acostumada aos dois, sempre ligados, cada qual por uma das mãos, só pensava em brincar a festa.
A paixão - ainda não platônica, pois eram tempos mais antigos - logo se mostrou impossível. Como poderiam abrir mão da missão que lhes foi confiada? Em pouco tempo, um grande alvoroço por parte dos cidadãos revelou o escândalo que ganhou mundo. Depois de tanto tentarem, perceberam que o destino os uniu num triângulo retângulo amoroso, sem o qual a trigonometria não seria possível. O meio científico, desde então, disposto a poupá-los da vergonha romântica, definiu-os, elevando-os ao quadrado, por c² = a²+b². A bela seria, então, igual à soma dos dois pretendentes.

Contam que séculos mais tarde, no início da era moderna, foram vistos nos bailes carnavalescos da commedia dell’arte tentando novamente uma definição para aquele imbróglio. Para fugirem dos olhares críticos da sociedade, esconderam-se por trás de máscaras, sob os pseudônimos Colombina, Arlequim e Pierrot.
Assim, são vistos até hoje nos dias de Momo!


Por Assis Furriel


Inspirado no poema de Eliana Pichinine:

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Quero os chinelos

Quero os chinelos
Sim! Quero o justo descanso dos que laboram

Quero o verão, a praia, o sol e o calor
As cores ou o gris do preto e do branco

Quero o andar quase descalço dos chinelos
A borracha, o couro ou a palha de que são feitos

Quero o coração de Cecília: a chinela do Machado*, o sonho salvando a realidade
Quero a literatura numa rede com eles nos pés

A não preocupação com saltos
Sem pedras ou buracos

Quero o chinelinho** dos atletas preguiçosos
O não querer, o ócio, a vadiagem em sua companhia

Quero o conforto, a elegância que outrora fora vergonha
Coisa de pobre na favela, coisa de bacana na noite!

                                                                                
                                                                              16/04/11


*   Do conto “A chinela turca” de Machado de Assis.
**  Jargão futebolístico: refere-se aos jogadores que ficam muito tempo no departamento médico, de molho, sem usarem as chuteiras por estarem contundidos.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O trânsito com João Donato

Quem é quem, 1973


        Um dos clássicos álbuns da música popular brasileira e fundamental para o entendimento dessa grandeza que é a música nacional. Esse disco de João Donato apresenta algumas das composições mais marcantes de  sua carreira, como Amazonas, A rãAhiê, Até quem sabe? e Mentiras, além de outras belíssimas assinadas com outros importantes compositores. "Quem é quem" junto com "Coisas tão simples" de 1996 são meus favoritos. João Donato toca desde bem mocinho. Parte de sua história é contada no livro de Ruy Castro, "Chega de Saudade - a história e as histórias da Bossa Nova". Começou com o acordeon e com quinze anos já se apresentava no "Sinatra-Farney", fã clube dos dois grandes cantores da época, Frank Sinatra e Dick Farney. A história é riquíssima e cheia de detalhes maravilhosos. Donato é um mestre da música brasileira, respeitadíssimo no meio musical daqui e do estrangeiro. No entanto, ao tocar, temos a impressão de estar ouvindo e vendo um menino farreando. Com muita competência e qualidade, mas um menino divertindo-se. Ele é isso: pura diversão! 



João Donato / Quem É Quem (1973) EMI/Odeon

1 Chorou, Chorou – João Donato – (Paulo César Pinheiro & João Donato)
2 Terremoto – João Donato – (Paulo César Pinheiro & João Donato)
3 Amazonas (Keep Talking) – João Donato – (João Donato)
4 Fim De Sonho – João Donato – (João Carlos Pádua & João Donato)
5 A Rã – João Donato – (João Donato)
6 Ahiê – João Donato – (Paulo César Pinheiro & João Donato)
7 Cala Boca Menino – João Donato – (Dorival Caymmi)
8 Nãna Das Águas – João Donato – (Geraldo Carneiro & João Donato)
9 Me Deixa – João Donato – (Geraldo Carneiro & João Donato)
10 Até Quem Sabe? – João Donato – (Lysias Ênio & João Donato)
11 Mentiras – João Donato & Nana Caymmi – (João Donato & Lysias Ênio)
12 Cadê Jodel? – João Donato – (Marcos Valle & João Donato)


Ouça Amazonas


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Desejos

Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.



De autoria desconhecida.
Apesar de difundida na internet como sendo de Drummond,
desconheço a fonte.
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sábado, 2 de abril de 2011

Pensamento e Palavra


O texto é o selo da imaginação
A palavra é a marca do texto

O pensamento é espírito
A palavra, carne

O pensamento é solitário
A palavra, solidária

O pensamento é idéia
A palavra, expressão

No pensamento a gente voa
Na palavra, aterrissa

A palavra é o aeroporto do pensamento!


por Assis Furriel


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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Drummond



O mundo é grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.