quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Redações do João

Meus valores

            A maioria das pessoas agem de forma diferente para serem populares. Meus valores aparecem no texto acima. Mas, eu não estou falando que sou desse jeito para ser impressionante: sou descontraído e bem humorado. Faço bons amigos, mas outros me acham chato. Sou paquerador pra caramba, gosto de garotas, mas nunca fiquei com uma, pois sou tímido. Já gostei de umas 22 garotas. Eu sou esquisito porque eu sou agitado, tenho sangue de café. Gosto de cachorros e aranhas. Gosto de vídeo-game, skate, programas de TV do C.S.I.; gosto do Discovery Channel, da Fox, do FX, do Scy Fy, do Disney XD, da Nickelondeon etc.
            Eu sou assim. Tenho um pai legal (super legal), minha mãe é carinhosa e às vezes se estressa, minha avó é simpática, meu melhor amigo é o Daniel, gosto da Carol... Ops! Escapou. É isso. Valeu!   
    


A troca

            No dia seguinte começaram a acontecer coisas estranhas. No colégio, João chegou com uma novidade:
            _ O professor de ciências disse que amanhã vai ter teste surpresa!
Os amigos ficaram preocupados e confusos. Na hora do recreio, o Daniel disse:
            _ Aí, ô! Eu sou o cara mais medroso da escola.
Foi muito estranho, porque o Daniel sempre disse que era o mais homem macho da escola. Todas as crianças da escola falavam a verdade sempre. O Cadu revelou que era todo mandão porque queria atenção das garotas. O João disse que fazia palhaçada porque... é ... ele não sabia porque, mas a escola mudou. Os professores mudaram. Até o nome da escola mudou. De Instituto Guanabara virou: A Verdade.
            A Carol disse pro João que gostava dele e ele ficou muito feliz. Um dia, Gabriel perguntou ao Leonardo:
            _ Quanto você tirou nos testes?
            _ Zero e um.
            _ O quê? Pensei que você era inteligente.
            _ Não sou. Não gosto de estudar.
            E a palavra pulou da garganta de Leonardo:
            _ Adoro brócolis.
            Aquela era a hora perfeita pro mundo explodir.
            _ O quê?!!! Eu também!
            João sempre disse que odiava brócolis, mas ele confessou que nunca comeu.


            Por João Pedro Furriel

Em 03/11/2010


Textos produzidos a partir de propostas de temas para exercícios em sala de aula.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Disco bom

 Nascente  Flavio Venturini
1. Princesa
2. Pensando Em Você
3. Jardim Das Delícias
4. Fascinação
5. Qualquer Coisa A Haver Com O Paraíso 
6. Noites De Junho
7. Espanhola
8. Chama No Coração
9. Teu Olhar, Meus Olhos
10. Alice
11. Fantasia Barroca
12. Nascente

          
       Este disco de 1982 marcou o início da carreira solo do artista, cuja grande característica é a  sensibilidade. A poesia é outra forte referência desse trabalho, que se repetiria em toda a sua obra.
       Repleta de canções suaves, letras inspiradas e um certo clima que remete ao new age (muito em função de sua veia progressiva), é um dos melhores de sua carreira.  O disco traz as importantes  Espanhola, parceria de Guarabyra, Princesa com Ronaldo Bastos e Nascente com seu principal parceiro Murilo Antunes. Traz ainda as instrumentais  Jardim das delícias e Fantasia barroca (somente de sua autoria) e Qualquer coisa haver com o paraíso com Milton Nascimento.
       Gravado em muitos corações apaixonados, deixou saudades como na romântica Pensando em você.


Pensando em você
(Flávio Venturini e Kimura)

Meu amor, minha flor
Eu preciso estar perto de você
A todo momento
Eu já não aguento mais
Essa solidão, esse tormento
Mas no fundo, bem fundo
A saída é um poço de águas claras
Onde brilham meus olhos a procura dos seus

                                                                 
Pensando em você



segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A poesia de Adélia Prado II





Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.


Impressionista

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.


Amor feinho

Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.


Explicação de poesia sem ninguém pedir

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.


Dona Doida

Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove



Todas as posias do livro "Bagagem" de 1976



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Coisas tão simples

Este é o mais recente disco que tem me ajudado a enfrentar o trânsito sem sentir. É possível eu ir dormir, pensando em dirigir para o trabalho no dia seguinte só para voltar à sua audição. Esse cara é um dos pilares da música moderna brasileira e de altíssimo gosto. Um exemplo é a música a seguir:


Café com Pão (Jodel) João Donato e Lysias Ênio

Coisas tão simples de nós dois
Pão com manteiga no café
Coisa com coisa que somou
Mais...
Coisas tão poucas, tão banais
Coisas com coisas tão iguais
Coisas que homem e mulher faz
Coisas de quem sabe o que quer
Somos assim, tão naturais
Como o amor dos animais
É...
Coisa que a gente nem deu nome
E de manhã, aquela fome
O nosso cheiro nos lençóis
Nós...


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Boas lembranças


A chuva molhou as lembranças, há muito, secas
Da mudança de tempo, o que mais gosto é do cheiro
Cheiro de terra molhada, de pingos no telhado, de roça
Da imagem, o que vem são os barquinhos de papel

Navegando até virarem a esquina do beco
Do som, a voz da mãe: _menino entra pra dentro!
Chover é bom, mas o medo são os raios
Eu sempre gostei do lá fora, da rua, das fugas... 
_Mãeee, já volto!
Do cordel de lembranças, as boas eu encharco.
As más, eu passo a ferro e guardo

Assis Furriel

Inspirado no poema “Varal” de Eliana Pichinine e em Adélia Prado.
Link para o poema Varal

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O Moderno Noel Rosa


Considerado por muitos um fenômeno por seu legado, é fácil compreender essa magnitude. Sua obra conta 259 composições em vinte e seis anos de vida e sete de atividade musical. Moderno, espirituoso e com um grande senso de humor, compôs e cantou a alegria, a dor, o cotidiano urbano, as paixões, as traições, as agruras do amor em sambas, marchas e outros ritmos. Segundo Jairo Severiano (pesquisador da música popular brasileira), Noel foi “o primeiro artista que logo se projetaria como compositor e letrista, renovador de nossa lírica e cujos versos permaneceriam como exemplo de poesia popular”.

Noel Rosa era um artista de vanguarda e compôs temas que traduziam as tensões geradas pela modernidade, como no samba Não tem tradução, no qual fala da influência da língua estrangeira no morro com a chegada do cinema falado: “(...) Essa gente hoje em dia/ que tem a mania da exibição/ Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês/ Tudo aquilo que o malandro pronuncia/ Com voz macia é brasileiro/ já passou de português/ Amor lá no morro é amor pra chuchu/ As rimas do samba não são I love you/ E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny/ Só pode ser conversa de telefone”. Às vezes, unia numa mesma música referências dos mundos do morro e da elite, revelando as possíveis relações entre diferentes camadas sociais, como no samba Cem mil réis (Noel e Vadico): “Você me pediu cem mil réis/ Pra comprar um soirée e um tamborim/ O organdi anda barato pra cachorro/ E um gato lá no morro/ Não é tão caro assim/ Não custa nada/ Preencher formalidade/ Tamborim pra batucada/ Soirée pra sociedade (...)”.

Noel compôs com quase todos os bambas do seu tempo, entre eles Ismael Silva, Cartola, Orestes Barbosa, Kid Pepe, André Filho, Ary Barroso, Hervê Cordovil, Heitor dos Prazeres, João Mina, João de Barro e Lamartine Babo. Entre seus muitos intérpretes, destacam-se Marília Batista e Araci de Almeida.

De todos os parceiros, o que marcou mais a sua carreira foi Osvaldo Gogliano, o Vadico. Músico de esmerada educação musical, vindo de São Paulo, estava iniciando carreira profissional no Rio, quando conheceu Noel no final de 1932. A primeira parceria rendeu, talvez o maior clássico, Feitio de oração: “Quem acha/ Vive se perdendo/ Por isso agora/ Vou me defendendo/ (...) Batuque é um privilégio/ Ninguém aprende samba no colégio/ (...) O samba na realidade/ Não vem do morro/ nem lá da cidade/ E quem suportar uma paixão/ Sentirá que o samba então/ Nasce no coração”.

Noel de Medeiros Rosa viveu apenas 26 anos. Nasceu em 11 dezembro de 1910 e morreu em 4 maio de 1937. Parece viver até hoje, por sua obra marcante e contemporânea.



Alguns links para curtir o poeta:

Com que roupa? - Noel canta
Gago apaixonado - Noel canta
Palpite infeliz - Com João Gilberto

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ivan Lins & The Metropole Orchestra

        No momento, é o disco que tenho ouvido no carro. Neste trabalho, Ivan Lins apresenta versões sinfônicas para canções como “A Gente Merece Ser Feliz”, “Começar de Novo”, “Lua Soberana”, "Ai, Ai, Ai, Ai, Ai" entre outras. Fica aqui a sugestão para  a versão de "Arlequim Desconhecido", que para mim é a melhor.





sábado, 6 de novembro de 2010

Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina


 Falar da beleza desse livro e do autor maravilhoso que é o Marcio Borges é falar também de um tempo e de algumas vivências que experimentei à época da minha leitura do livro. Era o ano de 1997 e eu estava com toda a sonoridade do disco Nascimento (até então, o mais recente trabalho do Milton), que pra mim era uma espécie de retomada do espírito de seus discos dos anos 70. Além disso, tinha acabado de voltar de uma viagem que fiz com minha esposa Rita e um casal de amigos às cidades históricas mineiras. Estava encharcado de todas aquelas impressões barrocas e também da capital Belô, na qual havia estado um pouco antes numa visita que Rita e Eu fizemos a um amigo nosso, neste mesmo ano. De modo que, estava pronto para embarcar nos sonhos que não envelhecem.

O livro “Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina”, cujo título remete a uma frase da música Clube da Esquina n°2: "Porque se chamavam homens/ Também se chamavam sonhos/ E sonhos não envelhecem" (de Lô Borges, Marcio Borges e Milton Nascimento), é uma sucessão de memórias do autor, que narra em primeira pessoa e que se revela na grande personagem da história, embora toda a narrativa gire em torno da figura central de Milton Nascimento. O livro conta a história do importante movimento musical mineiro chamado “Clube da Esquina”, revelado para o grande público a partir do disco “Clube da Esquina” de 72, no qual Milton Nascimento divide a autoria com o jovem Lô Borges (irmão de Marcio) e que tem a participação de uma galera enorme, bem ao estilo gregário dos anos 70. Ali apareceram não somente Lô, como Beto Guedes, Toninho Horta entre outros músicos maravilhosos.

A meu ver, a grande e agradável surpresa do livro foi descobrir essa pessoa linda e sensível que é o Marcio Borges. Não é a toa que é ele um dos principais poetas do Clube. Mais que uma história de artistas geniais vivida no auge de sua criatividade, o livro é uma declaração de amor do autor a um amigo muito querido. Um amor fraterno de um menino sensível, que descobre a vida ao mesmo tempo em que descobre a amizade sincera. É um encanto descobrir essa relação à medida que a leitura avança, como quando da criação da parceria (anterior ao próprio Brant) influenciados pelas várias sessões seguidas de Jules et Jim, de François Truffaut, que Marcio apresenta ao amigo. Ficaram tão inspirados com o clássico que saíram dali direto para o “quarto dos homens” da casa de D. Maricota e Seu Salomão (pais dos Borges) e começaram a compor aos borbotões. São desse momento canções como Paz do amor que vem (Novena), Gira-Girou e Crença, tudo como diz o próprio autor “sempre acabando devidamente comemorado por nós dois com muita batida de limão no Bigodoaldo’s”. Esses eventos etílicos, inclusive, acabaram narrados em “Viola, violar”, composição da dupla em “Milagre dos peixes”, gravado ao vivo em 1974: “Violar vinte fracassos de mudar de tom/ Vinte morenas para desejar/ Vinte batidas de limão”.

A intenção desse prefácio é a de observar essa atmosfera criada pelo autor a partir do seu talento muito influenciado pelo cinema. Acredito que sua experiência com o filme do Truffaut, ainda muito jovem, o fez quedar para uma narrativa mais cinematográfica. Tem-se a impressão de estar vendo um filme. Um filme tão emocionante quanto aquele que o inspirou.

No final do livro, no seu posfácio escrito pelo próprio Bituca, este conta que numa passagem por Nova York, foi levado de surpresa por um amigo ao encontro da atriz Jeanne Moreau, a sua musa de Jules at Jim. Milton conta que tremeu diante da já senhora atriz. Depois de ouvir a história do músico, a atriz lhe disse: “Como é bela a arte, Milton. Trabalhamos numa coisa aqui e vamos tocar a alma de quem nem sabemos e nem onde. Ontem fui eu, Truffaut e agora é você. Que lindo e que responsabilidade”.

Emocionei-me muito nesta passagem como em muitas outras, e sempre que quero me sensibilizar, retorno ao livro que já li várias vezes. Assim que terminar umas leituras obrigatórias, lerei novamente para que os meus sonhos continuem vivos e jovens.
           
Clube da Esquina nº2
(Milton Nascimento, Lô Borges e Marcio Borges)




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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A poesia de Adélia Prado

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
(dor não é amargura).
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Do Livro "Bagagem" de 1976, inspirado em "Poema de sete faces", de Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 1 de novembro de 2010